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A água fria do chuveiro batia contra suas costas nuas, mas nem mesmo toda a água do mundo poderia fazê-la se sentir melhor; enquanto o líquido filtrado ia para o ralo rapidamente, suas lágrimas salgadas e carregadas de dor e angústia deslizavam por suas bochechas lentamente, mal manchado-às enquanto a água do chuveiro lavava-as.
Um suspiro e um fungo alto saiu de seus lábios; tentava parar a todo o momento de chorar, de sentir, de fazer a dor sumir ou evaporar junto ao vapor da água quente, mas nada faria cessar. E saber disso nunca pareceu tão agonizante como naquele momento.
Um grito quis sair por seus lábios, mas ele parecia preso, assim como seus sentimentos naquele momento. E senti-lo encadeado doeu, assim como se sentir incapaz de fazer a dor parar.
Você odiava chorar, pois se achava fraca; a cada lágrima derramada, parecia uma prova de que você não era feita de ferro como tanto fazia parecer para os outros.
A cada novo soluço, uma nova dor rasgava-lhe o peito, e mais um grito se prendia na garganta.
Todas as suas paredes haviam caído naquele momento, e você odiou isso; mas afinal, quem gostava de se sentir fraco? Exposto?
Como se tudo que criou por anos fosse partido em minutos?
Entretanto, seus pensamentos negativos pareceram sumir por breves segundos quando você sentiu um par de braços te abraçarem por trás; a camada de roupas molhadas lhe daria agonia em outro momento, mas isso era irrelevante agora.
— Pare com isso — a voz baixa de Kid se fez presente, e isso lhe surpreendeu; ele não ia trabalhar até mais tarde?
Mesmo assim, você tentou parecer forte:
— Kid, por favor... — mas sua voz saiu quebrada, baixa, e obviamente cansada. Estava rouca, e notar isso o preocupou.
Ao contrário do sermão ou palavrões que esperava do ruivo, você recebeu alguns beijos na região do pescoço e nas bochechas; não havia malícia na ação, apenas carinho e atenção, algo que você amou no momento, e até fez suas lágrimas diminuírem a intensidade momentaneamente.
Com o silêncio, você notou que as roupas do homem estavam molhadas, e que o chuveiro ainda estava ligado, mas não sentia mais a força de antes. Provavelmente, o corpo do Eustass estava barrando a água alheia de continuar molhando sua pele, que mais parecia uma casca vazia naquele momento.
Ao sentir os braços masculinos te apertarem um pouco mais forte ao redor da sua cintura, e os beijos carinhosos diminuírem de velocidade, mas aumentarem o sentimento indiretamente, suas lágrimas voltaram a cair com as próximas palavras dele:
— Vamos sair, eu vou te secar, e nós vamos conversar sobre o seu dia...
— Eu não quero falar sobre meu dia, Kid.
Era verdade; conversar sobre o quão merda havia sido o dia desde o momento em que o sol nasceu não era algo que você queria fazer — no máximo sofrer em silêncio como estava fazendo antes de o ruivo aparecer.
O aperto aumentou, e os beijos pararam, mas você sabia que ele não estava zangado, apenas pensando nas próximas palavras com cuidado.
Após uns segundos, as palavras do ruivo saíram tão carinhosas, que você pode jurar estar delirando:
— Tudo bem, não precisamos falar disso — Kid apoiou o queixo na curva do seu pescoço, e a respiração alheia lhe deu calafrios. — Mas vamos sair, ok? Você pode ficar doente se continuar aqui por mais tempo.
Fechando os olhos com força, você pensou em como também não queria sair dali; não sentia vontade de fazer nada além de chorar o dia inteiro, mas com Eustass em casa isso não seria possível.
A presença dele sempre ajudava nos dias difíceis, especificamente quando o ruivo estava mostrando o lado carinhoso e afetivo dele — que era raro por si só.
Suspirando profundamente, você moveu a cabeça levemente para cima e para baixo, concordando em sair dali antes que pegasse um resfriado.
Com sua confirmação silenciosa, Kid rapidamente te ajudou a levantar, pois tinha certeza de que você não conseguiria fazê-lo por si só.
Desligando o chuveiro, Eustass logo tratou de rodeá-la com uma toalha, murmurando o quanto você era descuidada além do natural por conta do hábito; as palavras automáticas do ruivo te fazendo sorrir de canto enquanto ele passava a toalha por seu corpo de forma calma e leve, algo que você apreciou em silêncio.
E quando vocês estavam saindo do banheiro, você lembrou o ruivo de que ele estava com as roupas molhadas, e que se ele não tomasse um banho, seria ele a ficar doente.
Incrivelmente, Kid te ignorou facilmente, e só falou sobre ir se lavar quando você já estava devidamente vestida e deitada na cama, pronta para dormir.
Mas antes que o ruivo se afastasse de você, uma de suas mãos segurou a barra da camisa molhada dele.
Virando-se para te olhar, o ruivo questionou:
— O que foi, baixinha?
Com um pequeno sorriso enfeitando seus lábios um pouco machucados pelo tanto que havia mordido os mesmos hoje com a crise de ansiedade de mais cedo, você murmurou agradecida:
— Obrigada, Kid. — Com a cabeça apoiada no travesseiro, você pode ver um vislumbre do que seria um Eustass corado.