Chapter 1: Capítulo 1
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Capítulo 1
Quando o sol já pendia no quase no alto da cidade sobre os telhados de madeira, duas freiras deixaram o silêncio do convento para a rua ensolarada e movimentada. Os sinos da igreja ecoavam quando uma das irmãs ajeitou o véu sob os cabelos e uma bolsa de algodão sobre os ombros. A outra irmã trazia nos braços uma cesta de vime para as frutas e legumes que trariam da feira.
- Vamos rápido, ou não dará tempo de encontrá-lo antes do almoço. – disse a irmã Kaori.
Rin sorriu. Sabia que a irmã Kaori adorava os contos fantásticos que o velho contador de histórias narrava na praça, sempre cercado de crianças e curiosos como elas. Era raro que tivessem que sair do convento, e ainda mais raro que o mundo lá fora parecesse tão vivo e atrativo.
Poucos passos depois do convento as duas notaram que não era um dia normal na cidade. A frente, à praça central estava muito mais cheia que o normal. Haviam bandeiras e estandartes estendidos com símbolos do exército, sinal que algo estava acontecendo. Dois homens passaram pelas irmãs e a companheira de Rin ousou perguntar.
- Bom dia cavalheiros. Poderiam nos dizer o que está acontecendo?
- Bom dia irmãs e sua benção. – os homens fizeram o final da cruz – O exército está voltando vitorioso de uma batalha de três meses contra os monstros no reino do fogo. Boa parte da cidade está reunida para recebê-los na praça.
Os homens seguiram seu caminho assim como as irmãs seguiram também. Era inevitável que passassem pela praça, sendo assim teriam que atravessar aquela multidão.
- Vamos contornar pela esquerda, parece mais vazio que tentar atravessar pelo meio. - disse Rin.
Quando pisaram na praça elas perceberam que o exército havia acabado de entrar também. Havia música, brados, gritos, aplausos e muita comemoração de todo lado. Os guerreiros caminhavam orgulhosos sendo banhados de alegria pelo povo. Elas não tiveram como não parar pra ver também. Mas enquanto Rin observava a multidão começou a perceber que havia algo errado com ela. Um calor subia pelas faces, um tremor nas mãos, logo estava suando bastante. Uma fraqueza atingiu suas pernas e ela se sentiu vacilar a ponto de quase cair ali.
- Algo está errado comigo. - disse a sua companheira.
- Deve ser a multidão. - respondeu a outra - Vamos sair daqui. - disse puxando Rin pelo braço.
Mas ela não conseguia se mover, as pernas vacilaram outra vez e ela percebeu uma ardência no pulso esquerdo. Puxando a manga do hábito pode ver algo se formando ali, a pele estava vermelha e queimava devagar escurecendo aos poucos, era como ver uma pequena tatuagem se formar feita por algo invisível. Rin gritou.
- Santo Deus! - exclamou a companheira. - Ajuda. Alguém ajuda aqui por favor.
A cabeça de Rin girava, seu corpo vibrava como se procurasse algo e quando ela sentiu que o mundo ia escurecer. Um braço forte a agarrou, os olhos brilhando de confusão como os dela. Ficaram se encarando durante alguns segundos.
- Abram espaço agora! - alguém gritou - Ela não está se sentindo bem.
Logo aqueles braços fortes a retiraram do chão e marchou para um estabelecimento próximo.
- Diga que a comemoração continue. - ele disse a um dos homens que o seguia. Lá fora a música continuou.
Seus olhos continuaram confusos olhando para Rin que olhava de volta, de repente ela gritou novamente apertando o braço e olhando para a marca que continuava a escurecer mais rápido agora e ficando mais forte como que quase concluída. Era a figura de uma lua crescente. Rin olhou novamente para o homem a sua frente e lá estava a mesma lua desenhada em sua testa, idêntica à agora marcada em seu braço.
- O que está acontecendo? - ela conseguiu balbuciar finalmente com a voz rouca. Era como se uma parte da sua energia estivesse sido sugada.
O homem nada respondeu, mas continuava a olhando intensamente do rosto para o braço como se analisasse a situação. Então ela tentou se colocar de pé procurando a irmã que a acompanhava.
- Fique sentada aí. - finalmente ele disse com uma voz forte que a fez estremecer.
Rin sentiu que lhe tocava o pulso analisando a marca recém feita.
- É uma marca de parceria? - disse alguém próximo com um olhar de curiosidade, ao olhá-lo Rin percebeu que se parecia muito com o homem a sua frente - Você está sentindo? - perguntou ele a aquele que a segurava.
- Estou. É algo vibrante que me atrai a ela sem parar. - o homem respondeu olhando novamente da marca para mim. - Como você se chama?
Rin não respondeu.
- Parceria? O que quer dizer com isso? - perguntei ainda zonza - Olha eu só quero sair daqui logo. Eu preciso ir.
- Uau. - exclamou o outro - Nunca achei que isso fosse algo real. É extremamente raro e não ouvimos falar nisso em anos. - ele parecia muito surpreso.
Houve um burburinho ao nosso redor, as pessoas murmuravam surpresas. Irmã Kaori também parecia incrédula. Rin olhou para ela com os olhos suplicando por ajuda e outra pareceu sair de um transe.
- Certo, certo. - disse se agachando ao lado do homem - Veja nós somos apenas freiras do convento, sabe que não pode nos segurar aqui. Está uma agonia lá fora e agora aqui também e ela não está se sentindo bem. Ou nos deixa ir ou venha conosco. - sua voz soou firme.
O homem a olhou como se fosse atacá-la a qualquer momento.
- Nós iremos com vocês. - respondeu o outro rapidamente - Iremos ao convento com vocês. Consegue ficar de pé agora? - ele perguntou. Mas antes que eu pudesse responder o primeiro agarrou a jovem freira novamente suspendendo-me em seus braços e ela gritou com o susto.
- Não tenha medo. - lhe disse - Eu jamais machucaria você por várias razões. - disse caminhando para os fundos do estabelecimento - Tragam-me meu cavalo agora!
- Eu-eu posso andar. - finalmente consegui dizer mas sua cabeça latejava, ficar tão próximo a ele só piorava as coisas - Ponha-me no chão por favor. Eu posso andar. Não posso é ficar tão perto de você. Sinto minhas forças sendo sugadas quando me toca. Algo não está certo.
- É o chamado do laço para se encaixar. - ele me disse, mas antes que eu pudesse perguntar o que ele quis dizer um cavalo branco como a neve surgiu na nossa frente, onde ele a colocou rapidamente e montou, tudo em questão de segundos.
Rin estava em pânico, além de todo mal estar, tudo estava acontecendo rápido demais. Um momento estava indo às compras e no outro estava passando mal em cima de um cavalo, com um desconhecido e uma tatuagem no braço. Deus abrandasse a raiva da madre superiora quando ficasse sabendo de tudo isso.
- Espere! Deixe-me ir a pé! Onde está a irmã Kaori? - Rin tentou descer, mas o homem a segurou com força.
- Não se preocupe. - disse o outro homem - Vou acompanha-la a pé até lá. A irmã Kaori ao seu lado engoliu a seco e concordou com a cabeça.
- Eu nunca andei a cavalo. – gemeu a moça ao homem que não se importou e saiu trotando lentamente pela praça.
O cortejo da vitória já havia passado para outra parte da cidade levando a maior parte das pessoas, mas aqueles que restaram na praça olhavam intrigados com a cena que de fato deveria ser curiosa. Uma freira montada a cavalo com um guerreiro. Agora tão próxima dele Rin parou para analisar levemente o homem acima dela. Ele estava de armadura como os homens que chegaram a cidade, na verdade a sua parecia a mais imponente entre as outras que vi, mas também estava arranhada e suja de lama e sangue quase por completa. O rosto de traços fortes emoldurado pelo elmo prateado. O cheiro que ele emanava era de guerra e morte, me dando uma ânsia de vômito.
- Aguente mais um pouco. - ele disse. - Chegaremos logo.
- Qual seu nome? - foi a vez de ela perguntar.
- Taishou, Sesshoumaru Taishou. - disse ele baixando o olhar para ela - Aquele é o meu irmão Inuyasha.
Rin olhou pra trás e percebeu que estavam andando tão devagar que o tal Inuyasha e a irmã Kaori os acompanhavam a pé.
- É a sua vez. Qual o seu nome?
- É Rin. - respondeu simplesmente.
- Seu sobrenome? – o homem perguntou.
- Eu não tenho um. - disse envergonhada - É uma história complicada. - Sesshoumaru não respondeu dessa vez.
Pouco tempo depois eles chegaram ao convento.
- Deixe-me descer agora por favor. - ela pediu - Não quero que as irmãs me vejam assim.
Ele atendeu pondo-a no chão.
- É melhor que entrem. Vou chamar a madre superiora. - disse a irmã Kaori seguindo por um corredor e me deixando a jovem freira a sós com os dois homens.
Quando ela retornou trazia a madre superiora com uma expressão preocupada.
- Sou a madre superiora Kirara. É um prazer conhecê-los. - disse ela com uma breve reverência - Por que não vamos todos ao meu escritório?
- Sou o general Taishou e esse é o meu irmão Major Taishou. - disse Sesshoumaru enquanto caminhavam seguindo a madre superiora.
- A irmã Kaori já me deu um breve relato da situação. - disse a madre superiora - Então vocês acreditam se tratar de um laço de parceria?
Sim. - respondeu Sesshoumaru - Eu tenho certeza.
- Eu pensava que algo assim já não existia, era só uma lenda. - disse a madre pensativa - Não conheço nenhum relato recente que comprove a existência desse laço, mas me lembro de ouvir falar quando era jovem. Na verdade, no vilarejo que nasci havia um casal que acreditavam ter o laço. Se for realmente o laço não é algo tão simples ainda mais dadas as circunstâncias. O senhor é um general do exército e ela é uma simples freira.
- Acho que isso não importa de verdade quando se trata de parceria. - disse Sesshoumaru - A ligação é mais forte do que o que nós somos.
- Esperem um pouco! - disse Rin um pouco brava - Não falem como se eu não estivesse aqui. Até agora eu não entendo nado do que estão dizendo. Esse negócio de laço e de parceria. O que é isso tudo que está acontecendo?
A madre superiora olhou para Rin com tranquilidade, mas também com algo como pena.
- Querida segundo contam os antigos o laço de parceria é a união perfeita de duas almas que nasceram pra estar juntas. É como se elas fossem pré destinadas. - disse a madre superiora - É um laço muito forte de amor. Alguns apenas sentem o laço através da atração entre si, mas além disso vocês ainda tem a marca segundo a irmã Kaori me contou. - disse ela apontando para o braço de Rin com a marca da lua recém surgida.
Rin estremeceu de leve e corou.
- Estão dizendo que algo assim me ligou a ele? - disse ela olhando de relance pra Sesshoumaru.
- Isso é algo que você mesma pode confirmar. - respondeu a madre - O que está sentindo agora?
- Medo. - ela respondeu.
Sesshoumaru a olhou com uma careta carrancuda.
- Ora essa. Já lhe disse que não precisa ter medo de mim não? - respondeu de supetão.
- Deixe o medo de lado por um momento, o que mais está sentindo? - perguntou a madre.
Rin olhou para o colo em direção as mãos tremulas.
- Algo que me atrai a ele e suga minhas energias. Algo que não se aquieta e me revira por dentro. - ela respondeu.
Sesshoumaru a observava com os olhos em brasa.
- Isso vai continuar enquanto estivermos próximos até que o laço se firme. E se estivermos distantes poderemos até mesmo adoecer. - respondeu ele - Enquanto não se encontra o parceiro a vida pode seguir normalmente por um tempo, mas depois do encontro o laço dificilmente adormece novamente. Ele sempre procura o parceiro.
- Como sabe tanto sobre parceria? - perguntou a madre a ele.
Conheci um casal com o laço uns anos atrás, em uma viagem a serviço do exército. Uma enfermeira e um capitão. - respondeu ele - Faz tempo que não nos vemos, mas ainda somos amigos. Eles moram no reino da Água.
- Entendo. - disse a madre.
- Então o que acontece agora? - perguntou Rin apreensiva.
- Agora nós casamos e confirmamos o laço. - respondeu Sesshoumaru observando o desespero da jovem.
- Casar? Mas eu sou uma freira se não observou. - respondeu ela exasperada.
- Não deixou de ser uma mulher certo? - respondeu ele - O laço é muito forte para que seja ignorado.
- Eu não pretendo me casar. - disse ela se levantando em direção a porta, Sesshoumaru logo ficou em pé bloqueando seu caminho - Eu não sei o que é esse laço, mas não vou me casar com você, sinto muito. Deixe-me passar.
Sesshoumaru não se mexeu.
- Não, eu não vou sair da sua frente, até que você diga que me aceita. - o homem insistiu.
- Eu já disse que não. Você não pode me obrigar, servimos todos a coroa. - disse ela.
- Eu vejo que estamos num impasse. - disse a madre - Posso falar com o senhor um momento? Rin pode descansar no seu quarto, logo vou lá.
Sesshoumaru não fez menção de se mexer para sair do caminho.
- Irmão ela tem o direito de ao menos pensar na ideia. Ela estará dentro do convento. - disse Inuyasha.
Sesshoumaru mexeu o corpo a contra gosto, saindo do caminho de Rin que avançou rapidamente.
- Fique de olho nela. - disse o homem.
- Eu não permito que homens fiquem perambulando pelo meu convento. Não quero que incomode as outras irmãs. - disse a madre - Então você fica aqui. Fique de olho nela Kaori e venha nos chamar caso algo aconteça.
Os dois homens nada podiam fazer já que a igreja era neutra em relação ao exército. Não podiam questionar a ordem da madre dentro do convento. A irmã Kaori saiu deixando os três a sós. A madre superiora suspirou.
- Ouvi dizer que o laço é mais forte nos homens do que nas mulheres. Acabei de descobrir que isso é verdade. - disse ela se sentando.
- Na verdade, a intensidade é igual nos dois, porém os homens tem um instinto maior de proteção em relação as parceiras. Algo que é normal até mesmo nas relações onde o laço não existe, num casamento comum. - bufou Sesshoumaru - Além do mais é função do parceiro encaixar o laço.
- Como isso é feito? - perguntou a mulher.
- O laço é aceito através do casamento simbolicamente, mas é encaixado mesmo na noite de núpcias por assim dizer. - respondeu Sesshoumaru.
- Tinha que ser tudo tão complicado? - a madre superiora tirou os óculos e coçou os olhos - Nem vou perguntar se o senhor pretende aceitar o laço.
- É claro que eu pretendo. - exclamou Sesshoumaru - A partir de agora ela é minha responsabilidade.
Um silêncio se fez um momento.
- E se ela não quiser o que vai fazer? - perguntou a madre.
- Como eu disse não encaixar o laço também é algo complicado, até onde sei a longo prazo pode até levar a graves consequências. - ele respondeu. - Ela pode estar confusa agora, mas deve estar sentindo o mesmo que eu.
- Ela precisa de um tempo pra entender, até hoje ela não sabia nem o que era um laço como vocês viram. Além do mais essa imagem do senhor não está contribuindo muito, cheio de armadura, sangue e sujeira. A Rin não teve uma boa vida até aqui. Ela vai precisar de um tempo. - disse a mulher - Ela nunca teve muito contato com homens e com bom um homem piorou, não posso de repente empurra-la pra um casamento.
- O que quer dizer com isso? - perguntou Sesshoumaru a contra gosto.
- Resumidamente a Rin é órfã, foi deixada na porta de um convento ainda bebê, nesse convento ela cresceu até a adolescência. Eu soube que quando completou 19 anos eles receberam a visita de dois jovens padres, era comum darmos abrigos rápidos a pessoas com recomendação da ordem durante viagens, um desses padres abusou da Rin. - A madre viu o fogo inundar o olhar de Sesshoumaru – Não sei os detalhes do que aconteceu, mas é claro, isso a feriu no corpo e na alma. Depois disso ela foi transferida pra cá. É uma mulher doce e inteligente, mas com um passado muito difícil.
- Eu compreendo. - respondeu ele fervendo de raiva – Gostaria de saber um pouco mais sobre essa história e esse homem.
- Isso é tudo que sei, os detalhes saberiam a madre superiora do outro convento. Porém por ora, deixe-me conversar com ela antes, deixe que ela absorva a ideia e pense. Então veremos o que faremos. - disse a madre.
Sesshoumaru não respondeu.
- Não é como se ele fosse fugir até por que ela não tem pra onde ir e eu prometo ficar de olho nela. – continuou a mulher - Você pode voltar em alguns dias.
- Eu voltarei amanhã. - disse ele ficando de pé.
Inuyasha e a madre se entreolharam.
- Ela disse em alguns dias irmão. - disse Inuyasha.
- E eu disse amanhã. - respondeu secamente Sesshoumaru - Já é difícil suficiente partir. Então até amanhã.
Chapter 2: Capítulo 2
Notes:
É claro que a obra Inuyasha e seus personagens não me pertencem, só gosto de imaginá-los vivendo coisas diferentes do anime.
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Capítulo 2
Sesshoumaru entrou marchando rápido na pousada que ficariam hospedados, os soldados se divertiram com muita cerveja e mulheres, mas ele não estava interessado. Já estava a caminho do quarto quando Inuyasha comentou:
- Suponho que os planos tenham mudado agora. Não partiremos mais ao amanhecer certo?
- Mantenha o plano para você e aqueles que desejarem ir para casa. Dispense todos os homens por 10 dias, eles merecem descansar. - respondeu Sesshoumaru.
- Acho que é melhor que eu fique para te ajudar a manter a cabeça no lugar. - respondeu o irmão.
Sesshoumaru pensou um momento.
- Está dizendo que não sou capaz de me controlar? - perguntou.
- Estou. - respondeu o outro sorrindo.
- Volte pra casa, pra sua mulher e me deixe em paz. - disse Seshoumaru batendo a porta do quarto com força.
Inuyasha riu.
Dentro do quarto Sesshoumaru começou a se despir rapidamente jogando a armadura e as roupas no chão quando notou que não estava sozinho.
- O que faz aqui? - perguntou ele a mulher a sentada em sua cama, ela trajava um robe de cetim vermelho entreaberto.
- Achei que como sempre, meu senhor, iria gostar de ajuda com o banho.
- Saia, saia agora. - ele disse rispidamente - Eu preciso ficar sozinho. - a mulher franziu o cenho estranhando a atitude do homem, mas quando abriu a boca para argumentar ele rugiu um comando para sair tão alto que a pousada toda deveria ter ouvido, assustada a mulher correu porta a fora.
No corredor esbarrou em Inuyasha e perguntou:
- O que deu nele?
- Acho que ele está passando um momento difícil. - Inuyasha deu de ombros e olhando para a porta de Sesshoumaru completou - Não precisa de mim hein?
Dentro do quarto Sesshoumaru já estava enfiado na banheira lavando cada parte do corpo e cabelos enquanto a mente funcionava sem parar. “Ora essa que o destino me reservou”. Ele jamais imaginaria que encontraria uma parceira e que ela seria uma freira, era muita ironia do destino. Assim que entraram na praça central da cidade, Sesshoumaru conduzindo o cortejo, soube que algo estava errado. Sua marca de nascença agora queimava na testa, isso nunca aconteceu antes. Dentro dele algo vibrava, e inconscientemente sua cabeça procurava algo ou seria alguém. Ele levou a mão a testa enquanto olhava freneticamente ao redor. Os sons das músicas, gritaria e aplausos pareciam sufocados em seus ouvidos enquanto ele continuava buscando até que viu um pequeno círculo se abrir no canto esquerdo da praça e correu até lá. Ele não compreendeu de imediato, mas soube que precisava ajudar aquela jovem, mas quando viu a marca da lua em seu braço veio o baque do que estava acontecendo. Agora tentava limpar até sua alma naquela banheira enquanto pensava em como convencer a jovem a aceitar o laço, por que pra Sesshoumaru não havia outra opção.
Enquanto isso no convento a jovem Rin achava que estava vivendo um pesadelo. Olhou as mãos trêmulas, não sabia se era o nervosismo ou se o mal estar do tal laço ainda. “Respire fundo Rin, respire fundo, respire fundo. Você já viveu coisas piores.” mentalizava quando a irmã Kaori entrou no quarto.
- Imagino o quanto deve estar assustada. No seu lugar eu também estaria. - disse a irmã - Mas veja, se o laço é realmente perfeito como dizem, vai ficar tudo bem. Você foi destinada a isso.
- A senhora conseguiria pensar em se casar com um homem depois de todos esses anos vivendo no convento? - perguntou Rin a irmã.
- Certamente não. Por isso eu a entendo. - respondeu Kaori - Porém Rin eu já estou velha, você não querida, você é jovem e muito bonita. Tenho certeza que as coisas vão se encaixar.
- Eu também tenho. - disse a madre superiora que havia acabado de entrar no quarto - Por mais estranho que seja, não feche o seu coração. Rin você não se tornou freira por opção, não deixou de ser uma mulher comum que poderia amar, ser amada e ter uma família e filhos porque quis certo? Eu tinha essa oportunidade, mas eu quis me dedicar ao serviço do Senhor.
- Mas madre tenho vivido minha vida inteira dedicada ao serviço do Senhor! Como posso de repente abandonar tudo que tenho feito? Tudo que tenho crido?
- Você não estará abandonando tudo Rin, afinal nós acreditamos na família e no matrimonio também, não é? Descanse por hoje, reze para tranquilizar o seu coração. O general Taishou vai voltar amanhã para conversarmos novamente com mais calma. Se precisar de mim é só chamar. - disse ela dando tapinhas na mão de Rin e se levantando.
- Vou fazer um chá pra nós duas. - disse a irmã Kaori - Volto já.
Rin ficou sozinha novamente com sua apreensão e seus pensamentos. Mais tarde ela decidiu ir até a biblioteca ver se achava algo nos livros sobre a tal parceria, mas foi em vão. Enquanto isso no convento a notícia já tinha se espalhado, as irmãs passavam por ela e a saudavam de um jeito diferente. Voltando ao quarto Rin suspirou sentando-se em um canto próximo a janela sua Bíblia e o terço na mão, olhando pra dentro de si aquela sensação inquietante permanecia lá. Algo havia acendido e não se apagava. Ela nunca pensou que pudesse ter uma família como disse a madre superiora, desde cedo Rin se acostumou a ser rejeitada pelo mundo e ser aceita apenas entre as companheiras do convento, ali era o único lugar no mundo em que ela se sentia segura, embora uma vez essa segurança já tenha falhado, mesmo assim o convento era seu lar. Como mudar sua convicção agora depois de tantos anos?
Seus pensamentos não paravam de fluir. Aquela seria uma longa noite.
- Bom dia irmão. - saudou Inuyasha enquanto um Sesshoumaru com cara de poucos amigos se servia do café da manhã - Vejo que encontrou uma boa roupa pra impressionar sua parceira.
- Eu me lembro que te dispensei pra ir para casa. - bufou Sesshoumaru.
- Relaxe. Eu quis ficar por minha vontade. Já pensou em um plano para convencê-la? - perguntou Inuyasha se servindo também.
- O que há para convencer? Ela não pode fugir do laço da parceria. - respondeu secamente Sesshoumaru.
- Sesshoumaru a madre superiora tem razão, não pode arrastar a moça pra um casamento do nada sem levar em consideração a vontade e o passado dela. - disse Inuyasha.
- Você acha que eu já não pensei e repensei nisso várias vezes. - grunhiu Sesshoumaru - Mas não é como se pudesse deixar o laço pra lá. Ele fica aqui gritando e gritando na minha cabeça e provavelmente na dela também. Além do mais você não acha que a vida dela seria bem melhor conosco do que naquele convento?
- Você já pensou que uma mulher que você não conhece em nada vai passar a comandar sua casa e o seu coração? - perguntou Inuyasha - Uma mulher que é uma freira! Ela nem deve saber beijar Sesshoumaru!
- Você não quer confusão com sua mulher? - perguntou Sesshoumaru.
- O que? Não é sobre isso Sesshoumaru, e você sabe que não. - respondeu Inuyasha - Eu quis dizer que não sabemos nada dela. Você nunca fez questão de se casar agora quer fazer isso de qualquer forma.
- Eu só posso acreditar que se ela foi escolhida através do laço é porque tem alguma razão. - respondeu Sesshoumaru - A meses atrás quando os oficiais do exército que comentei me falaram do laço eu permaneci incrédulo em partes, eu acreditava na ligação, mas agora eu vejo que realmente é algo muito forte. Eu não sei explicar, mas eu posso sentir. Sentir que meu destino está entrelaçado ao dela, só de olhar pra ela.
- Nunca pensei que veria você dizer algo tão romântico. - riu Inuyasha recebendo uma careta de Sesshoumaru.
- Entenda como quiser. - respondeu ele.
Algum tempo depois eles partiam rumo ao convento onde foram recebidos novamente pela madre superiora.
- A Rin já está vindo. - disse a madre - Podem sentar-se.
- A senhora conversou com ela? - perguntou Inuyasha.
- Conversei brevemente. - respondeu a madre - Mas acho mesmo é que ela precisa de um tempo pensar. Mas o general insistiu muito em vir hoje…
- Estou aqui. - disse Rin abrindo a porta da sala - Queriam me ver?
Os olhos dela olharam ao redor e pousaram num Sesshoumaru diferente. Agora estava limpo, bem vestido com uma camisa social branca e calça cinza, um sobretudo preto. Sem o elmo Rin pode perceber o quanto ele era bonito, longos cabelos prateados emolduravam o rosto masculino, um nariz que parecia ter sido esculpido e olhos dourados bem desenhados e muito expressivos. Mesmo sentado ele era muito maior que ela. Poderia se dizer que era muito bonito. Rin corou. Não era o tipo de pensamento que tinha sobre os homens normalmente. Eles se entreolharam.
- Como se sente? - perguntou Sesshoumaru.
- Eu estou bem.
- Quantos anos tem Rin? - Sesshoumaru perguntou.
- Vinte e quatro. - respondeu ela - E o senhor?
Não precisa me chamar de senhor, apenas Sesshoumaru. Tenho trinta e um. - respondeu ele - Veja eu não vim aqui para brigarmos e nem discutirmos. - disse ele - Depois de muito pensar eu vim para fazer uma proposta.
- Uma proposta? - perguntou ela.
- Sim. Eu gostaria que viesse comigo a Éden, meu vilarejo. Deixe-me explicar melhor. - ele continuou quando viu o semblante de surpresa dela - Isso é um convite para que você conheça meu povo e minha casa. Não vou lhe fazer mal, não vou impor que fique, pode ir e voltar quando quiser. Sou um homem de reputação exemplar perante o reino, por isso volto a dizer que não precisa ter medo de mim. Éden é um condado muito bonito. Acredito que você vá gostar e quem sabe se sentir em casa.
Essas últimas palavras carregavam tanto significado para os dois que seria impossível não perceber. Para Sesshoumaru a promessa de quem sabe dividirem um futuro juntos no lugar que ele amava. Para Rin a promessa de finalmente encontrar um lar e uma família. E Tudo dependia da resposta dela.
Notes:
Se você chegou até aqui por favor deixe um comentário para fazer o autor feliz =)
Chapter 3: Capítulo 3
Notes:
É claro que a obra Inuyasha e seus personagens não me pertencem, só gosto de imaginá-los vivendo coisas diferentes do anime.
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Sesshoumaru olhava pra Rin com intensidade, enquanto ela parecia não saber o que responder.
- Creio que isso não seria adequado. - começou olhando para a madre superiora que a interrompeu.
- Se você desejar ir, permitirei que vá com algumas ressalvas. - disse ela - Eu confio na reputação do senhor general e no nome da família Taishou. Desde que ela tenha seu próprio quarto, bem resguardado e seguro, e possa manter a rotina que desejar, e como o senhor disse possa voltar quando desejar, autorizarei que ela possa ir.
- O que as outras irmãs pensariam disso? Pensariam de mim? E o que faria com as crianças? - perguntou Rin a madre.
- Ninguém tem que pensar nada sobre você. Deixe tudo comigo. É uma situação especial.
- O que quer dizer com as crianças? - perguntou Sesshoumaru.
- Sou professora na escola do convento. - respondeu Rin.
- Eu fico grato pela confiança. - respondeu Sesshoumaru a madre superiora - Para esclarecer eu não moro sozinho. Moro com meu irmão e a esposa dele que está grávida. - Inuyasha deu um sorriso caloroso a Rin - Temos também a nossa governanta a senhora Kaede e mais alguns funcionários na residência principal. Você não precisa me responder agora, partiremos amanhã às 7h e passaremos por aqui. Espero que esteja pronta para partir conosco. - disse ele se levantando.
- E se eu não estiver pronta? - perguntou ela.
- Vou torcer para que isso não aconteça. - respondeu ele simplesmente - Mas poderá vir me encontrar em Éden quando desejar. O convite sempre estará de pé. Então Até amanhã. - e assim partiu junto com o irmão deixando uma Rin pensativa para trás.
- No outro dia de manhã passaram pelo convento mas apareceu na porta apenas a irmã Kaori informando que a jovem Rin não demonstrou interesse em ir e assim os Taishou partiram em direção a Éden.
- Depois de todo barulho que você fez, vai simplesmente partir assim? - perguntou Inuyasha enquanto cavalgavam - Não vai nem mesmo insistir?
- Achei que era você que queria que eu desse um tempo a ela. - respondeu Sesshoumaru, Inuyasha fez uma careta - Não pense que está sendo fácil partir, mas se estivermos mesmo certos sobre o laço ela não terá outra alternativa a não ser vir até mim. Ou eu perder a cabeça e vir até ela. Espero que não precisemos chegar a isso, que ela decida vir antes. Agora apresse esse seu cavalo manco, quero chegar em casa logo. - e assim partiu a toda velocidade sobre Apolo.
No andar de cima Rin pela cortina entreaberta via os homens na porta do convento, ela não teve coragem de ir. Tudo aquilo ainda lhe parecia loucura. Não era cabível que saísse do convento para se hospedar na casa de um homem que ela nem conhecia e que tinha segundas intenções com ela. Rin achou que a madre superiora nem permitiria tal coisa, mas ela estava mesmo convencida dessa coisa de laço, já Rin continuava com incertezas sobre o assunto. Por isso nos dias seguintes esforçou-se para conseguir esquecer tal situação trabalhando intensamente com as crianças, rezando e cumprindo suas obrigações no convento e assim o tempo foi passando, já haviam passado quase dois meses quando coisas estranhas começaram a acontecer. Durante o dia Rin acordava com dor de cabeça e ao longo do dia ia aumentando, as vezes sentia como um puxão, uma fisgada intensa, necessitando tirar um momento para se sentir melhor. A noite sonhou algumas vezes com Sesshoumaru, sonhos estranhos e sem sentido onde na maioria das vezes ele corria perigo. Ao longo dos meses ele mandou mensageiros afirmando que o convite estava de pé, mas Rin nunca respondeu, assim supunha que ele estava bem e os sonhos não faziam sentido. Rin também estava constantemente com olheiras resultado das noites mal dormidas.
- Eu acho que você tem emagrecido. - comentou uma jovem irmã que trabalhava com Rin na escola do convento - Você tem se alimentado bem?
- Sim, mas minha saúde está sensível ultimamente. - respondeu a irmã.
Duas semanas depois Rin não conseguiu levantar da cama mais, sentia-se esgotada. Nervos a flor da pele e uma fraqueza imensa. A irmã Kaori chamou a madre superiora. Rin passou o dia de cama tomando chá e descansando, a madre superiora tentou chamar um médico, mas ele só poderia vir daqui a 3 dias pois estava fora da cidade. Então ela pensou em outra coisa.
Rin abriu os olhos sentindo-se um pouco melhor, a dor de cabeça havia ido embora e havia uma calma agora na sua alma. Percebeu que estava segurando em algo quente e quão grande foi sua surpresa ao ver Sesshoumaru sentado numa cadeira ao lado da sua cama ressonando. Ele também parecia ligeiramente abatido com olheiras sob os olhos. Rin sentou-se devagar limpando a garganta fazendo Sesshoumaru despertar.
- Desde quando está aí? - ela perguntou.
- Cheguei um pouco antes do raiar do dia. - disse ele espreguiçando-se - Foi uma longa noite.
- Você viajou a noite? - perguntou Rin com um que de preocupação.
- Foi necessário. A mensagem da madre superiora chegou quase a tarde, sai assim que recebi, mas cheguei apenas de madrugada. Passei na estalagem e vim o mais cedo que considerei entrar.
- Não precisava se preocupar assim. - disse ela - Quanto tempo de viagem do seu condado até aqui?
- Depende muito do transporte - respondeu Sesshoumaru - A cavalo conseguimos fazer em um dia inteiro, de carroça um dia e meio. Precisa pernoitar na Cidade do Vale e seguir viagem pela manhã, chegando em Éden pela hora do almoço.
Percebendo que ainda estavam de mãos dadas, Rin fez menção de recolher a mão rapidamente mas Sesshoumaru a segurou.
- Deixe assim por enquanto, o contato faz com que os sintomas melhorem. Você está se sentindo melhor? - perguntou.
- Estou, pelo menos minha dor de cabeça incomoda foi embora. - respondeu ela - Você também estava tendo essas coisas?
- Estava. Sentindo muita dor de cabeça também principalmente. - respondeu ele ainda segurando a mão dela.
- É o tal laço chamando? - perguntou Rin.
- É sim. - respondeu Sesshoumaru - O laço continua tentando se estabelecer enquanto você continua a sufoca-lo.
- Então eu não tenho outra opção a não ser aceitar isso? - perguntou ela.
- Para ser sincero eu escrevi a meus amigos perguntando mais detalhes sobre o laço, se você quiser eu posso lhe conceder as cartas para que leia. - respondeu ele - Mas não, você pode recusar o laço, é só fazer o que estávamos fazendo. Cada um continua na sua vida, até que a ligação se desfaça. Só teríamos que aguentar firme esses sintomas até o fim.
- Entendi. - disse Rin - Eu gostaria de ler a cartas se possível.
- Eu não as trouxe comigo, estão na estalagem, mas mando pra você por um mensageiro quando retornar.
- E quando vai partir? - ela perguntou.
- Quando você estiver melhor. - respondeu ele - Depois de amanhã provavelmente. Vou aproveitar que estou aqui e resolver umas pendências também, encomendar umas ferramentas e suprimentos, ir ao palácio conversar com o rei sobre assuntos do exército e ao alfaiate pegar umas roupas. Mas Rin, tem uma coisa que preciso lhe dizer, se passaram quase dois meses desde que nos vimos e tem sido um inferno esse laço incompleto, você bem sabe. Eu mal consigo pensar direito com essa dor de cabeça e essa fraqueza esquisita, não tenho tempo pra ficar doente e esmorecido. Acho que não podemos continuar assim. Não pretendo ficar doente dessa forma de novo. Quero que me diga se quer que essa seja a última vez por todas que nós vemos. Se dessa vez disser que não me quer partirei e não voltarei. Então esperaremos firmemente que o laço se desfaça.
Rin abriu a boca para responder algo.
- Não me diga nada agora. - disse ele alisando a mão dela de leve - Pense que essa pode ser a última vez. Só precisa me dizer depois de amanhã quando partirei, ou virá comigo ou ficará.
- Certo. - ela respondeu pensativa - Então como é em Éden?
- Éden é um lindo condado fundado pelos meus antepassados, a família Taishou. - disse Sesshoumaru com orgulho - Há lindas paisagens verdes e lagos cristalinos. Temos uma incrível variedade de frutas e agora na primavera, Éden se enche cores e se torna ainda mais bonita. Nossa propriedade fica na zona rural do condado.
- Parece um lugar acolhedor. - comentou ela - Como tempo de administrar Éden e ser general do exército? - perguntou com curiosidade.
- Na verdade eu não administro Éden, tenho um prefeito, pode-se dizer assim, que administra por mim, Miroku e eu nos conhecemos da infância. - respondeu ele - Eu sou consultado sobre as principais decisões, mas meu esforço maior é mesmo no exército. Na propriedade, a esposa de Inuyasha, Kagome, e a senhora Kaede administram a casa, os campos são administrados por meu homem de confiança Jaken.
- Os campos? - perguntou ela.
- Nós plantamos para nosso sustento vários tipos de frutas, verduras e legumes. E temos animais também. - respondeu ele - Mas também plantamos para negócios, somos excelentes produtores de café.
Sesshoumaru sentia-se satisfeito por finalmente ela demonstrar interesse em algo relacionado a ele por isso respondia todas as perguntas com paciência.
- E o que você fez nesses meses que se passaram? - perguntou Rin.
- Trabalhei bastante. Estamos construindo um novo celeiro em casa e no exército estamos sendo convidados a auxiliar o reino da água na batalha contra os monstros. - respondeu ele.
- E vocês vão?
- É uma possibilidade. O rei ainda não decidiu se devemos nos arriscar sem uma aliança concreta. - respondeu Sesshoumaru – Além do mais temos nosso próprio território para defender no momento, os ataques de monstros estão crescendo sem explicação. Nosso primeiro esforço tem que ser em nosso reino.
- Em outras palavras o Rei quer saber o que vai ganhar com isso. - disse Rin.
Sesshoumaru riu.
- Exatamente. - respondeu - Rin eu posso ver a sua marca outra vez?
Rin levantou um pouco a manga do hábito mostrando a meia lua no pulso a Sesshoumaru, quando ele tocou a marca acariciando de leve Rin sentiu como se uma pequena descarga elétrica percorresse seu corpo deixando-a arrepiada no mesmo momento, Sesshoumaru também deve ter sentido algo pois aproximou-se ainda mais dela. De repente a porta se abriu e a irmã Kaori entrou, Rin recolheu rapidamente a mão que estava com Sesshoumaru.
- Tudo bem? - perguntou a irmã Kaori - Você se sente melhor? Está com um rosto bem melhor.
- Sim. Eu estou bem melhor. Acredito que consigo até ir a escola a tarde. - respondeu Rin afastando-se rapidamente de Sesshoumaru.
- Tem certeza?
- Sim. Eu tenho. - respondeu Rin levantando-se.
Então acredito que essa seja minha hora. - disse Sesshoumaru levantando-se também - Mandarei as cartas como prometi e estarei na estalagem caso precise de mim. Amanhã passo aqui para ver como você está. Até logo.
- Até logo. - respondeu Rin.
- Quer a minha sincera opinião? - perguntou a irmã Kaori quando Sesshoumaru deixou o quarto.
- É claro que quero.
- Se você não quiser casar com ele eu caso. - disse a irmã Kaori rindo.
- Irmã Kaori!
- Meu bem estamos falando de um dos solteiros mais cobiçados do reino.
- Rin sabia que a irmã Kaori era dada a fofoca, ou como ela gostava de chamar, a colher informações, então ficou ouvindo-a contar como Sesshoumaru era bonito, forte, inteligente, rico e alguns de seus feitos heroicos no exército.
- Colhi bastante informações pra saber que toda a cidade admira esse homem! - disse ela - Se ele me quiser, eu caso! - continuou rindo muito - Agora vamos tomar o desjejum, já passou do horário e a madre superiora mandou te chamar.
A noite Rin parou pra pensar em tudo que estava acontecendo, em como foi fácil conversar com Sesshoumaru mais cedo e como foi bom descobrir mais sobre ele. Agora ele tinha lhe dado o ultimato, o que ela deveria fazer?
Notes:
Eu fiquei muito feliz com os comentários e elogios que recebi no último capítulo. Muito obrigada! Por favor continuem comentando e acompanhando pra que eu me sinta ainda mais inspirada a escrever e postar. Estou terminando de escrever o 10° capítulo.
Chapter 4: Capítulo 4
Notes:
É claro que a obra Inuyasha e seus personagens não me pertencem, só gosto de imaginá-los vivendo coisas diferentes do anime.
(See the end of the chapter for more notes.)
Chapter Text
Capítulo 4
A carruagem puxada por ágeis e belos cavalos avançava rapidamente pela floresta, suas rodas rangendo suavemente sobre a trilha de terra. O casal dentro da carruagem estava imerso em um silêncio um pouco desconfortável. Ora Rin apreciava a beleza natural ao redor, a luz do sol que infiltrava-se através das árvores, lançando sombras dançantes no chão da floresta, o colorido exuberante e o doce perfume das flores de primavera brotando por todo lugar. Ora tentava ler as cartas dos amigos de Sesshoumaru no balançar da carruagem. Haviam partido de Valência logo cedo e agora já deveria ser pela hora do almoço dizia seu estômago, Sesshoumaru havia avisado que não parariam para almoçar ou chegariam muito tarde na cidade onde pernoitariam, mas havia uma cesta cheia de pequenos lanches como sanduíches, queijos, frutas e bebidas disponíveis no banco ao lado de Rin. Ela decidiu por se servir.
- Você quer alguma coisa? - perguntou a Sesshoumaru que olhava para fora da carruagem para os campos além.
- Um sanduíche também e uma água por favor. - respondeu ele agora olhando pra ela.
- Você parece incomodado com algo. - comentou Rin passando os itens que ele pediu - Já se arrependeu do convite?
- De forma alguma. É só que não me acostumo a andar de carruagem ao invés de montar a cavalo. - Respondeu ele descruzando os braços e relaxando a postura ereta - Além do mais o encontro com o rei me rendeu bastante coisa para pensar e planejar sobre tudo que vem acontecendo na batalha contra os monstros.
- Peço desculpas por você ter que me acompanhar aqui. Na verdade, você pode ir no seu cavalo se quiser. - respondeu ela - Prometo que não irei fugir daqui.
- Eu prefiro desfrutar da sua companhia já que me concedeu finalmente. - comentou ele abocanhando seu sanduíche - Terminou de ler as cartas?
- Falta somente essa. - respondeu Rin - Logo terminarei.
Durante os dias que antecederam a viagem Rin havia pensado muito se deveria aceitar ou não aquela proposta. Tinha uma desagradável sensação ao imaginar que aquela poderia ser a última vez que via Sesshoumaru, que aquela poderia ser a última vez que pela primeira vez sentia uma sensação de pertencimento, era estranho, mas ela agora sentia como se finalmente pudesse fazer parte de algo, se finalmente alguém realmente se importasse com ela e teve medo de perder aquilo, que não era muito, mas era tudo que ela tinha. Sesshoumaru agora era a pequena promessa de uma nova vida, como um porto seguro distante, mas possível de ser alcançado. Então ela aceitou o convite de Sesshoumaru. Mas haviam tantas dúvidas que a cercavam, receios que ela ainda trazia consigo. Lembrava a si mesmo que ele ainda que lhe parecesse confiável era apenas um desconhecido, tinha que ter cautela.
- Senhor Taishou posso fazer uma pergunta? - disse Rin.
- Pode. - respondeu Sesshoumaru com uma careta, um gole na água - Se me chamar pelo meu primeiro nome.
- Por que nunca se casou? - perguntou ela ignorando o comentário dele.
Sesshoumaru suspirou.
- Eu nunca me apaixonei antes. Eu tive mulheres claro, mas nunca foi amor. - respondeu ele - Não estaria certo se casar assim.
- Tão pouco é amor agora certo? - perguntou ela - Nós nem nos conhecemos direito.
Sesshoumaru a olhou com intensidade.
- É porque eu acredito no laço e no que sinto através dele. - respondeu - Às vezes eu me pergunto se só eu sinto isso porque você parece tão indiferente a mim, enquanto eu sinto que deveria fazer de você tudo pra mim. Mas no fundo eu sei que sente, posso sentir através do laço, seus sentimentos embaralhados me alcançam, então porquê reluta tanto consigo mesma?
Rin pensou um pouco olhando para fora da carruagem novamente, a verdade é que ela sentia centelhas de sentimentos confusos por ele, principalmente curiosidade e talvez, bem talvez uma atração. Seria loucura, sentimentos nunca despertados por um homem antes, pelo contrário, depois do grande incidente que mudou sua vida os homens lhe pareciam repulsivos e odiosos. Mas tal como o laço ela continuava sufocando qualquer expectativa ou anseio relacionados a ele, temendo acreditar demais e não ser tudo real. Fazia de tudo pra não pensar em Sesshoumaru e no quanto ele era bonito com seus perspicazes olhos dourados. Mas que futuro haveria numa relação sem amor, o tal laço de parceria seria suficiente? Ela não sabia responder.
- Acho que você não entenderia. - respondeu.
- Por que não me explica então? - perguntou Sesshoumaru.
- Eu não tive nada a vida toda, não tive ninguém que se importasse, que me amasse, não tive um sobrenome, uma família, não tive afeto. Como espera que eu acredite que há algo assim pra mim agora só porquê o destino quis? - respondeu ela olhando nos olhos dele - Ainda mais com você um homem tão estimado, experiente e com uma vida feita. O que você iria querer com alguém como eu? Todas as belas mulheres de Éden, Verdânia e de todos os reinos devem cair aos seus pés.
- Eu sei que é difícil acreditar, mas eu quero que dê certo entre a gente. Não vou mentir, não é amor, mas você também leu as cartas. Não precisa acreditar nas minhas palavras apenas, pode acreditar no relato deles que viveram tudo isso, ou melhor, ainda estão vivendo. - disse Sesshoumaru - Infelizmente ainda muitos relatos registrados sobre o laço, tudo que se sabe é somente pelas pessoas que vivenciaram essa experiência. Eu acredito que existe uma vida melhor pra você ao meu lado do que no convento, depois de tudo que você mesma acabou de dizer, eu gostaria de pelo menos te dar uma vida melhor.
- Ah então é por pena? - perguntou Rin - Eu não preciso disso. Eu já tenho uma vida mesmo que aos seus olhos ela não seja boa o suficiente, pra mim ela é.
- Eu não quis dizer isso Rin, eu só disse que queria que a sua vida melhorasse. Só isso. - resmungou Sesshoumaru - Que droga Rin, quando eu acho que estamos tendo alguma evolução você tem que achar um motivo pra gente se desentender.
Rin não respondeu mais nada, olhou pra Sesshoumaru por um momento e depois pra paisagem lá fora, nem haviam chegado ao destino e ela já havia se arrependido daquilo. Não trocaram mais nenhuma palavra durante o trajeto até a pousada. Quando chegaram na hospedaria já havia escurecido há um tempo, Sesshoumaru já tinha pedido que deixassem dois quartos preparados para recebê-los e assim que pisaram no salão cada um foi para seu quarto onde jantaram e não saíram. Partiram novamente no dia seguinte após o café.
- Até quando vamos continuar com esse silêncio incômodo? – perguntou incomodado Sesshoumaru já na carruagem em movimento.
Rin olhou pra ele.
- Se nos casarmos já sei o que fazer pra te provocar. - respondeu zombando.
Os olhos de Sesshoumaru brilharam com intensidade.
- Não diga “se nos casamos” e sim “quando nos casarmos.” Já é uma evolução até que você esteja considerando a possibilidade. - respondeu - E não, não ouse me provocar assim. Eu também sei provocar, mas de um jeito que você talvez não vá gostar.
Rin estalou a língua desprezando o comentário dele.
- O que achou das cartas? - continuou Sesshoumaru tentando apaziguar os ânimos entre os dois.
Na primeira carta Sesshoumaru descreveu com detalhe sobre o encontro e a descoberta do laço, disse que havia encontrado uma parceira complicada, referindo-se ao fato dela ser uma freira, e que nem tinha certeza se era bonita já que não pode ver nada além do rosto, o qual ele julgou bonito pelo menos. A segunda carta era uma resposta entusiasmada dos seus amigos desejando parabéns pela parceira, era nítido que Maru e Akane estavam felizes e empolgados com o acontecimento. A mulher e o homem se revezaram escrevendo a carta o que as vezes a tornava um pouco confusa. As cartas depois foram perguntas e dúvidas de Sesshoumaru sobre por exemplo se Rin não aceitasse o laço, o que Sesshoumaru já havia me explicado, e as respostas do casal aos questionamentos.
- Não me contaram muito além do que você e a madre superiora me contaram, mas um ponto que achei interessante é que os parceiros compartilham um pouco de telepatia, se assim pode-se dizer. - disse Rin.
- Sim, eu entendi isso também. É possível que possamos sentir o que o outro está sentindo e compartilhar emoções e sentimentos. - respondeu Sesshoumaru.
De repente a carruagem freou bruscamente fazendo com que Rin quase fosse parar no colo de Sesshoumaru a sua frente. Ele a segurou rapidamente pondo-a atrás do seu próprio corpo em alerta e sacou sua espada virando-se em direção a porta da carruagem. Logo Ouviram-se vozes e uma agitação do lado de fora.
- O que está acontecendo? - Rin sussurrou ao ouvido de Sesshoumaru.
Ele apenas balançou a cabeça negativamente. Também não fazia ideia do que estava acontecendo, mas não podia abrir a porta da carruagem e por Rin em perigo, poderia ser uma armadilha, ali dentro estavam mais seguros. Alguns minutos depois alguém chamou do lado de fora.
- Senhor Taishou vou abrir a porta agora. - disse.
- Pode abrir. - respondeu Sesshoumaru reconhecendo a voz de um dos seus homens.
Quando o homem abriu a porta um cheiro horrível invadiu o ambiente fazendo com que eles colocassem as mãos na boca e nariz.
- O que está acontecendo? - perguntou Sesshoumaru - Estamos seguros?
- Eu não sei se estamos seguros, mas é melhor ver com seus próprios olhos. - respondeu o homem.
Sesshoumaru virou-se para Rin entregando-lhe um lenço que tirou do seu casaco.
- Fique aqui até eu voltar, aqui estará mais segura. Se algo acontecer grite, pedirei a uns dos homens que fique na porta de guarda. - disse Sesshoumaru.
Rin concordou com a cabeça e ele saiu fechando a porta. A alguns metros da carruagem estendia-se o corpo enorme em decomposição de um Troll, por isso o cheiro ruim. Sesshoumaru olhou ao redor preocupado, não era comum aparecerem monstros nas vias principais de ligação dos condados pois eram muito movimentadas e sempre tinha alguma patrulha passando por elas. Então de onde esse havia saído e como foi morto? Trolls costumam a andar em cavernas e em grupo, porque só havia um ali? Era muitas perguntas sem respostas, mas o mais importante pra Sesshoumaru era que ele estava a menos de 3 horas de viagem de Éden. Seu povo estava em perigo?
- Dois homens foram dar uma olhada nas redondezas e tentar descobrir algo. Acho que o senhor deve partir com a senhorita para não ficarem expostos, retornaremos assim que eles voltarem. - disse o homem que havia ido buscar Sesshoumaru na carroça.
Sesshoumaru concordou com a cabeça.
- Fico no aguardo de vocês. Descubra se tem alguma caverna por perto, ele só pode ter saído de lá e tente descobrir como morreu. - respondeu Sesshoumaru - Diga ao cocheiro que estou com pressa.
Sesshoumaru retornou a carruagem e partiram.
- O que aconteceu? - perguntou Rin a ele.
- Um troll morto na estrada. Não é algo que precise se preocupar, logo chegaremos a Éden. - disse ele.
- Mas essa estrada não deveria ser segura? - perguntou Rin.
- Deveria e é isso que me preocupa. - respondeu Sesshoumaru. - Estou surpreso com sua reação ao perigo, você ficou manteve a calma e obedeceu sem pestanejar.
- Quem se agita e grita, morre primeiro. - respondeu Rin.
Sesshoumaru riu com vontade.
- Além do mais você é o general, sabia o que estava fazendo. Eu só deveria obedecer mesmo e não atrapalhar. - completou ela.
- Cada vez mais tenho certeza que você nasceu pra ser minha. - disse ele diminuindo o riso.
Rin nada respondeu. Viajavam agora a toda velocidade e depois de pouco mais de duas horas a floresta começou a ceder espaço a uma vegetação menos densa. Rin observou salgueiros imponentes margeando a estrada dançando no balanço do vento.
- Estamos perto? - ela perguntou.
- Veja você mesma. - respondeu Sesshoumaru indicando pela janela os portões logo mais à frente de uma pequena cidade fortificada. Pararam por alguns minutos e logo o ritmo da carruagem diminuiu, quando atravessaram os portões surgiram muitas edificações pelo caminho, pessoas circulando, muitas vozes, cores e cheiros que fizeram Rin pôr a cabeça pra fora da janela pra observar. À primeira vista Éden era uma cidade muito bonita e agitada - Vou ficar devendo uma visita mais adequada a a Éden em outro momento, agora vamos direto para casa.
Seguiram viagem por mais meia hora por onde Rin ia observando tudo pelo caminho atentamente, a cidade movimentada deu espaço uma paisagem mais rural. Pela janela da carruagem Rin avistava plantações diversas e grandes casas e fazendas até que diminuíram o ritmo até parar, um portão foi aberto e pouco tempo depois pararam em frente a um casarão. A porta da carruagem foi aberta e Sesshoumaru desceu ajudando-a logo em seguida.
- Bem vinda a Little Éden. - ele disse.
A frente se via uma imponente casa de fazenda de dois pavimentos muito bem construída. Era como estivesse entrando em um pedaço de lugar com muita história pra contar.
A casa feita de pedra e madeira, com paredes grossas, telhas de barro, gradeados de metal e palmeiras ladeando sua entrada. Parados a frente da escada na entrada estavam uma senhora com meia dúzia de empregados e um pouco mais à frente deles Inuyasha com uma mulher com o ventre em crescimento.
- Sejam bem vindos. - disse Inuyasha sorridente - Fizeram uma boa viagem?
- Sim. - respondeu rapidamente Sesshoumaru - Mas precisamos conversar.
- E nós vamos em breve. - disse Inuyasha e virando-se para Rin completou - Seja bem vinda Rin. Quero que conheça minha esposa Kagome.
- É um prazer. - disse Kagome sorrindo para Rin - Espero que possamos ser amigas.
- O prazer é meu. - disse Rin sorrindo de volta meio sem jeito. A verdade é que ela não sabia lhe dar direito com as pessoas fora do convento.
- Agora vamos entrar. - disse Kagome - Vocês podem se limpar e em breve o almoço será servido.
Ao entrar na casa Rin foi recebida por um hall amplo, com um piso de madeira que rangia suavemente sob seus pés. Sesshoumaru ficou para trás enquanto ela foi conduzida a subir as escadas de pedra chegando ao andar superior, onde havia vários quartos.
- Esses dois primeiros quartos estão vazios e são de visita ou de futuras crianças, aquele é o meu e de Inuyasha, o do meio é onde você vai ficar e o último é o de Sesshoumaru. - disse-lhe Kagome caminhando até o quarto de Rin - Espero que e se sinta confortável em nossa casa, qualquer coisa é só me procurar ou a senhora Kaede inclusive se quiser mudar de quarto. Escolhi esse entre os vazios por ser o mais arejado, sempre tem uma brisa suave e você pode ver os campos ao longe. - ela sorriu.
Elas entraram no quarto com móveis antigos e cortinas de renda que filtram a luz do sol. As paredes eram pintadas num tom claro de amarelo, com uma cama grande e uma guarda roupa e uma penteadeira de madeira maciça, uma poltrona confortável de leitura próximo da porta da varanda, também havia um biombo onde Rin acreditava que seria a área de banho.
- Eu agradeço. - Rin respondeu - É excelente.
Kagome caminhou até a varanda abrindo a porta larga de onde podia-se ver extensos campos e algumas estufas para onde Kagome apontou.
- Veja ali as estufas, temos muitos morangos para colher. São deliciosos! - disse Kagome, ela continuou apontando as plantações, estufas e campos com dedicação, seus olhos brilhavam. - Um dia desses podemos passear pelos campos. Acredita que temos até algumas lavandas? Você vai ficar um tempo, não é?
- Eu adoraria. - respondeu Rin com sinceridade, ela se perguntou se Kagome sabia sobre ela e Sesshoumaru - Eu não sei quanto tempo ficarei ainda. - disse com um aperto no peito.
- Certo! Estarei na copa para o almoço. Essa é a Anna e ela vai cuidar de você enquanto estiver aqui.
Só então Rin percebeu uma tímida criada loira de sardas que as seguia e fez uma breve reverência para ela.
- Vou buscar uma água morna para a senhorita se limpar. - disse Anna saindo do quarto.
- Eu estou acostumada a me cuidar sozinha. - disse Rin.
- Fique com Anna durante um tempo pelo menos, pode se sentir sozinha e meio perdida na casa no início. - respondeu Kagome - Espero mesmo que se sinta em casa. - ela se virou para deixar o quarto.
- Pra quando… - Rin começou meio sem jeito quando Kagome se virou novamente para ela - Pra quando é o bebê?
- Daqui a uns dois ou três meses o médico acha. - disse Kagome alisando o ventre - Ela já está mexendo bastante.
- Ela? É uma menina?
- Minha intuição diz que sim, mas Inuyasha acha que será um menino. Veremos quem está certo. - disse Kagome rindo, elas trocaram um olhar carinhoso e Kagome saiu do quarto deixando-a sozinha.
Rin sentou na cama se sentindo estranha e desorientada, quem diria que sua vida iria mudar tão de repente e ela estaria ali do lado de fora do convento pra viver uma vida diferente. Ela nem sabia o que fazer direito enquanto estivesse ali. Um momento depois Rin ouviu uma batida suave na porta respondendo para que entrasse e viu Anna entrando com uma jarra e logo atrás dela um homem carregando seu pequeno baú e pondo no centro do quarto, ele saiu em seguida.
- Eu trouxe a água senhorita. Vou lhe mostrar a área de banho - disse Anna seguindo para trás do biombo, onde Rin esperava encontrar uma Tina encontrou uma porta para um pequeno banheiro completo com até uma banheira pequena, havia um perfume delicioso no ar e Rin lembrou-se das lavandas mencionadas por Kagome - Não precisa se preocupar com nada, o que precisar é só pedir. - disse Anna despejando a água da jarra numa bacia próxima - Posso ir desarrumando seu baú?
- Ah.. - disse Rin meio sem jeito - Pode sim, eu não trouxe muitas coisas.
Quando Rin saiu do banheiro encontrou uma Anna chocada do lado de fora olhando para cima da cama onde agora estavam arrumados cuidadosamente a maioria dos seus pertences. Além das poucas roupas, Rin tinha apenas trazidos dois livros e algumas coisas de higiene.
- Realmente não é muita coisa. - Anna murmurou - A senhorita só tem esses vestidos?
Rin olhou as 5 peças de roupa em cima da cama, três vestidos pretos e dois cinzas iguais ao que ela estava vestindo agora, de manga comprida e indo até os pés, liso sem nenhum detalhe, além do véu que cobria a cabeça. Além deles ela só tinha os hábitos, mas achou estranho usá-los ali. Tinha trazido também algumas camisolas simples.
- Sim só tenho esses Anna. Sou uma freira, nós não temos muitas coisas. - disse sorrindo naturalmente - Mas me encarregarei de lava-los, não precisam se preocupar.
- De jeito nenhum! É para isso que estou aqui. Eu peço desculpas pela minha indiscrição. - a criada respondeu rapidamente - Vou arrumar enquanto a senhorita estiver almoçando.
- Está tudo bem, de verdade. - Rin respondeu.
O almoço aconteceu tranquilamente, Kagome e Inuyasha estavam sentados do lado direito de Sesshoumaru sobrando para Rin o lado esquerdo imediatamente ao seu lado, ela estranhou, mas se sentou servindo-se em seguida. Era muita comida comparado ao convento, mas Rin limitou-se a comer para se satisfazer e ainda serviram sobremesa. De vez em quando um deles puxava um assunto e lhe incentivava que falasse também e ela respondia.
- Vou me atualizar do que aconteceu enquanto estive fora. - disse Sesshoumaru a Rin quando terminaram o almoço - Se precisar de mim é só pedir que me chamem. Por que não tira a tarde para descansar da viagem?
Ela concordou com a cabeça.
- Antes de ir, gostaria de conhecer o resto da casa? - perguntou Kagome.
À esquerda da sala de jantar há uma sala de estar com uma lareira que não parecia ter sido acesa recentemente. As paredes estavam adornadas com alguns poucos retratos de família, em molduras de madeira escura. Kagome mostrou-lhe alguns retratos antigos de Sesshoumaru ainda criança. Com seus longos cabelos prateados e olhos dourados, ele já exibia uma beleza inconfundível. Em todas as imagens, sua fisionomia séria contrastava com a de Inuyasha, que sorria livremente com ar travesso. Apesar da pouca diferença de idade, era muito fácil distinguir os dois irmãos. Passaram pelo escritório onde Sesshoumaru trabalhava e ouviram os homens conversando lá dentro, terminaram na ampla cozinha sendo saudadas pelas empregadas que limpavam e saíram para a varanda dos fundos.
Do lado de fora, a propriedade era vasta, a mesma visão que se tinha dos quartos imediatamente acima, com campos de cultivo onde se viam pessoas trabalhando e pastagens para o gado. Havia um celeiro antigo, com um silo que parecia ser usado para armazenar grãos. Rin também via a construção do novo celeiro que Sesshoumaru havia mencionado. O ar estava cheio do som de pássaros cantando e do vento soprando através das árvores. Rin gostou do que viu, era um cenário de paz.
Notes:
Hello pessoal!
Se você chegou até aqui deixe um comentário para a alegria do autor! Eu gostaria de saber o que vocês estão achando da história.Spoiler do Capítulo 5:
O toque de Sesshoumaru foi suave, mas profundamente perturbador. A leveza daquele gesto não fez com que ela se sentisse desprotegida; ao contrário, foi como se o mundo inteiro tivesse parado naquele instante. Ela não conseguia desviar o olhar, não conseguia se mover. Seus sentidos pareciam aflorar a cada segundo que passava. O tempo desacelerou, e todo o ambiente ao redor, iluminado pela luz dourada do fim de tarde, se tornou um borrão distante, como se ela estivesse no centro de algo muito maior, algo que ela ainda não conseguia compreender totalmente. Era o laço pulsando, insistindo que se entregasse a ele. Não importava o quanto Rin quisesse ignorá-lo, o laço continuava lá apenas adormecido e agora despertado pelo gesto íntimo de Sesshoumaru entre eles. Ele estava tão próximo agora que o aroma dos morangos na cesta se misturava com o perfume profundo de Sesshoumaru.....Nos vemos lá?
Chapter Text
Os dias no Éden e a tentação de Rin
Rin não sabia sobre história ou geografia o suficiente para descrever todos os continentes e reinos do mundo atual, mas sabia descrever a parte do mundo onde habitavam. A parte leste do mundo estava dividido entre continentes definidos pela sua natureza. Hortus, era o continente onde habitavam, conhecido como continente verde, onde haviam muitas florestas com grandes árvores que se estendiam até o horizonte, o que tornava um clima ameno, fresco e muito bom para se viver. As chuvas também eram abundantes tornando o solo fértil e propício para muitos tipos de plantações o que aumentava a prosperidade dos reinos, entre eles Verdânia, a capital do continente, onde habitavam. Além deste haviam o continente azul ou Aqua, com seus rios cristalinos e lagos abundantes, largamente banhado pelo mar em grande parte de sua costa, era famoso por desenvolver a pesca e agricultura. O continente amarelo, Irídia, muito quente, árido e seco, nele haviam muita areia e rochas sendo rico em minerais como ferro, ouro e bronze, sendo assim desenvolveu-se muito em tecnologia e também mineração, exportando inclusive para os outros continentes. E por fim havia Ignis, o Continente vermelho ou do fogo, esse era marcado pelos vulcões, desertos, cavernas, paisagens estéreis e desoladas e por poucos locais habitados. O continente do fogo pouco se desenvolveu nos milhares de anos existentes, tendo poucos habitantes humanos para controlar as bestas e monstros que viviam nesses locais, sendo assim eles se desenvolveram livremente, pois os humanos resistentes de antigos habitantes moravam em um único reino fortificado chamado Calidus e bastavam apenas uma oportunidade para fugirem dali. Com o passar do tempo os monstros começam a migrar e invadir outros continentes ameaçando tomar o controle de reinos. O continente do fogo fazia divisa com os continentes da água e da terra.
Nesse contexto a magia era algo extremamente raro e pouco compreendido no mundo, poucos humanos sabiam manejá-la, o que exigia anos de estudo em um lugar sigiloso e sob a tutela de nenhum dos continentes e ainda uma autorização especial para manejá-la. Aqueles que possuíam esse dom eram considerados especiais e muitas vezes temidos. A magia era vista com mistério e respeito, e aqueles que a possuíam eram frequentemente procurados por reis e rainhas para ajudar em momentos de necessidade. No entanto, a magia também era vista com medo e desconfiança por muitos, que não entendiam sua natureza e temiam seu poder.
Logo no reino da terra o rei Haku lutava constantemente para garantir que os monstros não atravessassem suas fronteiras. A família de Haku havia construído ao longo dos anos uma muralha para separar os continentes e afastar os monstros e mantinham sua manutenção constante ainda assim nos últimos meses os casos de monstros aparecendo nas cidades próximas a muralha e até mais além havia feito com que o rei designasse um pelotão de patrulha permanente na muralha, tudo sob o controle de Sesshoumaru. Agora Rin entendia que no dia em que se conheceram Sesshoumaru estava retornando de uma batalha em uma dessas cidades. No fim da noite Rin já estava recolhida em seu quarto, não havia visto Sesshoumaru desde que chegaram em Éden, ele permanecia trancado no escritório com seu irmão.
- Os homens descobriram uma caverna próximo de onde o Troll foi encontrado. Acho que estavam abrigados lá, mas não sabemos quantos haviam. - disse Sesshoumaru preocupado a Inuyasha, já havia escurecido faz tempo, mas os dois homens continuavam reunidos no escritório discutindo sobre os últimos dias - Estou muito preocupado, não estamos tão perto da fronteira assim pra que eles tenham chegado até aqui, e onde estão os demais? Estou pensando em pedir ajuda a Haku e organizar uma caçada para os próximos dias, antes que eles comecem a atacar. - Sesshoumaru passou uma mão pelos longos cabelos prateados.
Troll eram criaturas grandes e fortes com olhos pequenos e malignos, cabelos e peles desgrenhadas e sujas, bocas largas e cheias de dentes. Eram conhecidos por serem agressivos e malvadas, atacando aldeias e viajantes, saqueando tudo por onde passavam.
- Eu concordo, prepare uma carta para Haku enviarei da cidade amanhã. - respondeu Inuyasha - Pensei em avisar a Miroku sobre a situação e pedir que reforce a segurança nos portões de entrada avisando aos viajantes sobre o perigo.
- Vou escrever a carta e acho que devemos avisar a Miroku sim, mas temos que ter cuidado para não criar pânico entre as pessoas. - Sesshoumaru suspirou pegando um papel em uma gaveta.
- Você está claramente cansado irmão, precisa descansar um pouco. - comentou Inuyasha - Mas vejo que você e a Rin estão melhor pelo menos, a convivência também parece estar melhor.
- Às vezes eu acho que finalmente a Rin está cedendo um pouco daí ela volta e desfaz todo progresso entre nós. - respondeu Sesshoumaru.
Alguém bateu na porta interrompendo Sesshoumaru. Era Kagome.
- Queridos o jantar já foi servido a tempos, vocês ainda pretender comer? Ahh vocês estão indo agora? Que ótimo! - disse Kagome com ironia.
- Querida são assuntos urgentes. - respondeu Inuyasha.
Kagome lhe lançou um olhar duro.
- Aproveite bem a sua solteirice enquanto ainda tem. - disse Inuyasha à Sesshoumaru. - Deixe a carta para amanhã cedo.
Então os dois homens se levantaram para jantar.
- A Rin já jantou? - perguntou Sesshoumaru enquanto caminhavam.
- Já jantou e se recolheu. - respondeu Kagome olhando para o cunhado de soslaio - Ela é uma moça muito tímida, pouco fala.
- Ela chegou hoje Kagome. Dê-lhe um tempo e logo ela se soltará, mas talvez precise de um pouco de paciência. As vezes ela pode ser difícil.
No dia seguinte quando Anna bateu a porta Rin já havia acordado e feito suas orações, a criada encheu a banheira e Rin tomou um banho colocando agora um dos vestidos pretos quando saiu do banho recebeu um olhar sentido de Anna que ela fingiu não entender.
- Posso pentear seus cabelos? - Anna perguntou.
- Me fale um pouco sobre a rotina da casa. - pediu Rin a criada enquanto sentava-se em frente a penteadeira.
Anna lhe soltou os cabelos admirando o quanto eram longos e cheios, e aos solta-los emolduravam o rosto de Rin, enquanto fazia uma linda trança ela falou dos horários, das refeições e da rotina de um pouco de cada um. Rin percebeu que não tinha nada para fazer ali e de alguma forma poderia atrapalhar alguém.
- Não há nada para mim aqui. - disse Rin a Anna enquanto pegava o véu para colocar sobre a cabeça sob outra vez o olhar triste de Anna.
- O que costuma fazer quando está no convento? - perguntou a criada enquanto arrumava a penteadeira.
- Nesse horário eu ajudo na cozinha. - respondeu Rin - A tarde eu vou para escola.
- A senhorita ensina na escola? - perguntou Anna com os olhos brilhando recebendo uma confirmação de Rin - Quando tiver um tempo pode me ensinar a ler também?
- Claro Anna, lhe ensinarei.
- Vamos para o café da manhã. - disse Anna - Depois posso levá-la à horta e ao pomar se senhorita quiser, são próximos a casa.
Quando Rin chegou a mesa todos já estavam sentados se servindo.
- Bom dia. Eu peço desculpas pela demora. - ela disse.
Rin notou que recebeu de Kagome o mesmo olhar estranho e confuso de Anna.
- Bom dia Rin. - disse Sesshoumaru - Nós acabamos de sentar, você não está atrasada.
Logo Inuyasha e Kagome começaram a conversar entre eles enquanto Sesshoumaru lia o que parecia um jornal.
- O que devo fazer hoje? - perguntou Rin a ele.
- Você tem liberdade para fazer o que quiser e ir onde quiser desde que esteja acompanhada. Desculpe não posso lhe acompanhar hoje pois preciso resolver pendências de quando fiquei fora e a questão do Troll. - disse Sesshoumaru.
- Anna sugeriu que fôssemos ao pomar e a horta. - comentou Rin.
- É uma ótima ideia. Eu posso acompanhá-las. - disse Kagome.
Sesshoumaru concordou.
Após o café da manhã às moças rumaram ao pomar a poucos metros da casa. Era uma estufa feita de lona branca e telas repleto de verduras e legumes frescos a serem colhidos: tomates, cenouras, beterrabas, cebolas, folhas verdes e muito mais saltavam aos olhos de Rin deixando tudo colorido e muito suculento. Enquanto caminhavam entre as fileiras foram surpreendidas por uma senhora.
- Bom dia senhora Kikyou. - saudou Kagome - Essa é a nossa cozinheira. A senhora Kikyou é irmã da nossa governanta Kaede. - disse Kagome a Rin.
- É um prazer conhecê-la. - disse Rin.
- É um prazer para mim também. - disse a senhora - Quando soube quem a senhorita era me deu uma ponta de esperança de colocar um jeito na vida do Sesshoumaru.
Rin corou.
- Ah eu… - ela não soube o que dizer - Sou apenas uma convidada do senhor Taishou.
- Estávamos mostrando sua horta a Rin senhora Kikyou. - Kagome desviou o assunto - É um paraíso.
- Obrigada pelo elogio, mas agora preciso ir. Minha ajudante está de cama, tenho tarefa dobrada hoje.
- Se a senhora não se importar eu posso ajudar na cozinha, eu faço isso no convento. - disse Rin - Eu não tenho nada para fazer mesmo.
- Imagina só a primeira convidada de lorde Taishou em sua casa me ajudando na cozinha e no seu primeiro dia aqui. - disse a senhora - Isso é impensável.
- Lorde Taishou me deu liberdade de fazer o que desejar e eu já decidi que hoje vou ajudá-la na cozinha. - disse Rin tomando rapidamente a cesta de legumes da mão da velha senhora sem dar chance dela se recusar – Vamos?
A manhã passou rápido enquanto Rin cortava legumes e ajudava a senhora na cozinha, logo apareceu a governanta Kaede pra também lhe convencer que “como convidada do lorde Sesshoumaru não deveria trabalhar na cozinha” mas ela fez questão de continuar trabalhando ouvindo um “teimosa como o Sesshoumaru“ como resposta. Logo ela começou a misturar os ingredientes, enquanto conversava com algumas empregadas que estavam sentadas ao redor da mesa.
- Você sabia que temos uma variedade de especiarias plantadas na propriedade? – perguntou a senhora Kaede, com um sorriso.
Rin se virou para ela curiosa.
- Não, não sabia. Quais especiarias vocês têm?
A senhora Kaede começou a enumerar as especiarias, contando nos dedos.
- Nós temos gengibre, alho, salsa, coentro... e muitas outras. Sesshoumaru é muito exigente com a qualidade das especiarias, então nós nos esforçamos para cultivá-las com cuidado.
- Então quer dizer que ele é exigente com a comida? – Rin preocupou-se – Não sei se meu prato estará a seu gosto então, talvez eu não devesse ter tomado a frente disso.
- Mas seu prato está com um cheiro delicioso! O que você está fazendo?
- Estou preparando um prato de tempurá. É uma receita que aprendi a muitos anos atrás, as irmãs no convento sempre gostam quando eu faço.
- Pra mim ele parece muito apetitoso – disse a senhora Kikyou – Deixe-me provar um pouco.
O tempurá de Rin era uma mistura de sabores e texturas muito agradável. Os pedaços de legumes foram misturados a finas fatias de frango e cobertos por uma camada fina de massa que ela fritou lentamente. Um toque leve de gengibre e alho que completava perfeitamente os ingredientes.
- Você é uma verdadeira artista na cozinha! – disse a senhora Kikyou – Está maravilhoso Rin!
Logo todos quiseram provar o tempurá. Os empregados começaram a compartilhar histórias e risadas, e Rin se sentiu cada vez mais à vontade e isso a fazia se sentir feliz.
Os dias viraram uma semana lentamente para Rin. Estava sempre ajudando a senhora Kikyou na cozinha, ou Kagome com os preparativos pro bebê ou a senhora Kaede em algo quando ela permitia. No tempo livre ensinava Anna a escrever e lia livros da coleção da biblioteca. Sesshoumaru estava sempre muito ocupado e acabavam se vendo pouco, mas ele sempre emitia preocupações com seu bem estar.
Era fim da tarde de um dia quando pela janela do escritório Sesshoumaru viu as mulheres caminhando da estufa para casa, tagarelando, alegres e suadas. Estavam voltando de uma colheita pelo cesto embaixo do braço. Ele achava desafiador como Rin continuava usando o hábito e o véu mesmo com tanto calor na primavera em Éden, o que acentuava a personalidade obstinada da jovem.
- Ainda bem que não comercializo morangos ou vocês já teriam me dado prejuízo. - disse ele interceptando-as na varanda antes de entrarem na cozinha.
- É maravilhoso, senhor Sesshoumaru! – disse Rin, empolgada, virando a cesta na direção dele. – Veja que lindos morangos, grandes e brilhantes! Isso é um tesouro, na cidade não encontramos como esses na feira!
Sesshoumaru observou como o tom da voz dela mudava quando estava feliz, talvez fosse a primeira vez que a visse assim. Seus olhos se fixaram nos morangos, mas sua atenção estava em Rin. Ele notou como seu rosto se iluminava com um sorriso, como seus olhos brilhavam de entusiasmo. Rin continuou a falar, sua voz cheia de alegria.
- Eles são tão doces e frescos! Eu adoro morangos. Na cidade, os morangos da feira são sempre tão pequenos e sem graça. Esses são especiais. Mal posso esperar para fazer uma torta com calda de morangos.
Sesshoumaru se sentiu atraído pela alegria de Rin, e se aproximou mais dela.
- Sim, esses morangos são mesmo especiais. Deixe-me provar um então.
Rin olhou para dentro da cesta, os olhos brilhando ao encontrar um morango grande, vermelho e maduro, tão perfeito que parecia irreal. Ela o pegou e, com um sorriso ansioso, estendeu-o para Sesshoumaru, esperando compartilhar aquele pequeno gesto com ele. Mas o que ela não esperava era que ele segurasse sua mão de forma inesperada, conduzindo-a lentamente até sua boca. Quando ele apanhou o morango, seus lábios tocaram suavemente os dedos de Rin, e ela ficou paralisada.
O toque de Sesshoumaru foi suave, mas profundamente perturbador. A leveza daquele gesto não fez com que ela se sentisse desprotegida; ao contrário, foi como se o mundo inteiro tivesse parado naquele instante. Ela não conseguia desviar o olhar, não conseguia se mover. Seus sentidos pareciam aflorar a cada segundo que passava. O tempo desacelerou, e todo o ambiente ao redor, iluminado pela luz dourada do fim de tarde, se tornou um borrão distante, como se ela estivesse no centro de algo muito maior, algo que ela ainda não conseguia compreender totalmente. Era o laço pulsando, insistindo que se entregasse a ele. Não importava o quanto Rin quisesse ignorá-lo, o laço continuava lá apenas adormecido e agora despertado pelo gesto íntimo de Sesshoumaru entre eles. Ele estava tão próximo agora que o aroma dos morangos na cesta se misturava com o perfume profundo de Sesshoumaru.
Mas Sesshoumaru não se conteve no simples toque — ele lambeu lentamente os dedos dela, onde o suco do morango havia escorrido, e a palma da mão, fazendo um calor subir pelo corpo de Rin. Sua pele ficou arrepiada, não apenas pela sensação, mas pela intensidade do momento. A língua dele sobre sua pele era um toque desconhecido, tão íntimo que fez seu coração disparar e seu estômago se revirar. O que era aquele calor? Aquele magnetismo, como se o gesto de Sesshoumaru fosse a chave para algo profundo e incontrolável entre eles? O laço entre os dois parecia pulsar com uma força crescente, como se o simples contato os conectasse em algo que não podia ser nomeado, mas que Rin sentia intensamente, como uma chama prestes a se alastrar.
Ela sentiu a atração como algo físico, quase doloroso, e ao mesmo tempo, uma vulnerabilidade inesperada. Nunca imaginara que um simples gesto pudesse a deixar tão exposta, tão entregue. Cada fibra do seu corpo parecia estar em sintonia com ele, e, ao mesmo tempo, sentia uma timidez imensa crescer dentro de si. O calor da sua própria pele parecia queimá-la, e ela se perguntava se ele poderia sentir a aceleração do seu coração, o tremor em suas mãos, a fragilidade de seu ser diante daquela situação. Quando Sesshoumaru ergueu a cabeça, com um sorriso sutil nos lábios, Rin se apressou a retirar a mão, sentindo-se repentinamente tonta. Quase deixou a cesta cair, seus dedos estavam tão trêmulos que não conseguiu segurá-la com firmeza.
- Sesshoumaru! - ralhou ela completamente ruborizada de vergonha pelo ato tão íntimo entre eles.
Sesshoumaru riu alto.
- Você finalmente acertou me chamar pelo meu nome. - disse Sesshoumaru – Você está bem? Deixe-me ajuda-la. – ele estendeu a mão em sua direção.
- Você não deveria ter feito isso! - disse ela meio trêmula segurando a mão outrora lambida por Sesshoumaru como se estivesse machucada.
- Ora mais por que? Eu só aceitei o morango que você me ofereceu.
O que ele deveria dizer? Que ele havia tomado intimidade demais? Que aquilo mexeu com ela como ela nunca tinha sentido e nunca achou que um homem faria?
- Acalme-se está bem? - disse Sesshoumaru - Isso não foi nada demais. O que eu pensei que queria que viesse depois era bem pior aos seus olhos.
Ele pensou algo mais? O que ele pensou que era pior que isso? A curiosidade atiçando Rin enquanto ela olhava com raiva pra ele.
- O que quer dizer? - Rin perguntou.
Sesshoumaru inclinou-se sobre ela falando baixo ao seu ouvido.
- Um dia Rin eu almejo provar o sabor do morango diretamente dos seus lábios. - disse ele provocativo. - Imagino que seja...
Rin soltou um gritinho baixo interrompendo-o e escondeu o rosto entre as mãos.
- Não sei porque me dei o trabalho de perguntar. Eu não permiti que tomasse tais liberdades comigo. Por favor contenha-se! - disse ela empurrando-o para mais longe e correndo porta da cozinha a dentro rumo ao quarto, deixando Sesshoumaru sorrindo vitorioso para trás.
- Então Rin, eu também sei provocar.
Notes:
Hello pessoal!
Estive com um bloqueio para conseguir escrever ultimamente (porque surgiu uma ideia para uma próxima fanfic, mas não quero escrever nada antes de terminar essa), estou trabalhando agora nos capítulos 12 e 13.
Esse capítulo ficou grande demais. Vocês estão gostando de acompanhar essa história? Por favor mandem comentários! Tentarei fazer as atualizações serão a cada 15 dias. Nos vemos lá?
Chapter Text
A Noite em que o Céu se Rompeu
A imagem das lavandas chegou antes mesmo que Rin visse o campo. Era como se o vento anunciasse um fim de tarde perfeito — um mar lilás perfumado entre as colinas. Desde que ouvira falar daquele lugar, ela sonhava em caminhar por entre as flores, e quando Anna sugeriu a visita, a alegria de Rin floresceu com um largo sorriso. Kagome, ao vê-la tão animada, lamentou não poder ir junto tendo os pés bastante inchados, desculpou-se com um sorriso cansado da gravidez avançando.
A visão do campo era como uma pintura recém feita por um pintor muito habilidoso com cores vivas e vibrantes. Ele estendia-se diante de Rin como um mar lilás perfumado, ondulando suavemente ao vento. As flores de lavanda, com suas hastes finas e delicadas, dançavam ao ritmo da brisa, liberando um aroma doce e suave no ar. As pétalas das flores eram de um lilás profundo e rico, com uma textura aveludada que parecia convidar Rin a tocá-las. À medida que Rin andava pelo campo, as lavandas pareciam fechar-se ao seu redor, criando um túnel de cor e fragrância. O sol brilhava timidamente entre as nuvens sobre o campo, Kaede mostrou a Rin as diferentes variedades de lavandas e explicou como elas eram usadas em perfumes e chás que eram vendidos para outros reinos. Rin estava fascinada e fez muitas perguntas, enquanto ia aprendendo mais sobre o cultivo das flores. Kaede sorriu em aprovação. À medida que o sol começou a se pôr, as mulheres se despediram do campo de lavandas e voltaram para casa, Rin havia feito pequenos buquês de lavanda conforme Kaede lhe ensinou, eles seriam usados para perfumar os ambientes da casa de Sesshoumaru.
Elas começaram uma pequena subida de volta ao casarão principal, o caminho era estreito e sinuoso, quando o vento começou a soprar forte levantando poeira e balançando as folhas secas das árvores que cercavam a fazenda. O céu, que minutos atrás exibia tons dourados e suaves, agora estava sendo coberto por nuvens escuras, pesadas e carregadas que se aproximavam aos poucos mudando o clima de repente. Anna apertou o xale em volta dos ombros.
— Que estranho... o tempo mudou tão depressa. – comentou.
Kaede parou, observando o horizonte. O olhar dela se estreitou, uma sombra de lembrança passando por seus olhos cansados.
— Essa ventania... — murmurou — não me é estranha.
Rin, que caminhava alguns passos à frente, virou-se preocupada.
— A senhora já viu algo assim antes, senhora Kaede?
A anciã assentiu lentamente, a voz tomada por um tom grave.
— Sim. Todos os anos o céu se fecha em Éden no fim das colheitas, vem aí uma grande tempestade.
— Me lembro do ano passado, perdemos alguns animais e quase arruinou uma parte do silo. – disse Anna.
Rin segurou firme o pequeno buquê de lavandas que trazia consigo — algumas pétalas se soltaram, levadas pelo vento, a outra mão segurando o véu na cabeça.
— Mas não tem com que se preocupar, Sesshoumaru sabe o que fazer — disse Kaede para tranquilizá-la.
Elas apressaram o passo pela trilha estreita, as saias chicoteando com o vento. Quando o casarão finalmente surgiu ao longe, uma chuva fina começou a cair. A alguns metros do novo celeiro Sesshoumaru e Inuyasha conversavam quando Jaken os alcançou.
— M-meu senhor! — chamou ofegante, a voz quase engolida pelo vento. — As nuvens estão se reunindo rápido demais. Acredito que logo logo a grande tempestade chegará, assim como nos anos anteriores a direção do vento mudou e os animais estão mais agitados.
— Ainda falta um tempo para a finalização do novo celeiro. – disse Sesshoumaru olhando preocupado as nuvens nos céus reconhecendo o que estava por vir – Comece a nos preparar agora mesmo Jaken: reforcem o velho celeiro, também os portões dos estábulos, selem a porta do silo, reúnam provisões para os animais. Faça o que puder para minimizar os danos, já aprendemos muito com os anos passados. Enquanto Jaken se apressava em distribuir ordens, uma voz feminina — firme e surpreendentemente serena — soou atrás deles:
— Se me permite, Lorde Taishou, posso ajudar na organização das coisas.
Sesshoumaru voltou-se e, por um instante, pareceu hesitar.
— Reika?
A mulher fez uma reverência breve, com o manto ainda molhado da estrada.
— Meu senhor minha irmã esteve doente, mas já se recuperou. Acabei de chegar de viagem e ouvi dizer que a tempestade se aproxima, vim oferecer minha ajuda.
Reika sempre fora conhecida por sua eficiência — e por uma antiga lealdade a Sesshoumaru. Mas havia, nessa lealdade, algo mais profundo que mero dever: uma devoção silenciosa, moldada em anos de convivência e uma intensa admiração contida. Ela o servira em tempos difíceis, quando eles ainda eram dois jovens de apenas vinte anos. Reika conhecia seus hábitos, suas ausências, os gestos mínimos que denunciavam sua impaciência ou preocupação. Ela estava com a mesma elegância contida de sempre, os cabelos castanhos presos num coque com perfeição, sem um fio fora do lugar. O vestido que usava, de um verde escuro e profundo, com tecido, embora simples, tinha um caimento suave e discreto, e o cinto de couro trançado marcava sua cintura com natural graça. O colarinho fechado por um pequeno broche de prata dava-lhe um ar de dignidade silenciosa. Reika era o próprio retrato da austeridade feminina, mas havia algo de cortante em sua beleza — um equilíbrio entre o frio e o frágil. Os olhos castanhos, atentos e silenciosos, pareciam medir não apenas os detalhes ao redor, mas também o espaço que Sesshoumaru ocupava — o mesmo espaço que ela, há tanto tempo, desejava e jamais ousou reivindicar.
— Sua volta é oportuna — disse Sesshoumaru, em tom neutro. — Procure a senhora Kaede e tomem as providencias necessárias dentro do casarão, da horta e da estufa.
— Sim, meu senhor. — Ela se curvou levemente, com um meio sorriso. — Irei cuidar disso agora mesmo.
Reika caminhou até a cozinha, o som de suas botas molhadas ecoando nas pedras do pátio. As mulheres recém chegadas do campo de lavandas compartilhavam um chá para aquecer-se da ventania de fora.
— Senhora Kaede. — Ela se inclinou ligeiramente. — Voltei mais cedo. A saúde de minha irmã melhorou, e achei melhor regressar antes do outono.
— Fez bem. — respondeu Kaede — Voltou em boa hora.
— Ah, você deve ser Rin. — disse Reika com um sorriso breve, quase educado demais. — Antes de partir ouvir falar de você, a nova dona da casa.
— Eu... não sou dona de nada. — respondeu Rin, desconcertada, mas mantendo o tom gentil – Sou apenas uma hóspede do senhor Taishou.
— Hum. Eu sou Reika, sirvo ao Lorde Taishou a muitos anos. — Reika inclinou a cabeça levemente, o olhar frio percorrendo-a de alto a baixo. — O senhor Taishou nunca teve uma hóspede antes em sua casa e ainda assim, você parece bastante à vontade aqui para ser apenas uma hóspede passageira.
O comentário passou como uma lâmina envolta em seda. Os empregados próximos trocaram olhares discretos. Havia algo inquietante e intimidador no olhar de Reika. Rin sentiu um arrepio lhe percorrer.
— Fui bem recebida por todos. Estou muito grata. – respondeu Rin ainda em tom gentil.
— Certo. – Reika manteve o olhar duro sobre a outra, mas logo desviou olhando para Kaede disse suavemente – Lorde Sesshomaru nos pediu que preparasse o casarão para a chegada da tempestade. Pode deixar comigo a divisão de tarefas senhora Kaede. Já que temos muita experiência quando se trata da vida em aqui na fazenda.
Kaede concordou suspirando em silêncio. Sabia mais do que dizia, reconheceu no olhar de Reika um tipo de ressentimento que não se dissipa com o tempo. Ali nascia algo que podia prejudica-la se ela não soubesse conter. Kaede sabia que a jovem não desejava o mal de Sesshoumaru, quanto a Rin já não podia dizer o mesmo.
O dia seguinte foi de correria, os empregados corriam de um lado para o outro tomando providencias para a chegada da tempestade, amarrando janelas, recolhendo ferramentas, podando as árvores. O vento sacudia tudo no caminho, o ar tinha sempre um cheio molhado e às vezes uma chuva fina caía como que anunciando o que viria. Já havia anoitecido a um tempo quando Sesshoumaru atravessou o pátio com passos largos, o manto pesado batendo contra as pernas.
— Quero todos abrigados. — gritou. — Tranquem os portões! Ninguém fica aqui fora quando o próximo trovão cair!
— Já trancamos quase todas as dependências, senhor. Para garantir que os animais fiquem seguros, pregamos as portas do celeiro e do estabulo com tábuas. Só falta trancar o galpão de ferramentas. – respondeu Jaken.
Sesshoumaru assentiu. — Faça isso agora Jaken. A chuva está aumentando.
Em poucos minutos a chuva fina deu lugar a gotas grossas e violentas, estalando como pedras no telhado. O primeiro trovão caiu tão perto que parecia fazer o chão estremecer. Rin ajudava as mulheres a fechar as cortinas da casa principal, mas o vento entrava pelas fendas sacudindo-as violentamente, apagando os lampiões que iluminavam os ambientes, os relâmpagos riscavam o céu noturno um atrás do outro, o barulho lá fora era ensurdecedor. Quando o viu no pátio enxarcado Rin se assustou, mas manteve o olhar fixo em Sesshoumaru. Ele não se movia. Ficava imóvel no meio do pátio, olhando o horizonte como se esperasse algo — ou desafiasse o próprio céu. A chuva enchia os baldes nas varandas e formava riachos pelo chão de terra.
— Sesshoumaru! – ela gritou, como se despertado de um transe Sesshoumaru correu de volta para casa – Você está bem?
— Estou. Só me senti impotente de não poder fazer mais.
A tempestade desabou de vez.
— É assim todos os anos? — ela perguntou.
— É. — respondeu ele, sem tirar os olhos da escuridão. — Parece que tem ficado mais forte a cada ano. Quando eu era garoto, meu pai costumava me falar sobre essa tempestade. Ela sempre encerra a primavera em Éden. — fez uma pausa breve, a voz mais suave. — Já a testemunhei tantas vezes... E ainda assim, toda vez parece diferente. Não há muito o que possamos fazer agora. Vamos nos preparar para o jantar.
Rin estava assustada nunca tinha visto algo igual antes. O vento continuou a soprar com força, chicoteando as árvores e fazendo-as balançar violentamente. As folhas e galhos se partiam e voavam pelo ar chocando-se contra as paredes, criando um turbilhão de sons e movimentos. A tempestade rugia e se enfurecia, como se estivesse determinada a varrer tudo do seu caminho numa cortina densa e constante de água. Os relâmpagos se sucediam, iluminando a paisagem com flashes de luz branca e azulada. Os trovões ecoavam alto, fazendo tremer as janelas e as portas. Sesshoumaru e Inuyasha haviam desaparecido de vista, provavelmente tomados por algum arranjo de última hora. Ninguém parecia interessado em comer, todos estavam agitados e aflitos, algumas empregadas rezavam em sussurros igualmente a Rin rezava em seu coração. Ela fechou os olhos e juntou as mãos em uma oração silenciosa, pedindo proteção e segurança "Por favor, que a tempestade passe logo", sussurrou ela, "e que todos estejam seguros". Ela sentiu um leve conforto ao dizer as palavras, mas elas mal tinham saído quando um trovão mais forte que os anteriores estrondou fortemente no céu. E um raio com luz tão intensa que iluminou as janelas do casarão, fazendo com que Rin estremecesse.
— O celeiro! — alguém gritou do lado de fora — O raio atingiu o celeiro!
Sesshoumaru como que surgido do nada descia as escadas rapidamente seguido Inuyasha, quando chegou na cozinha Jaken ensopado já corria em direção ao casarão, cambaleando sob o vento e água incessante.
— O raio atingiu parte do celeiro e do estábulo. O fogo começou pelo telhado, senhor!
— Apolo! – gritou Sesshoumaru saindo sem hesitar ao encontro de Jaken — Tragam as ferramentas para abrir as portas que foram seladas! – Sesshoumaru dava ordens no meio da lama – Reúnam todos os homens para salvar os animais!
Rin o chamou, mas ele já sumia na chuva. O instinto falou mais alto que o medo naquele momento — ela pegou um manto e correu atrás dele. O pátio era um caos. O celeiro ardia como um pequeno farol no meio da tempestade. A aflição atingia Sesshoumaru enquanto ele quando de repente notou Rin ao seu lado apreensiva. A chuva os cobriu, fria e feroz.
– O que você faz aqui? – ao ver que ela o seguia ele gritou mais alto do que os trovões no céu, os cabelos prateados ensopados grudados no rosto – Volte para dentro Rin. Agora!
— Não! Todos estão ajudando, me diga o que fazer. – gritou ela de volta.
— Não, volte para dentro agora. Não quero que se machuque e não tenho tempo de discutir com você. Outro raio pode cair a qualquer momento.
— Não vou voltar Sesshoumaru, todos estão ajudando, me deixe ajudar. – ela disse com obstinação.
Nesse momento, Reika surgiu correndo do lado oposto do pátio, o cabelo solto, encharcado, colando-se ao rosto e ao pescoço. Ela estava sem manto — apenas a blusa branca, agora quase transparente sob a chuva, marcando seus seios volumosos. Mas ela parecia alheia a isso; o olhar, cortante, ia direto a Sesshoumaru.
— Meu senhor! — gritou, aproximando-se. — As paredes do estábulo estão cedendo! Os animais estão enlouquecendo!
— Diga a Kaede que junte todos os baldes que puder e entregue aos homens! Não vamos esperar a chuva apagar o fogo! – disse Sesshoumaru virando-se para ela – Nossa prioridade são os animais!
Reika assentiu com firmeza, mas seus olhos desviaram para Rin — demorando mais do que o necessário.
— Sim, meu senhor. — fez uma breve reverência, a voz carregada de tensão e se afastou rapidamente.
As chamas laranjas subiam, lutando contra a chuva forte que tentava apagá-las. Lá de dentro se ouvia os guinchos assustados dos animais, Jaken e os homens formavam uma fileira, passando baldes de mão em mão, jogando água sobre as paredes. Mais adiante, Inuyasha e dois camponeses lutavam para remover os reforços das portas — a madeira inchada pela água tornava o trabalho quase impossível e mais dificil sob a chuva pesada. O som dos relâmpagos e trovões se misturavam ao mugido dos bois e ao relinchar dos cavalos assustados. Finalmente Inuyasha escancarou as portas do celeiro e dezenas de porcos, galinhas, vacas e outros animais descontrolados irromperam fugindo do fogo e do calor pela porta. Pedaços do telhado haviam caído sobe o feno estocado para alimentar os animais por isso o fogo havia se alastrado rapidamente. Sesshoumaru entrou no celeiro para averiguar a situação deixando Rin sozinha do lado de fora. Rin correu alguns passos em direção à entrada.
— Sesshoumaru! — gritou, em desespero.
Reika se aproximou, segurando-a pelo braço com força.
— Não seja tola! — disse, entre dentes. — Ele sabe o que faz! Você vai só atrapalhar!
— Solte-me! — Rin tentou se desvencilhar. — Eu não vou deixá-lo lá!
Reika a segurou mais forte, a raiva visível.
— Você também não vai ajudar se acabar se machucando. Só vai ser mais um fardo nessa confusão.
Nos segundos seguintes Inuyasha e os homens conseguiram abrir a porta do estábulo, menos atingido pelo raio, mas os cavalos estavam presos em suas baias, seria necessário abrir os ferrolhos de cada um e traze-los para fora pois estavam muito assustados. Jaken deixou os homens aos cuidados de apagar o fogo e entrou no estábulo com Inuyasha.
— Chame mais homens para ajudar aqui. — o capataz gritou para Reika, correndo para dentro do estábulo.
Sesshoumaru continuava fora de vista, dentro do celeiro. Quando a mulher se afastou Rin segurou o manto contra o rosto para se proteger da fumaça e entrou no estábulo. Lá dentro, o calor era insuportável. As vigas estalavam. O ar era denso, quase irrespirável. Rin ouviu os cavalos relincharem — um som de puro pavor.
— Eles estão presos! — gritou, tentando desatar a corda de um dos animais. — Me ajude aqui!
— Rápido moça, saia daqui agora. – disse Jaken golpeando o nó com uma faca – O patrão me mata se algo acontecer com a senhorita!
— Deixe-me ajudar pelo menos abrindo as baias, todos estão ocupados – disse ela abrindo outro ferrolho enquanto Jaken e Inuyasha puxavam os animais assustados para fora. Outro relâmpago iluminou o estábulo inteiro. Todos tossiam muito com a fumaça, mas não paravam, estavam determinados em salvar os animais.
— Vamos, menina, falta pouco! – gritou Jaken de algum lugar.
O vento uivava, a chuva cortava como agulhas.
— Calma… calma, por favor… — Rin murmurava. Um dos animais empinou, quase acertando-a.
Sesshoumaru surgiu na porta, a capa encharcada, os olhos faiscando como os relâmpagos lá fora.
— Saia daí agora Rin!
Ela o ignorou. Agarrou a corda de um potro e começou a puxá-lo para fora, tossindo com a fumaça. Quando uma pequena viga do telhado cedeu, Sesshoumaru a puxou para perto, envolvendo Rin com o braço. O impacto os jogou contra a parede, e por um instante, tudo era fogo, chuva e respiração ofegante. Rin arfava, os olhos marejados. Sesshoumaru pousou a mão sobre o rosto dela, afastando os fios molhados deixando seu rosto sujo de fuligem.
— Você é insensata — ele gritou, a voz rouca – Vou me culpar para sempre se algo acontecer com você.
— Brigue comigo outra hora. — ela respondeu tentando se desvencilhar dele.
— Me obedeça como na carruagem e deixe isso para os homens! – Sesshoumaru gritou segurando-a pelos ombros com firmeza, mas sem machucá-la, seus olhos cansados suplicavam que ela acatasse a ordem. Rin decidiu não insistir mais e dando meia volta saiu do estábulo.
— Jaken e Inuyasha! — Sesshoumaru gritou. — Vamos tirar o resto dos animais!
Assim o trabalho avançou pela madrugada, homens e mulheres passavam baldes apagando o fogo, cuidando dos animais assustados. O som do trovão, da água e das vozes humanas se misturava — um coro de sobrevivência. Depois de longas horas de esforço o sol mal nasceu, tímido, filtrado por uma névoa úmida e uma chuva ainda persistente, mas fraca que cobria toda a fazenda. As poças refletiam o céu pálido, e o ar ainda cheirava a fumaça e terra molhada. Rin estava sentada na varanda da casa principal, enrolada em um manto. Suas mãos ainda tremiam um pouco e o peso do cansaço a consumia, mas havia paz em vê-los — os trabalhadores, homens e mulheres, todos a salvo. O velho celeiro agora era apenas uma sombra que fumegava no campo. Jaken já estava lá, mesmo mancando levemente, organizando os reparos.
— Vamos precisar de mais tábuas agora e é melhor contratar uns trabalhadores extras para acelerar a construção do novo celeiro, por enquanto vamos ter que improvisar um abrigo para os animais, mas os reparos nos estábulos não serão demorados. — dizia, riscando algo num pedaço de madeira. — O poço deve estar cheio de fuligem.
— Vamos fazer somente o extremamente necessário hoje, todos precisam descansar. As demais atividades estão dispensadas, amanhã cuidamos dos detalhes.
— Sim, senhor. – disse o capataz saindo ainda anotando várias coisas na madeira.
Sesshoumaru se aproximou dela em silêncio, com o manto aberto e os cabelos e as roupas ainda úmidos. Não haviam se falado desde o momento no estábulo. Rin o observou de relance — ele parecia exausto, mas calmo. Sesshoumaru assentiu, olhando o horizonte. Rin acompanhou Jaken com o olhar.
— Ele parece cansado.
— Todos estão. — Sesshoumaru cruzou os braços. — Mas ele é o tipo de homem que só descansa quando o trabalho termina.
Rin sorriu de leve. — Então é igual a você.
— Vai demorar uns dias até que Éden entre no ritmo outra vez. – ele comentou baixo.
Rin baixou o olhar, mexendo nas dobras do manto.
— Ontem à noite, achei que você poderia perder tudo, ou melhor, que todos vocês iriam perder tudo. – disse ela olhando ao redor, homens e mulheres que mesmos cansados continuavam trabalhando em todo lugar e ajudando uns aos outros – Eu sei que me precipitei, mas não podia ficar na segurança enquanto todos davam tudo de si para salvar esse lugar.
— Não perdemos — ele respondeu mais brando – Mas tive medo de algo acontecer com você, todos nós aqui estamos acostumados com a vida dura do campo, a trabalhar do nascer ao deitar do sol e defendermos o que amamos. Ainda assim agradeço que tenha pensado em defender nosso lar.
“Nosso lar” ele se referia a ela também? O vento trouxe o cheiro da lenha queimada. Por um momento, ninguém falou. Sesshoumaru a olhou, e por um instante ela quis desviar o olhar. Mas não conseguiu. Havia algo novo ali — não o mesmo homem distante e contido dos primeiros dias. Agora ele parecia mais... humano. Um pouco mais vulnerável. O cheiro de pão fresco e café começou a se espalhar da cozinha, algumas crianças passaram correndo pelo pátio.
— Um banho e uma caneca de café seriam bem-vindos. – comentou Sesshoumaru.
— Acho que vou fazer o mesmo. - respondeu Rin se levantando – Sinto dores em tantos lugares que mal consigo nomeá-los.
Naquela noite, Little Éden dormiu em paz. O fogo havia se extinguido deixando apenas destroços e muito trabalho, o silêncio era quase sagrado. Até mesmo Sesshoumaru já estava recolhido em seu quarto. Rin ficou acordada por um tempo, ouvindo o som distante dos grilos. Do lado de fora uma chuva fina caía, o vento soprou de leve pelas árvores. Rin se perguntou outra vez se aquele lugar que agora cativava seu coração ela poderia chamar de lar.
Notes:
Altas revelações sobre Reika no capítulo 7 (ansiosa para postar).
Se você chegou até aqui deixe um comentário para a alegria do autor.
=)
Chapter Text
O que o Silêncio Esconde
A noite havia descido sobre Éden com um silêncio pesado, cortado apenas pelo vento que rondava o casarão. Mesmo cansada da madrugada intensa, Reika havia servido durante o dia inteiro sempre com aquela necessidade de demostrar sua eficiência perante todos, agora diante da penteadeira, a vela acesa projetava sua sombra longilínea sobre a parede. Retirou o prendedor de cabelo e soltou as mechas castanhas claras que caíram densas, sobre os ombros. O reflexo no espelho devolveu-lhe um rosto sereno — sereno demais para o turbilhão que fervia sob a pele. Passou a escova nos fios devagar, quase em transe.
“Ele me olha, mas como sempre não demonstra nenhuma emoção, mas para ela o olhar não é o mesmo” Reika pensou escovando os cabelos “Há afeto naquele olhar, essa coisa de laço faz isso?”
Na mesa, repousava uma pequena caixinha de madeira — o relicário que trouxera da casa da irmã. Tocou-o com os dedos, como quem acaricia um segredo. Dentro havia um lenço e um pequeno frasco vazio. A pressa com que retornara a Éden lhe custara mais do que tempo. A irmã, frágil e moribunda, poderia ter vivido mais alguns dias. Mas Reika sussurrou as preces erradas, administrou as ervas certas, e o fim veio rápido.
“Ela sofria tanto...” pensou, com uma calma que não combinava com a lembrança. “E dizia que queria partir. Eu só... ajudei o tempo a cumprir o que já estava decidido.”
O pensamento não a feriu. Apenas a acalmou. O vazio sempre fora um lugar seguro.
Levantou-se e foi até a janela. Lá fora, o pátio dormia sob a neblina. Tudo estava em pleno silêncio. Podia ver o quarto de Rin iluminado por uma luz fraca. A menina devia estar acordada, talvez rezando. Reika sorriu, um sorriso pequeno e perigoso.
— Eu o conheci, o servi, o esperei. Não vou permitir que uma garota vinda do nada o desvie daquilo que já estava planejado. Desta vez não deixarei que ele me ignore.
A camisola leve de tecido fino e cor marfim moldava-lhe a cintura fina e os quadris largos bem delineados. Os seios firmes projetavam-se de modo natural, harmonioso, como se o próprio corpo tivesse aprendido o equilíbrio entre força e graça. Reika passou os dedos sobre o decote, num gesto pensativo, indo aos mamilos acariciou-os levemente estremecendo e arrepiando ao toque. Fechou os olhos imaginando Sesshoumaru, sua mão vagando agora para o ventre liso, sua pele de um tom moreno claro que lembrava o calor do fim do verão. A mão chegou à borda da roupa íntima e foi até entre suas pernas em carícias leves, sutis, ansiosas e de puro desejo. Uns segundo depois recolheu a mão rapidamente. Fechou os olhos. Respirou fundo. Nunca fora de perder o controle, nem demonstrar agonia, não seria diferente agora. Por um instante, ela sorriu para o próprio reflexo. Via-se como os outros a viam: uma mulher bela, segura, ainda jovem o bastante para despertar desejo, madura o bastante para inspirar respeito. Mas, por dentro, havia uma sombra.
— Ainda estou aqui, Sesshoumaru… — murmurou, os lábios quase sem se moverem. — E continuo sendo o que um dia você desejou.
Então uma lembrança veio — nítida, quase palpável. Uma noite antiga, em Éden. O salão vazio e silencioso após o jantar. O jovem Sesshoumaru sentado à mesa, a camisa aberta, o olhar distante. O vinho derramado sobre mesa, a taça caída no chão. Ela o encontrou ali — um raro momento frágil. Reika lembrava-se de como o ar entre eles havia mudado quando ela se aproximou para recolher a taça. Ele ergueu o olhar, os olhos dourados toldados por algo indefinido — confusão? exaustão? desejo? Sesshoumaru olhou para a taça, depois para ela.
— Sirva mais vinho Reika — respondeu após um breve silêncio. Reika encheu a taça com cuidado – Sirva-se também — disse, o tom baixo, quase murmurante.
— Não seria apropriado, milorde. – ela hesitou.
Sesshoumaru inclinou levemente a cabeça, observando-a como se testasse seus limites.
— Apenas vinho, Reika. Nada mais. — empurrou-lhe uma segunda taça sobre a mesa, o gesto lento, pesado de cansaço — Por uma noite, esqueça as regras.
Reika obedeceu. Sentou-se à mesa, de frente para ele. O silêncio que se seguiu foi denso, cortado apenas pelo estalar da lenha. Reika levou o vinho aos lábios e sentiu o olhar de Sesshoumaru acompanhá-la.
Ele apoiou o cotovelo na mesa e passou uma das mãos pelo rosto, exalando um suspiro breve, quase um desabafo.
— Às vezes… — disse, sem olhá-la — é cansativo ser sempre o mesmo homem que todos esperam que eu seja.
Reika manteve-se imóvel, o coração acelerado.
— Ninguém é feito de pedra, senhor. — a voz dela saiu mais baixa do que pretendia. — E mesmo o mais forte precisa descansar.
Sesshoumaru estendeu a mão e as mãos deles se tocaram. Um instante breve, mas que ela revivia há anos. Ele se inclinara levemente para perto dela, o hálito quente e embriagado de vinho. Por um segundo, Reika acreditou que ele a beijaria. Mas então Sesshoumaru se deteve, rígido como se despertasse de um transe. Levantou-se, murmurando algo e deixando-a sozinha com o som distante do vento e o gosto do vinho, e nunca mais voltou a mencionar aquela noite. Reika fechou os olhos. A lembrança era doce e cruel. Para ela, aquele quase-beijo tornara-se uma promessa — mesmo que apenas na própria imaginação.
Deixou a escova sobre a penteadeira e respirou fundo.
— O destino gosta de dar voltas — murmurou, tocando o vidro frio da janela.
Uma última olhada a janela de Rin.
Soprou a vela.
O quarto mergulhou em sombras.
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A semana seguinte à tempestade trouxe um novo silêncio a fazenda. Os campos haviam secado, as cercas estavam novamente de pé, o celeiro novo finalmente concluído brilhava ao sol, os animais voltavam às pastagens e Rin, pouco a pouco, começava a se sentir parte daquele lugar. Mas nem tudo era paz. Sesshoumaru andava inquieto. Passava os dias trancado no escritório com Inuyasha estudando mapas e livros, discutindo as aparições dos monstros, inspeções nos limites das terras, e saia as vezes passando o dia todo fora, quando retornava à noite com o olhar distante. Jaken murmurava que havia problemas no sul, perto das fronteiras — acontecimentos estranhos, terras disputadas, talvez até bandos armados coisas desse tipo. Quando o sol raiou tímido na manhã do sétimo dia, Anna bateu em sua porta, Rin estranhou, mal a nevoa havia se dispersado lá fora. O que havia de tão urgente tão cedo?
— Lorde Taishou se encontra no estábulo, selando o cavalo. Está usando seu manto de viagem, acho que vai passar alguns dias fora. – disse Anna – Achei que a senhorita gostaria de saber.
Rin tirou a camisola apressadamente, colocou o vestido saindo apressada do quarto. Inuyasha e outros homens estavam no pátio arrumando seus cavalos, quando ela entrou apressadamente no estábulo.
— Vai partir? — perguntou ela, tentando manter a voz firme.
Sesshoumaru parou o movimento e olhou para ela por um instante.
— Parece que há um conflito em nossas fronteiras. Não posso ignorar.
Rin assentiu, mas o coração apertou.
— Por quanto tempo ficará fora?
— Não sei. — Ele ajeitou as rédeas. — Alguns dias, talvez mais. Dependerá do que encontrar.
— E se for perigoso? - ela apertou as mãos, tentando conter um leve tremor dos dedos.
— Rin, eu sou um general. – disse ele com um meio sorriso – Tenho certeza que já cuidei de coisas piores. Se for perigoso eu garanto que saberei lidar. Não precisa se preocupar comigo.
Uma brisa levantou a poeira do chão, e o som dos cavalos ressoou pelo pátio. Rin percebeu como Éden parecia maior — e mais vazio — à medida que ele se preparava para partir. Ela deu um passo à frente, impulsivamente. O silêncio entre eles foi preenchido apenas pelo som dos cavalos dentro do estábulo. Rin respirou fundo, o peito apertado por algo que não sabia nomear.
— Sesshoumaru… — começou, hesitante.
Ele se virou para ela, atento.
— Há algo que eu venho pensando. — disse ela enfim, com a voz baixa, mas firme — Enquanto estiver fora, talvez eu deva voltar convento, por um tempo.
Sesshoumaru parou o movimento. O ar pareceu se deter junto com ele.
— Voltar ao convento? — repetiu, o tom grave, controlado. — Por quê?
— Já passei tempo demais longe do convento. Eu fui muito acolhida aqui, mas às vezes sinto que me estou me afastando demais de quem eu era. – Rin abaixou o olhar.
Sesshoumaru respirou devagar. O olhar dele se suavizou — ainda firme, mas com uma sombra de algo que poderia ser dor.
— É o que você quer, Rin? — perguntou.
— Eu… não sei. – ela hesitou.
Sesshoumaru se aproximou um passo, a voz mais baixa, tomou uma das mãos dela nas suas.
— Espere até que eu volte. Depois, se ainda quiser ir, eu mesmo a levarei de volta ao convento.
Rin sentiu um nó na garganta.
— E se eu não estiver mais aqui quando o senhor voltar?
— Então vou ter que ir atrás de você novamente.
— Irmão — chamou Inuyasha, surgindo à porta do estábulo — As montarias estão prontas. Podemos partir quando desejar. Bom dia Rin. – o sorriso breve no rosto dele dissipou a tensão do instante.
— Cuidado com a estrada — murmurou para eles. — E... com as pessoas.
Sesshoumaru inclinou levemente a cabeça, surpreso pela preocupação explícita.
— Sempre estou. — então, após uma pausa — Você também se cuide Rin enquanto eu estiver ausente, não faça nada imprudente.
Rin abriu a boca, mas não soube o que responder. Apenas assentiu. Sesshoumaru montou o cavalo, olhou-a mais uma vez e partiu sem olhar para trás. O som dos cascos foi se tornando distante, até desaparecer completamente.
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Os dias seguintes correram lentos. Sem Sesshoumaru, Little Éden parecia outro lugar — mais silencioso, mais quieto. Jaken assumira as ordens gerais, enquanto Kagome e Kaede mantinham o ritmo das coisas dentro de casa. Pela primeira vez, Rin sentia o peso de permanecer enquanto outro partia. “Seria assim se nos casássemos?” ela se perguntou, assustada percebeu que vinha considerando essa possibilidade com frequência. Teria coragem de transformar aquele delírio em realidade? Uma tempestade distante despontou no horizonte. Nada comparado à anterior, apenas relâmpagos tímidos e o cheiro de chuva. Rin observou o céu escurecer e pensou em Sesshoumaru, imaginou-o dormindo sobre o sereno em algum caminho, enfrentando homens armados, ou diante de monstros enfurecidos tentando evitar que o sangue manchasse as terras.
— Ele sempre volta moça. — disse Jaken percebendo o olhar distante dela enquanto estavam na cozinha apreciando um café depois do almoço.
— Eu só não estou acostumada ainda. — ela disse, sem desviar os olhos do céu.
— Ele é como o vento do norte, menina. – Jaken riu baixo. – Some por um tempo nas suas batalhas e obrigações, mas nunca se perde. É um bom homem, sabe? Não fala muito, tem esse jeito durão, meio autoritário, mas protege o que ama e quem está sob o seu teto.
O capataz não disse “A quem ele ama” Rin observou. Inconscientemente ele reforçou o que todos lhe diziam: Sesshoumaru nunca amou a ninguém.
— Eu sei — respondeu Rin. — Acho que começo a entender isso agora.
À noite, Rin acendeu uma vela no altar pequeno que mantinha perto da janela. Murmurou uma breve oração. Do lado de fora, o vento começou a soprar entre as árvores, carregando o cheiro da chuva. E naquela noite, dormiu com a sensação de estar sentindo algo que não sabia nomear.
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A viagem até as fronteiras durou dois dias. Sesshoumaru cavalgou sem descanso, cruzando vales e colinas onde o outono já começava a pintar as folhas de cobre. O vento cortava o rosto, trazendo o cheiro da terra seca e da fumaça distante — o presságio de que algo não ia bem. Ao chegar ao vilarejo de Kisawa, encontrou o lugar silencioso demais. As portas estavam trancadas, as janelas tapadas com tábuas. Um cachorro magro atravessou a rua correndo, e o som dos cascos ecoou nas paredes de pedra como um trovão solitário. Takemori, o ancião local, veio recebê-los na pequena praça.
— Lorde Taishou… — disse, curvando-se, a voz trêmula. — Agradecemos por ter vindo tão depressa.
— O que está acontecendo aqui? — perguntou o general, desmontando do cavalo.
O velho o guiou até a taverna abandonada. Dentro, um mapa grosseiro estava desenhado sobre a mesa, coberto de marcas feitas com carvão.
— Começou há cinco noites. — explicou Takemori. — Achamos que eram saqueadores. Mas as pegadas… as pegadas não são humanas.
Sesshoumaru se inclinou sobre o mapa arqueando a sobrancelha.
— De onde vieram? – perguntou Inuyasha.
— Da floresta de carvalhos ao norte, perto do riacho de Shido. — O velho hesitou antes de continuar. — Dizem que são goblins. Pequenos, rápidos… e espertos.
— Não deveriam haver goblins nos nossos territórios. – O general ergueu os olhos dourados brilhando com uma nova emoção.
— Talvez algo os tenha atraído. — murmurou Takemori.
À noite, Sesshoumaru liderou um pequeno grupo até o limite da floresta. O luar filtrava-se por entre os galhos retorcidos, lançando sombras compridas no chão. O silêncio era tão denso que até o bater das rédeas parecia alto demais. De repente, um dos homens assobiou baixo.
— Ali! — apontou para as margens do riacho.
Sesshoumaru desmontou. As marcas eram evidentes: pegadas pequenas, fundas, com garras. E junto delas, o cheiro — forte, azedo, como carne apodrecida.
— São muitos. — disse ele em voz baixa. — E estão se movendo em grupo.
Uma pedra rolou próxima, e todos se viraram ao mesmo tempo. Do escuro, dois olhos avermelhados brilharam. Depois quatro. Depois uma dúzia. As criaturas emergiram das sombras, pequenas, curvadas, com dentes longos e mãos nodosas segurando lanças. Sesshoumaru ergueu a espada devagar.
— Fiquem atrás de mim. – disse Sesshoumaru aos aldeões desarmados.
O primeiro goblin grunhiu e avançou sobre Inuyasha que desviou com um golpe seco. A lâmina cortou o ar e um fio de sangue negro espirrou sobre as folhas. Os outros hesitaram, mas logo o som de tambores distantes ecoou da mata — e o ataque começou de verdade. A luta foi curta, mas brutal. O pequeno grupo conseguiu repelir as criaturas, que recuaram guinchando para dentro da floresta. Quando o silêncio voltou, o chão estava coberto de pequenos corpos e lama. Sesshoumaru limpou a espada, o olhar fixo na escuridão adiante. Um dos homens se aproximou, ofegante.
— Senhor, o que faremos?
— Queimem os corpos. — ele guardou a espada. — E amanhã, vamos até o coração da floresta. Quero saber o que os trouxe aqui.
Na manhã seguinte um vento frio cortava o vale com um sopro seco, levantando folhas e cinzas. Sesshoumaru caminhava em silêncio, observando os corpos espalhados entre as pedras. Alguns ainda fumegavam, chamuscados pelo fogo que ordenara na noite anterior. A fumaça tinha o cheiro agridoce de sangue e ferro. Inuyasha, atrás dele, chutou uma lança quebrada e fez uma careta.
— Isso aqui não parece coisa feita por eles — murmurou. — Esse metal... foi trabalhado em forja humana.
Sesshoumaru abaixou-se, pegou o fragmento e o observou à luz pálida do amanhecer. As rebarbas, o peso, o equilíbrio. Era uma arma, não uma ferramenta. E marcada, sob a ferrugem, havia o traço quase apagado de um símbolo: um sol de oito pontas.
— Reconheço esse brasão, já o vi antes no Palácio, mas não me recordo direito onde. — disse ele em voz baixa.
Inuyasha ergueu os olhos.
— Você acha que o Palácio está por trás disso?
Sesshoumaru não respondeu de imediato. Olhou ao redor — as árvores queimadas, as pegadas pequenas e fundas na lama, o rastro que descia em direção ao sul.
— Não acredito que seja Haku, mas alguém que age em nome dele ou alguém que quer desafiá-lo. — respondeu enfim. — Alguém os abastece para usá-los.
— Mas por quê? O que ganhariam com isso? – o irmão franziu o cenho.
— Medo. Território. Poder. Espaço. — disse apenas — São muitas opções, é cedo para dizer.
Eles seguiram pelo vale, onde o chão se tornava pedregoso e as árvores raras, caminharam para longe deixando os limites de Éden entrando no território neutro que pertencia a coroa. O sol, ainda fraco, mal aquecia o ar. Ao longe, avistaram uma formação de rochas — entradas escuras como bocas abertas. Antigas minas, abandonadas há anos. O general ordenou que acampassem a uma distância segura. Sesshoumaru decidiu arriscar-se nas minas, levou apenas dois homens consigo e entrou. O cheiro era de umidade e ferrugem. As tochas projetavam sombras trêmulas nas paredes, onde marcas antigas de picaretas ainda eram visíveis. Mais adiante, viram sinais recentes: restos de fogueiras, muitos ossos, e marcas de pés pequenos, dispersos pelo chão de pedra.
Os goblins haviam estado ali — e talvez ainda estavam. Sesshoumaru fez um gesto de silêncio.
O som de algo rastejando ecoou nas galerias. Um rosnado baixo, gutural. Os homens ergueram as armas, mas Sesshoumaru apenas observava, atento. Logo, um deles surgiu — pequeno, de pele verde-acinzentada, o olhar avermelhado faiscando sob a luz. Trazia uma lança feita de uma velha enxada. Quando o general deu um passo à frente, a criatura recuou, rosnando.
Atrás dela, outras surgiram, dezenas — um grupo inteiro, magro e faminto, mas organizado. Sesshoumaru ergueu a mão, impedindo os homens de atacar. Por um momento, apenas o som das respirações ecoou nas pedras. Então ele viu: no fundo da caverna, em meio às sombras, uma carroça despedaçada. Dentro, caixas marcadas com um selo que agora ele reconhecia, era o clero de Valência — o coração do reino. A madeira estava coberta por arranhões, mas os símbolos eram inconfundíveis. Os goblins defendiam aquilo. Não por ódio — mas porque era deles agora. Sesshoumaru deu um passo à frente e ergueu a tocha. Um dos machos maiores rugiu e arremessou uma pedra. Ela passou perto, espatifando-se na parede. Os soldados reagiram por instinto, ergueram as armas, e o caos se formou. Gritos, luzes, o som metálico das lâminas cortando o ar. Sesshoumaru desferiu um golpe certeiro, derrubando dois inimigos, mas recuou ao perceber a proporção do grupo. Eram muitos, demais, estavam enraizados na mina.
— Recuem! — ordenou, a voz firme. — Saiam da mina!
Eles correram para fora, o eco dos gritos perseguindo-os até o vale. Lá fora, o ar fresco os envolveu como uma bênção. Sesshoumaru olhou para trás — para a escuridão viva da mina.
Inuyasha se aproximou, ofegante.
— O que diabos eles estavam guardando lá dentro?
Sesshoumaru demorou a responder. Ainda via a carroça, as caixas marcadas com o selo raspado.
— Provas. — disse por fim — E respostas que alguém não quer que encontremos.
— Vai avisar a capital? – Inuyasha olhou para ele, inquieto.
— Ainda não — respondeu, a voz grave. — Mas logo teremos que regressar à Valência, precisamos entender o que realmente está acontecendo.
Inuyasha chutou uma pedra para o lado, o som seco ecoando pelo vale.
— Não podemos deixar esse ninho de criaturas aqui, debaixo do nosso nariz.
— Por ora, não há muito o que fazer. — Sesshoumaru olhou para a encosta da montanha, o olhar atento. — A mina não é um bom campo de batalha, estaríamos em desvantagem nas reentrâncias. – fez uma breve pausa, o tom mais baixo — Enquanto estive lá dentro, ouvi outros sons. Talvez mais outras criaturas. Deus sabe o que se esconde nas profundezas. Direi a Takemori que mantenha os aldeões alertas. Se houver qualquer movimento estranho, quero ser informado imediatamente.
O entardecer descia frio sobre o vale quando Sesshoumaru desmontou do cavalo. Tinham queimado os últimos corpos. Nenhum sinal de reforço. Nenhuma nova trilha dos goblins. Sesshoumaru observou a linha do horizonte por um tempo, quieto. Ao lado dele, Inuyasha limpava a lâmina suja de fuligem.
— Então é isso? — perguntou o irmão, sem disfarçar o cansaço. — Voltamos pra Éden?
Sesshoumaru demorou a responder. O olhar seguia distante, pousado nas montanhas que guardavam a estrada.
— Não ainda. — disse enfim — Há um lugar que quero ver antes de regressar.
Inuyasha ergueu uma sobrancelha.
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Uma chuva fina caía do lado de fora, escorrendo pelas vidraças e desenhando fios de água sobre o jardim encharcado. O som ritmado das gotas misturava-se ao estalar baixo do fogo no fogão, preenchendo o silêncio que dominava a casa. Na copa, Reika conversava com uma das criadas mais antigas, Mei, enquanto o chá esfriava sobre a bandeja.
— Eu vi quando ela saiu correndo atrás dele — contou Mei, quase num sussurro — Chovia tanto que mal se via um palmo à frente, mas ela foi mesmo assim, sem pensar duas vezes.
Reika pousou a xícara devagar, o olhar perdido na janela, onde o jardim ainda guardava lama nas bordas.
— Ela é teimosa. — murmurou — E quando a teimosia se veste de inocência, costuma enganar até os olhos mais atentos.
— Mas o senhor não pareceu zangado com ela, milady. Até a protegeu, ao que dizem.
— Os homens raramente se zangam com o que os lisonjeia. — disse duramente, voltando o olhar para a xícara — E ela tem o dom de se vestir de falsa piedade.
Deu alguns passos até a janela. Lá fora, viu Rin atravessando o pátio, a saia recolhida para não tocar a lama, os cabelos presos sob o véu. Havia leveza nos gestos dela — uma pureza que, aos olhos de Reika, parecia provocação.
— Ela não entende o que faz. — continuou, sem se voltar — Acha que desafiar um homem como Sesshoumaru é bravura. Mas é apenas ignorância. Não há lugar para ela aqui.
Mei se calou, apenas observando. Reika manteve o olhar fixo em Rin até que a moça desaparecesse no corredor principal.
— A falsa inocência é uma flor que dura pouco. — murmurou. — E quando murcha, o que sobra é só verdade.
Virou-se para a criada, a voz fria novamente.
— Traga mais lenha para o fogo, Mei. O ar parece frio demais hoje.
Mei fez uma reverência e saiu em silêncio, deixando Reika sozinha diante da janela.
Ela permaneceu ali, imóvel. O reflexo no vidro mostrava um rosto belo, mas tenso — uma mulher que já havia aprendido a esperar, e agora temia ser esquecida.
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Dois dias depois, o velho convento surgiu no alto de uma colina cinzenta, rodeado por árvores altas e muros antigos. O portão de ferro estava entreaberto. Um sino pequeno balançava ao vento, lançando um som agudo, solitário. O lugar exalava ordem, mas também esquecimento — como se o tempo ali tivesse parado. As irmãs que trabalhavam no jardim recuaram ao ver os viajantes se aproximando: dois homens de mantos escuros, sujos de estrada e fumaça. Uma delas correu para avisar a madre superiora. Sesshoumaru desmontou e entregou as rédeas a Inuyasha. Atravessou o pátio em passos firmes, sem olhar para os lados. A madre superiora o recebeu à entrada da capela. Uma mulher alta, de rosto enrugado e olhos claros, que o mediu de cima a baixo antes de falar. Com um gesto breve, Sesshoumaru exibiu a insígnia do exército, o emblema que falava por sua posição e dever.
— Sua fama lhe precede general Taishou. – disse ela num tom calmo – Não esperávamos sua visita.
Sesshoumaru inclinou a cabeça, em respeito.
— Ainda assim não estou aqui a serviço do exército e sim por algo pessoal.
A madre cruzou as mãos.
— Estou certamente muito curiosa.
— Há sob minha proteção agora uma jovem freira que foi criada nesse convento. – disse ele – Gostaria de conversar essa moça, seu nome é Rin.
O nome pairou entre eles como um eco. A mulher ficou tensa de repente, suspirou, fitando o vitral acima do altar, onde a luz do fim da tarde desenhava manchas de ouro e vermelho no chão de pedra.
— Rin era uma moça dedicada, eu mesma a batizei com esse nome sabia? — disse ela — Desejei muitas vezes que tivesse uma sorte diferente.
Sesshoumaru permaneceu calado.
— Há muito que ninguém vem de fora com perguntas sobre o passado — disse a madre, em tom baixo, enquanto caminhavam.
— Não vim por curiosidade — respondeu Sesshoumaru — Vim cobrar respostas.
Ela o fitou de relance, avaliando o peso das palavras.
— Imagino que saiba de parte do que aconteceu.
Sesshoumaru concordou com a cabeça, o olhar fixo à madre.
— Sei que sofreu algo. Mas não sei quem foi o homem que fez isso.
Pararam diante de uma porta de madeira antiga. A madre retirou uma chave do cinto e a girou com lentidão.
— Certas feridas não devem ser abertas sem propósito, senhor Taishou.
— Então me dê um propósito. — disse ele, a voz firme, mas sem elevar o tom — Um nome.
A madre o encarou por um longo instante, como se tentasse medir o que havia por trás daquelas palavras. Depois suspirou e entrou na sala. Dentro, um escritório pequeno, abarrotado de papéis e livros.
— Há coisas que não precisam ser ditas. — respondeu, num murmúrio. — O passado, às vezes, é melhor deixado nas mãos de Deus.
— E há coisas que devem ir à justiça dos homens. – respondeu ele duramente.
O silêncio caiu como um véu pesado entre os dois. A madre o encarou, e pela primeira vez, a firmeza nos olhos dela vacilou. Ela caminhou até uma prateleira, tirou um volume encadernado em couro e o colocou sobre a mesa. Suas mãos tremiam levemente.
— O senhor não entende o que pede. — disse, abrindo o livro — Há coisas que trazem desgraça quando remexidas.
Sesshoumaru permaneceu calado e impassível demonstrando que não estava disposto a ir embora sem a resposta que queria. Depois de um tempo disse:
— Um nome madre, estou esperando um nome.
Ela permaneceu imóvel, o olhar perdido nas páginas. Por um instante, pareceu lutar consigo mesma — entre o medo e a consciência. Então, enfim, falou.
— O padre que procura... chamava-se Padre Arata. — a voz saiu baixa, quase um sussurro — Não me recordo do nome completo. – empurrou o livro em sua direção — Para que saiba, nós tentamos agir. A denúncia foi enviada à diocese, está aí, anexada ao relatório. — fez uma pausa breve, como se cada palavra lhe custasse esforço — Ninguém nos ouviu. Disseram que era apenas um rumor, que faltavam provas.
O olhar dela se desviou, cansado.
— Tudo o que tínhamos eram as palavras de Rin e da irmã que a encontrou desacordada. — a voz se partiu num fio — Fomos deixadas sozinhas.
Sesshoumaru não se moveu. Apenas os dedos se fecharam com força sobre a mesa. Naquele instante, havia fúria visível, o olhar dourado endureceu.
— E o que aconteceu com ele?
— Foi transferido para uma diocese em segredo. Hoje vive sob proteção da Igreja em algum lugar.
Sesshoumaru voltou o rosto para a janela estreita. Arata era um nome comum, se a Igreja o protegeu também podia ter mudado sua identidade, era um beco sem saída. Nenhuma palavra saiu de seus lábios por alguns segundos. Quando falou, a voz era fria, mas contida — a de quem mede cada sílaba para não deixar o ódio transbordar.
— Pelo visto a Igreja prefere esconder seus próprios demônios. — murmurou.
A madre baixou o olhar. Sabia que, naquele instante, qualquer defesa seria inútil. Sesshoumaru fechou o livro e o devolveu à madre.
— Agradeço sua franqueza e por saber que a defendeu. — disse ele, por fim.
Sesshoumaru fechou o livro e o devolveu à madre. Deu um passo em direção à porta. Antes de sair, a madre o chamou:
— Senhor Taishou… posso saber como isto aconteceu? — perguntou, com cautela. — Como o caminho de vocês se cruzaram?
Sesshoumaru parou.
— O destino tem maneiras curiosas de aproximar as pessoas, madre. — disse ele enfim, a voz baixa, mas firme.
A madre o observou com atenção, como se tentasse ler o que não era dito.
— Nesse caso, cuide dela, senhor Taishou. Eu sempre quis muito bem aquela menina. Fico feliz que encontrou quem a proteja.
Sesshoumaru inclinou ligeiramente a cabeça em despedida.
— É o que pretendo fazer.
E saiu, o som firme de suas botas ecoando pelo corredor até se perder na distância.
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O céu começava a escurecer sob nuvens densas quando as torres de Éden surgiram entre a névoa. Depois de dias de estrada, Sesshoumaru avistou o casarão ao longe — imóvel e imponente, como se o tempo ali tivesse ficado à espera dele. O vento trazia o cheiro de terra fria, folhas molhadas e lenha queimada — o perfume do lar que deixara para trás. Inuyasha cavalgava em silêncio, o rosto coberto pela poeira do caminho. Nenhum dos dois trocava palavras desde que deixaram o convento. O nome que Sesshoumaru ouvira ali ainda ecoava em sua mente — Padre Arata — como um ferro batendo contra pedra. Ao cruzarem o portão principal, os criados deixaram as tarefas e se aproximaram, saudando-os. O som dos cascos reverberou pelo pátio, misturando-se ao rumor do vento entre as árvores. No jardim, entre os canteiros úmidos, estava recolhendo galhos secos e flores mortas, as mãos sujas de terra, o xale escorregado sobre os ombros, caído ao chão. Sesshoumaru desmontava lentamente, o manto escuro ainda manchado de poeira e chuva. Pela primeira vez a saudade do lar tinha um gosto diferente, alguém o esperava. A tarde estava fria, e o céu, cor de chumbo. Rin se levantou. Ela largou os galhos e foi até ele, limpando as mãos no avental, caminhando devagar pelo caminho de pedra. Não havia pressa — apenas alívio.
— Senhor Sesshoumaru... — murmurou, a voz quase um sopro.
Ele a olhou, e por um breve instante o cansaço da viagem se desfez.
— Rin. — disse, baixo.
Ela parou a poucos passos dele, tentando esconder o nervosismo no modo como prendia as mãos diante do avental. Sesshoumaru franziu levemente o cenho.
— Por que está sem agasalho? — perguntou. — Está frio aqui fora.
Rin piscou, surpresa pelo tom delicado dele.
— Eu estava apenas terminando o trabalho.
Sesshoumaru soltou o ar devagar, como se o próprio frio o tivesse seguido desde as montanhas.
— Deixe isso para outra pessoa. — disse, após um instante, o velho jeito autoritário — Vamos entrar.
— Está bem. — respondeu Rin, e por um momento o silêncio entre eles foi quase reconfortante.
Ela o observou. Havia algo diferente no semblante dele — o mesmo homem, mas com o olhar mais pesado, como se tivesse trazido muito peso nos ombros.
— Trouxe notícias ruins? — perguntou, hesitante.
Sesshoumaru demorou a responder.
— Trouxe muitas perguntas e só uma resposta.
Ela nada perguntou. O modo como ele dissera aquilo bastava. O vento passou entre eles, frio e limpo, trazendo o som distante dos sinos e o cheiro da terra úmida. Sesshoumaru olhou para o casarão. Rin assentiu, o rosto iluminado por um sorriso discreto.
— É bom tê-lo de volta, senhor. Parece muito cansado. — disse Rin.
— Um pouco. Vamos entrar. – disse novamente — É bom estar de volta.
Rin o seguiu em silêncio.
Notes:
Como sempre, eu gostaria de receber seus comentários sobre as muitas camadas desse capítulo.
Atualizei a sinopse mas ainda não sei se gostei. Pensarei mais sobre isso.
Chapter Text
A Primeira Dança – Parte I
A sala era fria, úmida, fechada. Apenas três lamparinas pendiam das vigas do teto, lançando sombras longas sobre as paredes de pedra. A reunião acontecia sempre ali — no subsolo de um mosteiro abandonado, afastado o suficiente para que nem monges, nem guardas, nem curiosos tivessem razões para entrar. A mesa era simples, mas coberta de mapas. Linhas marcavam rotas de caravanas, vilarejos pequenos, celeiros, depósitos de grãos e rios importantes. Marcas vermelhas pontuavam regiões que, nas últimas semanas, sofreram ataques atribuídos a “criaturas”. Mas ali, ninguém as chamava de monstros. Chamavam de instrumentos.
Um homem de mantos escuros, cuja voz impunha comando, apontou para um ponto no mapa.
— O ataque em Gifu foi eficiente. As criaturas destruíram o silo em menos de uma hora. Os habitantes estão desolados, alguns foram mortos, e as colheitas para o inverno comprometidas. Fome trará desespero. E desespero… obediência.
Outro assentiu, o capuz cobrindo a metade do rosto.
— Precisamos continuar sem levantar suspeitas.
Um terceiro — de postura militar evidente, as mãos entrelaçadas atrás das costas — falou com tom frio:
— Como planejado. Meus homens inseridos nas patrulhas alimentam os boatos. A história se espalha e aumenta sozinha.
Sobre a mesa, um mapa de Verdânia estava marcado de cima a baixo com pequenos símbolos: celeiros, vilarejos e, ao norte, um grande depósito do Palácio reservado para emergências.
— Atacaremos mais três locais antes do fim da colheita. — disse um nobre, reconhecível pelos anéis parcialmente escondidos sob a manga — A escassez aumentará. Os preços subirão. Nossas reservas privadas valerão dez vezes mais. O povo vai exigir resposta… qualquer resposta.
O homem de manto escuro recostou-se lentamente na cadeira.
— E quando clamarem pela intervenção do Palácio, ofereceremos a solução. — murmurou — Uma solução que apenas nós poderemos controlar.
O silêncio que se seguiu era pesado. Não se tratava apenas de política. Tocava economia, religião, segurança militar. Era uma guerra invisível, arquitetada nos subterrâneos.
O homem de mantos escuros continuou, a voz calma como lâmina polida:
— Temos que ter cuidado. – disse uma voz feminina – Alguns podem começar a suspeitar. Soube que o general Taishou está investigando por conta própria. Esteve em um vilarejo próximo às suas terras… ainda não sabemos se encontrou algo relevante.
Uma tensão quase imperceptível percorreu o grupo.
— O general é um problema. — disse o nobre, seco — Ele não pertence ao nosso jogo e não se vende.
— Todos se vendem. — corrigiu o sacerdote de manto escuro — Basta oferecer o preço certo. Ou criar a perda certa.
Um murmúrio apagado ecoou entre os presentes. Depois, silêncio absoluto. Por fim, o sacerdote mais velho fechou o livro diante de si com um estalo seco.
— Continuaremos com os ataques nos vilarejos menores. Criaturas, sabotagem, fome. Até que o povo clame por intervenção. Mostraremos que o rei não tem capacidade para administrar a crise. E então… — pousou a mão sobre o mapa — …Valência estará onde deveria sempre ter estado: sob uma única autoridade.
— A nossa. — completou o militar.
Todos assentiram. Um dos monges apagou duas das lamparinas. Somente uma permaneceu acesa, lançando um fraco círculo de luz que tremulava no ar imóvel. Era tudo o que precisavam.
Sombra.
Invisibilidade.
E uma guerra que ninguém perceberia — até ser tarde demais.
Quando o sol finalmente se escondeu atrás das colinas, a casa grande de Éden acendeu-se com uma luz quente e acolhedora. A lareira estalava no centro da sala, espalhando um brilho âmbar pelas paredes de madeira; as chamas moviam-se como fios de ouro sobre rostos cansados, mas animados. A longa mesa fora empurrada para perto da lareira e coberta com: tiras de papel colorido, varetas de madeira, pequenos frascos de cola e tinta, fitas e flores secas colhidas no campo.
Era tradição, e as mulheres de Little Éden — jovens, velhas, camponesas e empregadas — reuniam-se assim todos os anos. Uma família improvisada, uma irmandade nascida de rotina e afeto. Kagome, com o rosto iluminado pelo fogo e as mangas arregaçadas, assumira naturalmente o centro da roda.
— As lanternas são para a terra. — explicou, enquanto mostrava a estrutura circular que estava montando. — Prosperidade, fertilidade, proteção. Cada cor tem um propósito. Este ano, pensamos em usar as cores do outono para pedir uma colheita generosa.
Rin observava em silêncio. A cena era tão diferente do convento — tão cheia de calor, movimento, risos, vozes que se entrelaçavam naturalmente — que ela teve vontade de registrar aquele momento para não o esquecer. Kaede ajudava a separar as fitas em montes organizados. As jovens conversavam sobre suas famílias, sobre a festa, sobre os preparativos do aniversário de Sesshoumaru que se aproximava, seria comemorado junto com a festa da colheita. Rin sentia-se… estranhamente acolhida.
Kagome então voltou-se para ela com um sorriso aberto:
— Rin, você quer escolher as cores das flores deste ano? — disse — Essa é sua primeira festa aqui. E acreditamos que o primeiro palpite de alguém novo traz sorte.
A roda silenciou com expectativa gentil. Rin tocou a borda de um papel seda branco, fino como pétala.
— No convento… — começou — usávamos branco nas celebrações. Flores brancas, velas brancas. Representavam renovação, recomeços. Como um pedido de paz… no meio de tempos difíceis.
As mulheres trocaram olhares.
— Bonito isso.
— Sim, branco deixa tudo mais leve.
— Um toque de esperança…
Kaede sorriu com aprovação. Kagome já estava pronta para concordar quando uma voz, suave e perfeitamente calculada, se fez ouvir da porta.
— Lanternas brancas?
Reika entrou com passos silenciosos. Discreta, mas seus olhos… tinham sempre um brilho frio demais para a temperatura da sala. Ela aproximou-se da mesa com um sorriso educado.
— É uma escolha muito… delicada. — comentou, como quem elogia e corrige ao mesmo tempo — Mas não condiz muito com a tradição de Éden, com todo respeito. Nossas lanternas sempre foram alegres, vivas, fortes. Brancas são… pálidas demais.
Disse isso sem erguer o tom. Sem confrontar. Sem sair do papel que lhe cabia. Mas o recado estava ali — polido como lâmina recém-afiada.
Kagome respondeu antes que ela pudesse falar:
— Mas há sempre uma primeira vez para tudo. Acho que ficará muito elegante e bonito também.
Reika sorriu, recuando com graça.
— Se esta é a vontade da senhora Taishou, claro. — disse, com ar impecavelmente obediente — Só quis lembrar das nossas tradições.
A tensão se dissipou devagar, como fumaça no ar. Mas Rin sentiu que algo havia mudado — não na roda das mulheres, mas dentro dela. Uma pontada de dúvida. Uma pontada de não-pertencimento.
Kagome, percebendo, tocou seu braço com carinho discreto.
— Suas flores brancas vão trazer sorte, Rin e paz. — completou com um sorriso.
O calor voltou, aos poucos. As mãos retomaram o trabalho e as lanternas nasceram uma a uma sob a luz da lareira.
Um som do leve estalar da madeira. Rin virou-se, achando que fosse a irmã Yuna, a professora, e sorriu de leve.
Mas quando ergueu os olhos, a figura diante dela era outra.
O brilho nos olhos do homem era frio, o olhar pesado, o sorriso errado. Palavras indistintas, doces demais. O cheiro de cera e vinho.
Uma pancada forte, um clarão, e o mundo girando de repente, o chão que se moveu debaixo dos pés. As mãos fortes e rápidas vieram como sombras. O ar fugiu do peito. A luz se partiu em pedaços.
Rin tentou correr, mas o corpo não respondia. Apenas o coração ainda batia, rápido, desesperado, como se tentasse escapar sozinho.
O escuro a envolveu. A pedra fria sob a pele, o peso, o medo. E o grito. Um grito que ecoou, primeiro no sonho, depois na realidade.
— Não...
A voz dela atravessou a noite.
Os olhos dele se abriram rápido.
Sesshoumaru despertou num salto, o coração acelerado, sem entender de imediato o que estava acontecendo. Ainda sonolento, atravessou o quarto em passos largos e abriu a porta, indo direto para o corredor escuro. O som vinha do quarto de Rin. Ele forçou a maçaneta; a porta se abriu com facilidade. Lá dentro, a jovem se debatia, os olhos fechados, o rosto molhado de lágrimas. Gritava e chorava, pedindo a alguém — talvez uma lembrança em seus pesadelos — que parasse. Inuyasha e Kagome apareceram logo atrás, alarmados. Sesshoumaru, ao observar por um instante, compreendeu o que acontecia.
— É melhor que eu não a toque agora. — disse tenso — Kagome, por favor, tente acalmá-la.
Kagome se aproximou sem hesitar.
— Rin, sou eu... sou eu, Kagome. Está tudo bem, querida, já passou. — disse ela, tomando a mão trêmula da moça. — Vamos, Rin, acorde. Está tudo bem, nós estamos aqui.
Ela repetia as palavras com doçura, insistente, até que o choro foi cedendo e a respiração de Rin começou a se acalmar. Minutos depois, os olhos dela se abriram, confusos e marejados. O coração demorava a entender que estava segura. Cada batida parecia um lembrete do que vivera, do que voltara a sentir sem querer.
— Kagome...? — murmurou, tentando compreender. — O que faz aqui? O que... o que vocês estão fazendo aqui? Ah, não me diga que eu assustei vocês... — completou, corando.
— Você estava tendo um pesadelo, querida. — respondeu Kagome, ainda segurando sua mão.
Rin olhou em volta e então o viu — Sesshoumaru, parado à porta, o semblante tenso e preocupado.
— Eu... sinto muito — disse, a voz baixa. — Não queria causar essa comoção.
— Está tudo bem, Rin. — respondeu ele dando um passo à frente, mantendo o tom sereno — Não é algo que se possa controlar. Quer que chamem sua criada para dormir com você? Ou prefere um chá?
— Não, por favor, não se incomodem. — disse ela rapidamente. — Estou bem agora. De verdade. Podem descansar.
— Se precisar de algo, é só chamar. — disse Inuyasha, já se retirando com Kagome. Ela deixou um copo d’água sobre a mesa e um sorriso de conforto.
O quarto mergulhou novamente no silêncio. “Foi só um sonho”, pensou. “Só um sonho.” Mas sabia que não era. Não totalmente. O corpo lembrava. O toque, a dor, a cena e o pavor. O medo de estar presa, a sensação de impotência, o nó no estômago que nem o tempo havia desfeito. Ela engoliu a seco. Sesshoumaru permaneceu ali por um instante, observando-a, depois se aproximou devagar e sentou-se na beira da cama.
— Quer conversar sobre isso? — perguntou a voz grave cheia de preocupação.
— Não, está tudo bem. É madrugada e... — Rin interrompeu-se bruscamente.
Só então ela percebeu como ele estava diante dela: apenas com a calça de dormir, a pele exposta brilhando sob a lamparina. O peito largo, firme, marcado por músculos definidos pelo treinamento militar. A linha dos ombros era ampla e sólida, como se tivesse sido moldada para carregar o peso de armaduras e decisões difíceis. A luz quente descia pelo abdômen, revelando o desenho impecável das linhas musculares que se moviam quando ele respirava — um corpo talhado pela disciplina, e não pela vaidade. O cabelo prateado caía solto sobre sua clavícula, alguns fios tocando o peito, refletindo a luz como fios prateados de lua. A pele clara parecia mais quente sob o brilho tênue, e todo conjunto dava a ele um ar tão bonito e quase perigoso.
— Você está... quase nu! Sesshoumaru, cubra-se, por favor! – Rin engoliu seco, virou o rosto com a brusquidão de quem tenta escapar do inevitável, mas o rubor já subia pelo pescoço.
Ele piscou, surpreso, e respondeu num tom calmo:
— Saí com pressa quando ouvi você gritar.
— Eu agradeço sua preocupação. — respondeu ela, tentando manter a compostura, mantendo o olhar para longe — Estou bem. Pode voltar para o seu quarto agora.
Sesshoumaru respirou fundo, e um leve sorriso lhe curvou os lábios. Por um instante, ele pareceu hesitar como se pesasse o que prestes a dizer. Então, num tom mais suave, acrescentou:
— Diga-me Rin, você me considera um homem bonito?
Rin sentiu o corpo inteiro congelar por dentro, ainda que as faces queimassem de vergonha. Ela piscou, incapaz de acreditar que havia ouvido aquilo — justamente dele, tão sério, tão firme, tão contido.
— O… quê? — a voz saiu fina, quase um sussurro.
Sesshoumaru não desviou o olhar. Não havia brincadeira em sua expressão. Não havia arrogância. Havia apenas uma dúvida crua e tão sutil que quase não parecia pertencer a ele.
— Quero que responda. — disse, mais baixo — Aos seus olhos… eu sou um homem bonito, atraente?
Rin sentiu o coração disparar como se não fosse mais dela. As mãos apertaram o cobertor no colo, os dedos tremendo mesmo sem querer. Era injusto. Totalmente injusto ele perguntar aquilo enquanto estava daquela forma — sem camisa, iluminado pela lamparina, os músculos marcados, a respiração forte, o cabelo caído sobre o peito. A voz dele a seguiu, suave, firme:
— Olhe para mim, Rin.
Ela obedeceu antes mesmo de perceber que estava obedecendo. Os olhos dourados dele a prenderam no lugar com uma sinceridade desarmada, que ela não esperava ver ali. Rin abriu a boca, mas nenhuma palavra saiu. O laço antes adormecido agora queimava sob sua pele, quente demais, vivo demais, pulsando, insistindo, reagindo ao que ela tentava negar. Sesshoumaru era o homem mais belo que já vira em toda vida. Ela sentiu o estômago afundar.
— Isso não faz sentido… — sussurrou, mais para si mesma do que para ele.
— Faz para mim. — respondeu ele.
— Sesshoumaru… você sabe que é. – ela admitiu lentamente baixinho — Não preciso dizer isso para você. Todo mundo vê.
Ele não sorriu dessa vez. A expressão dele se suavizou de um jeito perigoso.
— Não me interessa o que todos veem. — disse, num murmúrio — Quero saber o que você vê.
Rin sentiu algo dentro dela fissurar — não quebrar, mas abrir. Um limite. Uma defesa.
— Eu… — a voz falhou — …eu vejo um homem… muito bonito, sem nenhuma dúvida. – seu rosto queimava, mas ela foi completamente sincera — Forte… e… — ela desviou os olhos — …e difícil de ignorar. Você é o homem mais bonito que eu já vi.
A intensidade do olhar dele mudou. Ficou mais quente. Mais profunda. Um desejo silencioso atravessou o espaço entre eles, tão curto, tão estreito, tão impossível de negar. Ele inclinou a cabeça levemente, como se contemplasse a resposta, como se ela tivesse acabado de lhe entregar algo valioso.
— Obrigado por dizer a verdade. Eu queria ouvir isso da sua boca. — confessou — Porque, Rin… você tem sido a única mulher que não tenta me agradar, mas também a única que eu tento agradar todo o tempo.
Rin ficou sem ar. O laço vibrou — profundo, vivo, como um trovão abafado. Sesshoumaru deu um passo à frente, lento, como se temesse quebrar algo interno nela.
— Você fica... diferente com o cabelo solto. – Rin ergueu os olhos, confusa, e ele continuou, a voz quase um sussurro — Nunca pude vê-lo completamente antes. Você é tão linda sem aquele véu.
Ela piscou, surpresa, saindo do transe e percebeu o quanto a situação era mais embaraçosa. Ele, com o corpo parcialmente descoberto, o olhar fixo; ela, de camisola, o cabelo derramado em ondas pelas costas. Puxou o cobertor até o queixo, tentando esconder o rubor.
Sesshoumaru estendeu a mão como se pedisse permissão e lentamente segurou uma mecha negra enrolando um cacho nos dedos. Estava como que hipnotizado. Aquele gesto simples — o toque leve, o olhar detido — não era apenas desejo, nem ternura; era uma força que os atraía de forma inevitável. Os olhos dourados dele percorreram o rosto de Rin e detiveram-se nos lábios dela. Era o olhar de um homem, pesado de desejo e de surpresa. Sem delicadeza ensaiada, apenas o instinto de um homem que percebe, de repente, o que quer.
Sesshoumaru não desviou o olhar — não por atrevimento, mas por fascínio de quem fez uma descoberta relevante. Falou num tom baixo, como se confessasse algo que o próprio orgulho não permitia entender:
— Os seus olhos... têm um tom raro. Castanhos, mas quando a luz os toca, parecem dourados. — fez uma pausa breve — E combinam com o calor da sua pele, com esse ar de quem não sabe o quanto é bela.
— Você está me assustando senhor Taishou. – disse ela baixo.
O silêncio entre eles ficou pesado, quase palpável. Sesshoumaru respirou fundo e desviou o olhar por um instante, como se retomasse o controle de si mesmo. Depois voltou a encará-la. Levantando da cama afastou-se o suficiente para dar espaço a ela outra vez.
— Sabe, na festa gostaria de te ver assim. — ele esboçou um meio sorriso — Sem véu, sem preto, sem cinza. Só Rin... como é de verdade.
— Você só pode estar brincando senhor Taishou. — Rin o encarou, os olhos arregalados, a voz entre o espanto e a irritação. — Às três da manhã, Sesshoumaru? Tenho certeza que você já disse tudo o que tinha pra dizer agora faça-me o favor e vá dormir!
— É só por uma noite. — respondeu ele, com um meio sorriso tranquilo, mas o olhar intenso, dando um passo na direção dela. — Que mal há? Considere isso um presente para mim. Dê-me essa alegria e prometo ir embora agora mesmo.
— Não. Você vai embora agora mesmo porque este é o meu quarto! — Rin retrucou, erguendo-se num ímpeto e empurrando-o em direção à porta. — E porque esse foi um dos termos do seu acordo com a madre superiora!
Sesshoumaru deixou-se conduzir, mas antes de atravessar o batente, virou-se de repente e segurou as mãos dela entre as suas. O toque a imobilizou. Ele se inclinou apenas o suficiente para que o rosto ficasse próximo ao dela — perto demais.
— Não vou aceitar um “não”. — disse em voz baixa, a respiração dele misturando-se à dela.
Rin vacilou. Por um instante, nada mais existia — apenas o brilho dourado dos olhos dele e o som apressado do próprio coração. Mas então uma voz cortou o silêncio do corredor:
— Milorde...?
Reika estava parada à porta, o corpo perfeitamente composto, um robe sobre a camisola, as mãos entrelaçadas à frente. Só o brilho nos olhos a traía. Viu o que precisava ver: Sesshoumaru apenas de calça perto demais de Rin, somente de camisola com o rosto corado, as mãos presas entre as dele. Bastou um olhar para entender — ou achar que entendia.
— Peço perdão, meu senhor. — disse num tom suave, controlado, dando um passo a frente. — Ouvi um grito e temi que algo grave tivesse acontecido. Vim oferecer ajuda, mas vejo que não era o caso. – disse desviando o olhar e fingindo constrangimento.
Rin soltou as mãos dele como se tivesse tocado fogo.
— Não é nada do que está pensando, senhorita Reika! — apressou-se em dizer, tropeçando nas palavras. — Boa noite!
E antes que qualquer resposta viesse, ela fechou a porta com força. Do lado de fora, o corredor mergulhou em silêncio. Sesshoumaru manteve-se imóvel por um instante olhando para a porta, um meio sorriso e o semblante calmo, então virou-se para Reika — apenas os olhos mais frios do que antes.
— A Rin tem razão. — disse — Foi apenas um pesadelo. Não tire conclusões precipitadas. – a voz dele era firme, impessoal.
— É claro, milorde. — ela sorriu, aquele sorriso impecável com um leve aceno de cabeça. — Não quis incomodar.
Sesshoumaru se afastou, os passos ecoando pelo corredor até desaparecerem. Reika ficou parada, imóvel, o olhar preso à porta fechada. Por dentro, o sangue fervia — uma mistura amarga de ciúme, humilhação e algo que ela ainda não tinha coragem de chamar de ódio.
Rin ainda estava encostada à porta mas não conseguia distinguir as vozes do lado de fora do quarto, o peito arfando, tentando conter o riso nervoso que escapava entre um suspiro e outro. O coração parecia vibrar em todo o corpo. O silêncio que restou era espesso — e cheio demais para deixar que Rin voltasse a dormir.
O amanhecer chegou manso, tingindo as janelas de um dourado pálido. O ar ainda cheirava a orvalho e pão assando. Do lado de fora, o campo despertava — homens recolhiam lenha, mulheres lavavam legumes nas bacias de cobre, e o som de martelos ecoava à distância. Rin já estava desperta há algum tempo. Não conseguiu dormir depois daquela visita inesperada. A lembrança da voz dele — grave, serena — ainda ecoava: “Sem véu, sem preto, sem cinza. Só Rin... como é de verdade.” Por mais que tentasse afastar o pensamento, ele voltava com a mesma teimosia do vento batendo na janela. Suspirou. Rin se sentou na cama e abraçou os joelhos, o tecido da camisola frio contra a pele.
“Só Rin.”
Repetiu as palavras em pensamento. Quem era essa mulher, afinal? A mulher que o espelho mostrava agora, de cabelos soltos e rosto descoberto? A mesma que Sesshomaru havia visto pela primeira vez na noite anterior? Ou a freira que vivia atrás do véu, escondendo o que sentia, obedecendo a cada voto como se isso bastasse para calar o coração?
Passou os dedos pelo cabelo, pensativa. Havia tanto tempo que não o via solto assim... sentiu a própria estranheza, como se tocasse uma parte esquecida de si. Por um instante, a lembrança do olhar dele voltou — aquele olhar que parecia vê-la por inteiro, sem o hábito, sem os muros da fé. E o que mais a perturbava não era a lembrança em si, mas o fato de que, pela primeira vez, não quis fugir dela.
Vestiu-se, o velho vestido cinza e o véu branco, e desceu para a cozinha, onde Kagome já coordenava uma pequena tropa de ajudantes. O avental dela estava manchado de farinha, e os cabelos, presos num coque desfeito. Ainda assim, parecia irradiar uma energia tranquila, quase maternal.
— Dormiu bem, Rin? — perguntou ela, sem virar o rosto.
— Mais ou menos. — respondeu, tentando sorrir. — Espero não ter atrapalhado ninguém com... aquilo.
— Oh, querida, não se preocupe. Sesshoumaru ficou mais assustado que você. Achei que fosse derrubar metade da casa quando ouviu seu grito.
— Eu realmente não queria causar isso... - Rin corou e desviou o olhar.
— Está tudo bem. — disse Kagome, gentilmente. — Todos temos fantasmas que visitam o sono. Alguns só gritam mais alto.
O comentário ficou pairando no ar, simples e verdadeiro. Rin agradeceu em silêncio e passou a ajudar a descascar as maçãs que seriam usadas nas tortas do festival. As duas trabalharam em silêncio por um tempo, até que Kagome falou num tom de brincadeira:
— Sabe... Sesshoumaru pediu pra eu mandar alguém à cidade comprar tecidos. Disse que era pra um “pedido especial”. Eu pensei em pedir sua ajuda nisso.
— Tecidos? – Rin travou o movimento da faca por um segundo.
— Sim. — Kagome a observou de relance, com um sorriso discreto. — Disse que queria algo bonito, especial. Achei curioso... Ele nunca se importa com essas coisas. – Kagome supria um sorriso ao ver o embaraço da outra.
Rin baixou o olhar para as mãos. O pano branco sob seus dedos parecia de repente um desafio.
— Acho que é para alguma decoração do festival. — tentou disfarçar.
Kagome soltou uma risada suave.
— Ah, sim. Uma decoração de dois olhos castanhos e cabelo negro, talvez.
Rin arregalou os olhos.
— Kagome! — exclamou, corando.
— O que foi? — ela respondeu com naturalidade. — Não há mal nenhum em ser admirada, Rin.
Antes que Rin pudesse responder, um murmúrio de vozes veio do pátio. Sesshoumaru e Inuyasha discutiam algo a incursão feita a Kisawa. O tom do general era firme, mas sem irritação — apenas a autoridade de quem sabia o que fazia. Rin o viu pela janela, ao virar-se para dar uma ordem a um dos trabalhadores, por um instante, seus olhos encontraram os dela pela vidraça. Foi rápido, mas Rin sentiu o corpo inteiro estremecer. Lembou-se de tudo que aconteceu na noite anterios e desviou rápido o olhar, o coração batendo num ritmo estranho. Kagome percebeu, claro — sempre percebia. Mas nada disse. Apenas continuou cortando as maçãs, com o mesmo pequeno sorriso de quem entende o que o outro ainda não ousa admitir.
— Vamos, Rin. — disse por fim. — Temos muito o que preparar. E parece que este festival vai ser... inesquecível.
Os dias que vieram depois correram apressados, cheios de mãos ocupadas e grandes expectativas pendendo no ar. A fazenda estava mais viva: o som dos martelos, o perfume das flores cortadas, a cozinha com muitos aromas, o brilho das fitas novas pendendo dos mastros. Tudo se preparava para a festa. Agora, sentada diante da penteadeira, ela se perguntava se havia cometido um erro. Anna, radiante, terminava de ajustar o penteado. Rin observou o próprio reflexo e, por um instante, não se reconheceu. Não houve vestido novo. O vestido que Kagome lhe emprestara, escolhido às pressas, transformava completamente sua silhueta. Era de veludo azul escuro, as mangas longas e leves de voil, o corpete justo marcando-lhe a cintura e o quadril de um modo que a fez desviar os olhos, constrangida. Kagome insistira para que usasse um modelo de mangas curtas, mas Rin recusou terminantemente — o decoro ainda era sua última fortaleza.
— Ao menos permita um pouco de cor nos lábios — pediu Anna, com aquele entusiasmo juvenil. — Não vou deixar forte, prometo. Só um toque.
Rin suspirou, cansada de resistir, e fechou os olhos em rendição silenciosa. Anna sorriu, rápida, aplicando o corante com um pincel delicado.
— Pronto. — disse, recuando um passo. — Está linda, senhorita Rin.
Rin abriu os olhos. A mulher no espelho tinha os mesmos traços — mas parecia alguém que ela nunca conhecera. Sem o hábito, sem o véu, com os cabelos em tranças finas que caíam soltas pelas costas, ela se viu — não como irmã Rin, mas como mulher. E isso a assustou mais do que gostaria de admitir. O que diriam as irmãs do convento? O que pensaria a madre superiora? E por que, em nome da própria fé, ela queria tanto agradar Sesshoumaru? Uma batida suave à porta interrompeu o turbilhão de pensamentos.
— Rin, posso entrar? — Era a voz alegre de Kagome.
Anna abriu a porta, e Kagome surgiu vestida em tons de rosa escuro, o sorriso luminoso como sempre.
— Você está... — ela parou por um instante, sinceramente surpresa. — Está deslumbrante, Rin! Esse vestido nasceu pra você. Rin corou, sem saber o que responder.
— Vamos? — disse Kagome, estendendo-lhe a mão. — Os rapazes estão nos esperando lá embaixo.
Rin agradeceu a Anna, olhou-se uma última vez no espelho — o reflexo parecia suplicar que ela ficasse —, mas seguiu Kagome pelos corredores iluminados por lamparinas.
Quando elas chegaram ao topo da escadaria principal, Rin o viu. Sesshoumaru estava abaixo, de pé, uma taça de vinho em uma das mãos. O olhar dourado ergueu-se lentamente até encontrá-la — e permaneceu nela. Havia algo de predador e, ao mesmo tempo, cativante naquele olhar. Por um instante, o mundo ficou suspenso, como se a noite aguardasse o próximo passo. Ali, no alto da escadaria, Rin sentiu que tudo estava prestes a mudar. E então, com o coração acelerado, ela começou a descer.
Notes:
Esse capítulo deu muito trabalho para escrever e revisar, algumas cenas reescrevi várias vezes e no total foram trinta e cinco páginas! Por isso decidi dividir em duas partes para não ficar cansativo, postarei a parte dois na semana que vem se vocês quiserem então por favor comentem! Vem mais romance por aí.
Chapter Text
A Primeira Dança – parte II
O som da festa se dissolveu quando Rin desceu o primeiro degrau. Sesshoumaru levantou o olhar, e as lanternas suspensas refletiram nos olhos dele um brilho quente. Havia algo naquele instante, uma pausa que parecia do tempo, que envolveu os dois em um silêncio particular.
Não importavam as cores, as vozes, nem a música ao redor; para Sesshoumaru, foi como se o mundo inteiro perdesse forma por um momento. Ele nunca havia experimentado esse sentimento antes. Ali, naquela escadaria, ele não enxergou nada da freira que Rin ainda insistia em ser, apenas a mulher que ele desejava agora, com uma intensidade que não soubera nomear até vê-la assim. A mulher que era pra ser dele e somente dele.
— Senhores, tenho o prazer de lhes apresentar essa noite minha amiga recém-chegada, Rin. – Kagome fez um gesto teatral, divertida.
Rin surpresa e constrangida, sem saber bem o que fazer, fez uma leve reverência. Inuyasha sorriu, entrando na brincadeira.
— Seja bem-vinda, senhorita Rin. — disse, com falsa solenidade, e voltando-se para o irmão — Está deslumbrante esta noite. Não concorda, Sesshoumaru?
Sesshoumaru não desviou o olhar. Girou levemente a taça nas mãos, antes de levar o vinho aos lábios.
— Se me permite dizer, e com todo respeito à minha cunhada. — respondeu com a voz baixa, firme — A senhorita Rin é, sem dúvida, a mais bela desta noite.
Kagome deu um risinho breve, Inuyasha levantou uma sobrancelha divertida e gargalhou. Mas Rin... Rin apenas sentiu o sangue subir-lhe ao rosto. E, por um instante, desejou que o chão a engolisse — ou que os olhos dourados à sua frente parassem de fitá-la com tanta clareza, como se atravessassem todas as defesas que ela ainda tentava sustentar. O olhar de Sesshoumaru tirou o fôlego de Rin, que sentiu o coração bater de forma desordenada, o rosto quente. Estava sentindo coisas que nunca sentira antes. E, pela primeira vez desde que o conhecera, não encontrou resposta para dar. Apenas baixou o olhar, ruborizada e sorriu. Sesshoumaru vestia um terno negro, impecável. O tecido parecia feito sob medida para realçar a elegância natural dele — os ombros largos, a postura ereta, o porte de um homem acostumado a comandar. A camisa branca contrastava com o preto do paletó, e a gravata azul-escura — idêntica à cor do vestido de Rin — completava o conjunto com uma harmonia quase simbólica. Os cabelos prateados caíam sobre os ombros, refletindo o brilho das luzes. Ele uma presença impossível de ignorar. Logo Inuyasha e Kagome se dispersaram entre os convidados, deixando-os sozinhos.
— Você está linda esta noite. – disse olhando-a diretamente nos olhos – Eu queria que nunca voltasse a vestir aquele hábito.
Rin desviou o olhar, sorrindo de leve.
— Obrigada, Sesshoumaru. Mas... não se acostume. — respondeu, tentando ser divertida — É simples, mas espero que aceite. Feliz aniversário.
Ela lhe estendeu um pequeno pacote. Sesshoumaru desembrulhou com cuidado. Dentro, havia um lenço branco, bordado com a letra “S” em azul-marinho e pequenos detalhes dourados abaixo. Junto dele, um cordão trançado em tons de azul e fios dourados entrelaçados.
— São presentes tão simples que sinto vergonha. O cordão é para colocar na sua espada, se quiser. — explicou Rin. — Ouvi dizer que esses cordões trazem sorte em batalha quando são tecidos enquanto alguém reza por coisas boas para o dono. Rezei por muitas para você. – sorriu, tímida.
Sesshoumaru olhou para os presentes com atenção rara, como quem observa algo precioso.
— Você também bordou o lenço?
— Sim. Costurei e bordei os dois. — respondeu Rin — Não são nada grandiosos, não precisa usar se não quiser.
— Está enganada. Em meio a toda preparação dessa semana você reservou um tempo para fazer com as próprias mãos. — disse ele, a voz grave e baixa — Para mim, significam muito. Guardou o lenço e o cordão com cuidado dentro do terno, antes de erguer os olhos para ela — Vou mantê-los comigo.
Rin ia responder, mas a aproximação de um homem interrompeu a cena.
— Lorde Taishou, meu caro! Meus parabéns em mais um ano. — cumprimentou o recém-chegado com entusiasmo — E essa bela jovem, de quem é filha?
— Esta é minha convidada. Seu nome é Rin. – Sesshoumaru endireitou-se como quem veste novamente uma armadura.
O homem arqueou as sobrancelhas, curioso.
— Ah, então é verdade... — disse em tom malicioso — Ouvi dizer que uma jovem havia arrematado o coração do grande general. Mas também me contaram que ela era... uma freira.
Rin ficou sem ar. O sangue subiu-lhe ao rosto. Sesshoumaru não hesitou nem por um segundo.
— Sim. — respondeu com serenidade — Essa é minha futura esposa.
Rin engasgou. O homem piscou, surpreso. Sesshoumaru continuou, sem alterar o tom:
— Mas é uma história longa, senhor Tokugawa. Fica para outro momento.
O visitante compreendeu o aviso implícito no olhar frio do general e, com um sorriso constrangido, se afastou apressado. Rin permaneceu imóvel por um instante, processando o que acabara de ouvir. Virou-se para Sesshoumaru, a voz trêmula:
— Você... você acabou de dizer a ele que eu sou sua futura esposa!
— Sim. — respondeu ele com naturalidade — E não é verdade?
— Não! Sim! Quer dizer, eu não sei! — rebateu ela, sem conseguir conter o nervosismo — Como pôde dizer algo assim?
Um sorriso discreto surgiu nos lábios dele, um brilho perigoso nos olhos dourados.
— Minha bela futura esposa... — murmurou, aproximando-se apenas o suficiente para que ela sentisse o calor de sua presença — O seu lugar é ao meu lado, e agora você sabe disso.
Rin recuou meio passo, o coração descompassado. Lá fora, as lanternas balançavam ao vento, e o som distante da música voltava a preencher o salão. O casal não tinha ideia de que era observado com atenção por vários olhares curiosos e cochichos entre eles Reika encostada junto a uma das colunas de pedra do salão, o copo intacto em mãos, via a cena se desenrolar com a calma gélida de quem aprendeu a disfarçar o próprio furor. A música seguia suave, a conversa e as risadas enchiam o ambiente, mas para ela, tudo parecia distante. O olhar de Sesshoumaru repousava em outra mulher. O vestido azul-escuro de Rin parecia feito para contrariá-la — simples e, ainda assim, inegavelmente belo. O contraste com os cabelos soltos, o rubor no rosto, o nervosismo mal disfarçado… Reika percebeu tudo. Cada gesto, cada respiro. Percebeu, sobretudo, o modo como Sesshoumaru a olhava — não com curiosidade, não com cortesia. Mas com algo a mais, muito mais, desejo profundo. Teve vontade de rir. De gritar. De derramar o vinho sobre o chão e deixá-lo manchar o veludo das toalhas.
Mas não fez nada disso.
Manteve-se ali, imóvel, os dedos apertando o cristal da taça até sentir o estalar quase imperceptível do vidro, aquilo lhe trouxe de volta à razão. Fez o que sempre fazia: sorriu. Um sorriso frio, calculado, daqueles que não alcançam os olhos. Seu orgulho ferido queimava mais do que qualquer ciúme. Não era apenas o fato de vê-lo se interessar por Rin — era o absurdo de vê-lo fraquejar por alguém tão improvável. Uma menina ingênua, criada entre paredes sagradas, que não sabia o peso da guerra nem o custo do amor.
— Ridículo. — murmurou, entre os dentes, quase sem som.
O vinho desceu pela garganta, amargo. O salão continuava vibrando com música e vozes, mas para Reika, a festa havia acabado.
Entre um convidado e outro, a casa foi se enchendo. O som das conversas misturava-se às risadas, às taças que tilintavam, e à música que vinha dos músicos perto do jardim. Casais dançavam do lado de fora alegremente. A noite ganhava corpo, quente e pulsante. Rin permaneceu ao lado de Sesshoumaru durante boa parte da festa. Sentia-se protegida ao seu lado — e, ao mesmo tempo, inquieta. Mas em algum momento, ele se afastou com Inuyasha e alguns homens para tratar de assuntos que pareciam sérios. Rin podia ouvir os murmúrios ao redor.
— Ouvi dizer que houve ataques com mortos em Gifu…
— Os armazéns da capital estão baixando o estoque…
— Estão querendo cobrar dobrado pelo trigo…
— Monstros de novo? Ou apenas bandidos?
Rin sentiu o peito apertar. A festa, tão luminosa, tinha um ar estranho — abafado, tenso. Pessoas sorriam, mas murmuravam por trás dos copos. E a política, como uma sombra, se entranhava por entre cores e músicas.
Sozinha novamente, Rin voltou a acompanhar Kagome, que estava cercada por um grupo de mulheres. Elas sorriam demais, falavam com doçura forçada, e logo começaram a fazer perguntas que soavam mais como julgamentos disfarçados. Sentia-se deslocada — o vestido azul-escuro parecia pesado demais sobre a pele, o penteado elaborado demais para quem passara anos escondida sob o véu.
— Então, senhorita Rin, por que viveu todo esse tempo... no convento?
— Deve ter sido entediante... sem bailes, sem cortejos...
Kagome interveio sempre que podia, trocando o rumo da conversa com habilidade e graça. Mas Rin percebia os olhares — avaliadores, curiosos, cruéis. Até que uma das mulheres, loira e com um ar de falsa simpatia, murmurou para o grupo:
— Vejam, se não é a senhorita Asano chegando...
Rin seguiu o olhar. Na entrada do salão, um casal mais velho fazia-se acompanhar por uma mulher alta, de porte elegante, trajando um vestido rubro salpicado de joias douradas. O murmúrio das damas aumentou como uma corrente elétrica.
— Sempre esplêndida... — disse a loira num tom admirado que escondia veneno.
Rin assistiu enquanto a jovem e os pais se aproximavam de Sesshoumaru. Ele a cumprimentou com a cortesia exata — nada além.
— Vamos buscar um pouco de ponche. — disse Kagome, percebendo o desconforto e a puxando gentilmente pelo braço.
O ponche era doce e perfumado, com notas de frutas e vinho. Rin levou o copo aos lábios e sentiu uma leve queimação na garganta. O sabor estava diferente do que havia provado mais cedo, quando a senhora Kikyou lhe oferecera uma amostra. Ainda delicioso, mas mais forte. As conversas em volta pareciam ecoar, as vozes ganhavam um tom mais distante, as luzes tremulavam como se dançassem. Alguém encheu novamente sua taça, e Rin, distraída entre as risadas das mulheres, bebeu outra vez. Foi quando percebeu que o salão começava a girar — não muito, mas o bastante para que tudo ao redor parecesse flutuar levemente.
E então uma voz se fez ouvir, grave e inconfundível:
— Senhoritas, boa noite.
Ela se virou. Sesshoumaru estava ali. Elegante, imperturbável, o olhar firme como sempre.
— Se me permitem... — disse ele, com um leve aceno — ...posso roubar esta jovem por alguns minutos?
As damas se entreolharam com risadinhas abafadas.
— É claro, milorde. — respondeu a loira, mal escondendo o interesse.
Sesshoumaru estendeu a mão para Rin.
— Há algo que precise de mim? — perguntou ela, tentando parecer serena.
— Gostaria de convidá-la para uma dança. – respondeu ele quando se afastaram do grupo
— Ah... há vários motivos para recusar — disse Rin, nervosa — Começando pelo fato de eu não saber dançar, mas também...
— Apenas venha comigo. – ele a interrompeu com um leve sorriso.
Antes que ela protestasse, Sesshoumaru a conduziu pelo corredor lateral, passando pela cozinha até o terraço dos fundos. O ar lá fora era frio e doce, perfumado de flores e da terra úmida. Não havia nenhum sinal de chuva e a lua estava alta, redonda, iluminando os degraus de pedra e o contorno das árvores assim como lanternas que não estavam ali mais cedo, ela tinha certeza, foram posicionadas especialmente para esse momento, que aparentemente, foi calculado por ele.
— Aqui. — disse ele, virando-se para ela — É só deixar que eu a conduza. Deixe o corpo leve... e, se pisar em meu pé, não tem problema.
Rin tentou rir, mas o som morreu em sua garganta. Sesshoumaru se aproximou, tomando-a pela cintura com uma das mãos e pela mão com a outra. O toque era firme, quente, real. Ela sentiu o mundo diminuir até caber naquele espaço entre eles — o som distante da festa, o farfalhar das folhas, o roçar de sua respiração.
— Está tremendo. — murmurou ele.
— Eu... não estou acostumada com isso.
— Nem eu. — respondeu Sesshoumaru, e seus olhos dourados encontraram os dela com uma intensidade que a fez esquecer de respirar.
O tempo pareceu suspenso. Os passos incertos se misturaram num compasso lento, quase inexistente. A lua os envolvia, e, por um instante, Rin teve certeza de que tudo o que jurara ser improvável nunca parecera tão inevitável. Sesshoumaru a conduzia com calma — passos lentos, o som de suas respirações que, aos poucos, se tornavam uma só. Rin sentia o calor da mão dele na sua, a firmeza na cintura, o perfume discreto de madeira e vinho. Tentava manter a mente vazia, mas cada toque — cada olhar — fazia o coração dela tropeçar num compasso novo e perigoso.
— Está mais leve agora. — murmurou Sesshoumaru.
— Acho que... sim. — respondeu Rin, sem saber ao certo se falava do corpo ou da alma.
Ele inclinou o rosto para observá-la. O reflexo da lua acendia fios dourados em seus olhos. Era um olhar sereno, mas havia algo ali que queimava — um tipo de ternura que Rin nunca vira nele antes.
— É estranho... — disse ela, quase num sussurro — Quando estou aqui, esqueço de tudo.
— Do convento? — perguntou ele.
— Também, começo a me esquecer de quem eu era, eu acho.
Sesshoumaru manteve o olhar sobre ela.
— Porque aqui... — disse ele, aproximando-se um pouco mais — ... você pode ser apenas você.
— Eu não devia... — começou ela, num sopro.
— Talvez. — respondeu ele, num tom baixo, grave — Mas ainda assim, estamos aqui. O destino quis assim. — murmurou ele — Não quero que vá embora. Quero que fique aqui, não como hóspede, mas como parte de mim.
Ela abriu os olhos, assustada.
— Parte de você?
— Você sabe o que quero dizer.
Rin podia sentir o corpo dele tocando o seu, talvez sua mão estivesse suando um pouco. E foi aí, com o rosto dela iluminado pela lua e o perfume dele invadindo-lhe os sentidos, que Sesshoumaru perguntou:
— Rin… — a voz dele estava mais baixa, quase um sussurro rouco — O que eu preciso fazer para conquistá-la?
Rin tropeçou no próprio passo, o olhar subindo para encontrar o dele, espantado e sincero.
— O quê? — a voz dela saiu fraca, quase um sopro.
Sesshoumaru manteve a mão firme na cintura dela, trazendo-a o máximo para perto do seu próprio corpo, sustentando-a com suavidade.
— Eu quero saber. — continuou, sem desviar os olhos dos dela — Diga-me o que devo fazer para que você… me escolha. Para que olhe para mim como eu a olho agora.
Rin sentiu o ar sumir. Aos poucos aquele homem parecia alcançar o seu coração.
— Sesshoumaru… eu… — ela tentou falar, mas a voz falhou — Eu não sei responder isso.
Ele aproximou o rosto apenas um pouco mais, uma proximidade que queimava.
— Então permita que eu descubra. — murmurou e completou lentamente — O que você faria se eu a beijasse agora?
As palavras caíram entre eles como faíscas. O toque das mãos se prolongou. A ponta dos dedos dele roçou a pele do pulso de Rin, e ela estremeceu. Os passos diminuíram até cessarem. Agora dançavam apenas os olhos — o dela, assustado e entregue; o dele, calmo e faminto. Ele ergueu a mão e afastou, com um gesto cuidadoso, uma mecha de cabelo que caía sobre o rosto dela.
Rin recuou um passo, o coração em descompasso, rápido demais. Não conseguia responder. Não conseguia sequer pensar. De repente o chão parecia mover-se sob seus pés. A vista escureceu — a varanda, a lua, o rosto de Sesshoumaru, tudo começou a girar numa espiral lenta e sufocante.
Sesshoumaru ainda segurava a mão de Rin quando o momento entre eles se rompeu por uma voz firme surgindo atrás deles.
— Sesshoumaru. — chamou Inuyasha, sem elevar o tom, mas com uma urgência que não permitia ser ignorada.
Os dois se afastaram instintivamente. Rin respirou fundo, tentando recompor-se. Sesshoumaru, por sua vez, endireitou a postura, a expressão voltando à serenidade controlada de sempre. Inuyasha deu apenas um passo para dentro do terraço. O rosto sério dizia mais do que qualquer palavra.
— Ah, eu sinto muito, mas preciso de você agora. — afirmou simplesmente.
— Aconteceu alguma coisa? – Sesshoumaru franziu levemente o cenho.
Inuyasha suspirou, passou a mão pelo rosto e respondeu num fio de voz tenso:
— O senhor Tokugawa está embriagado. Muito. — seus olhos deslizaram por Rin, com um breve pesar — E disse que gostaria de fazer uma homenagem a você.
Sesshoumaru não respondeu. A linha firme de seu maxilar endureceu, e por um instante tudo o que havia nele era silêncio — um silêncio que fazia Inuyasha ajustar os ombros como quem se prepara para um impacto.
— Entendo. — disse Sesshoumaru, a voz baixa, precisa.
Ele soltou a mão de Rin devagar, com controle absoluto, mas Rin sentiu a ausência como um golpe. O ar entre eles perdeu o calor que existira um segundo antes. Sesshoumaru fez um leve gesto com a cabeça, indicando que ela o seguisse — não por imposição, mas porque sabia que se afastar dela agora seria deixá-la vulnerável depois do que compartilharam naquele momento íntimo. Rin hesitou. Inuyasha olhou para ela com uma espécie de simpatia contida, como se soubesse que nada daquilo era justo.
— Venha. — disse Sesshoumaru, suave, porém firme.
Ela obedeceu. Os três atravessaram o corredor iluminado, o som da música crescendo conforme se aproximavam da ampla sala. Mas a música parecia dissonante, como se pertencesse a outra noite, outro mundo. A atmosfera havia mudado. Quando chegaram ao salão, a cena os recebeu como um golpe. O senhor Tokugawa estava de pé sobre uma pequena cadeira no centro do cômodo, segurando uma taça de vinho já meio vazia. O rosto ruborizado, o sorriso torto. A esposa dele tentava, com discreta vergonha, segurá-lo pelo casaco. Os convidados haviam aberto espaço ao redor, atentos — uns divertidos, outros desconfortáveis, alguns francamente ansiosos por escândalo. E então, quando viu Sesshoumaru entrar, Tokugawa ergueu a taça com uma solenidade tropeçada:
— Ah! Nosso… nosso… anfitrião! — disse alto arrastando as palavras — O… o grande general Taishou!
Algumas pessoas riram, outras tossiram para disfarçar. Sesshoumaru avançou poucos passos, postura impecável, sem pressa, mas com a autoridade que fazia até o ar se reordenar ao redor dele. Inuyasha ficou à esquerda, atento. Rin ficou para atrás, o coração batendo no pescoço, uma náusea pesando o estômago. Tokugawa continuou, ignorando completamente a mudança brusca na energia do lugar.
— Eu… eu gostaria de fazer um brinde! — anunciou, balançando a taça — Um brinde ao… ao homem mais honrado, mais justo, mais digno que conheço!
A voz dele ecoou, e algumas palmas tímidas começaram.
— E… — Tokugawa sorriu de um jeito torto — …à futura senhora Taishou!
Um silêncio imediato percorreu o salão, seguido de um burburinho baixo. Alguns olhares se voltaram para Rin. Outros para Sesshoumaru. Reika, parada ao lado de um grupo de damas, engoliu em seco, mas manteve o sorriso gelado. Sesshoumaru não reagiu de imediato. O silêncio que se fez era tão absoluto que quase abafava a música. Ele deu um único passo à frente.
— Senhor Tokugawa. — chamou, com calma mortal.
A esposa do homem fechou os olhos por um segundo, como se pedisse perdão antecipado aos céus.
Tokugawa, ainda rindo, ergueu a taça mais uma vez.
— À… jovem Rin! A belíssima Rin! A nossa… ah… a nossa nova joia de Éden!
Rin sentiu o chão sumir por um instante. O rosto queimava — de vergonha, de confusão, o mundo girou novamente, todos os olhares se voltaram para ela. A atmosfera mudou. Não era mais uma festa. Era uma arena silenciosa. Sesshoumaru caminhou até Tokugawa — sem pressa, sem elevar o tom, mas com uma autoridade tão fria que obrigou todos a recuar um passo. Quando chegou perto, falou apenas uma frase:
— Desça. Agora.
Não foi um pedido. Foi uma ordem. E o salão inteiro prendeu a respiração. O salão inteiro ficou imóvel. O senhor Tokugawa, ainda trêmulo, piscou algumas vezes, sem compreender de imediato a gravidade da situação. Mas havia algo no tom de Sesshoumaru — uma calma mais afiada que qualquer espada — que fez até os mais bêbados despertarem. A esposa de Tokugawa apressou-se a puxar discretamente o braço do marido.
— Querido… por favor… — murmurou ela, mortificada.
Tokugawa, enfim percebendo que ultrapassara um limite que não deveria existir, desceu da cadeira sem discutir, quase tropeçando no próprio peso. Sesshoumaru segurou-o pelo antebraço apenas o suficiente para impedir que caísse — e só isso já dizia tudo.
— Pode acontecer com todos nós. — declarou Sesshoumaru, em tom público, sem humilhação, uma saída elegante que devolvia dignidade ao homem— Tome um pouco de ar, senhor Tokugawa, ou talvez seja a hora de se recolher. — completou, num gesto cortês.
O salão, que segurava o fôlego, finalmente relaxou. Alguns convidados sorriram, murmurando elogios à postura do general. Mas a calma não durou. Enquanto Sesshoumaru retornava à postura impecável, Rin sentia olhos e mais olhos pousarem sobre ela, tocando-a como lâminas.
— Então é ela? De que família vem?
— O general sempre foi tão reservado…
— Dizem que é uma freira?
— Como isso aconteceu?
— Ele poderia ter escolhido alguém… mais adequada.
As frases vinham de todos os lados, em tons baixos, mascaradas por sorrisos sociais, outros maliciosos. Rin manteve a cabeça erguida, sustentando a dignidade com o pouco de força que lhe restava, mas o estômago revirava como se algo a puxasse de dentro para fora. Sesshoumaru ainda estava de costas, resolvendo o caos que Tokugawa causara, quando ela deu o primeiro passo em direção à escada. O calor começou a subir de forma estranha — não o calor de vergonha, nem o da dança. O som das conversas se afastou como se alguém fechasse uma porta atrás dela. Os risos se tornaram ecos distorcidos. As luzes sobre o salão pareciam pulsar, fortes demais, como se queimassem o contorno das coisas. O chão parecia ceder levemente, traindo-lhe os passos. Rin apertou o corrimão. Não queria chamar mais atenção, não queria desmaiar ali. Então subiu, rápida, quase tropeçando no segundo degrau.
Ouviu alguém chamá-la — talvez Kagome, talvez Anna — mas não teve coragem de olhar para trás. Se olhasse, não conseguiria continuar. O ar do corredor do andar de cima estava mais frio, mais silencioso. Ainda assim, o mundo parecia girar por trás de seus olhos. Ela caminhou até a metade do corredor, apoiando-se na parede de madeira trabalhada. O toque frio trouxe momentâneo alívio e a certeza de que algo estranho estava acontecendo dentro dela. Rin fechou os olhos. Quis chorar. Tentou respirar.
— Rin? — era a voz de Sesshoumaru logo atrás dela — O que houve?
— Estou... tonta. — ela não se virou para olhá-lo, lembrou-se do ponche — Acho que foi algo que bebi. O mundo está girando... preciso me deitar.
Tentou se afastar, mas as pernas falharam. Sesshoumaru não hesitou.
— Deixe-me ajudá-la. — disse, e num único movimento, a ergueu nos braços.
— Não, por favor, eu posso ir sozinha... — murmurou, envergonhada – Volte para a festa por favor.
Sesshoumaru não respondeu. O corredor parecia mais longo que o habitual. Rin gemia baixinho, a cabeça latejando; num movimento não calculado, usou uma das mãos para segurar-se ao pescoço de Sesshoumaru aninhando-se em seu colo, e o nariz dela roçou suavemente na pele quente dele. Sesshoumaru parou retesado — o toque acendeu nele uma corrente involuntária de calor, um estremecimento profundo que atravessou seu corpo inteiro. O laço pulsou forte, reivindicando-a; um desejo novo e contido veio à tona, misturado a um impulso protetor quase feroz. Ele sentiu o coração acelerar, os pensamentos embargarem por um instante, e percebeu que era a simples verdade, de que o corpo dela, mesmo sem intenção, convocava o dele. A respiração dele falhou por um momento, e seus dedos se fecharam com mais firmeza na cintura dela. Rin se sentia algo não demonstrava, mas ele piscou, retomou o controle e, respirando fundo, continuou a caminhar pelo corredor com ela nos braços. Seu passo voltou a ser firme, guiado pela urgência de levá-la ao quarto. Cada gemido dela era uma fisgada nele — e embora o toque ainda queimasse na memória de sua pele, agora o que dominava Sesshoumaru era a preocupação. Empurrou a porta do quarto, depositou-a com cuidado sobre a cama, mas antes que pudesse dizer algo, ela levou a mão à boca e correu para o banheiro. Ouviu-a vomitar, o som fraco e dolorido. Sesshoumaru respirou fundo, saiu do quarto por um instante e voltou poucos minutos depois com Anna. A criada apressou-se até o banheiro, ajoelhando-se ao lado de Rin.
— Minha senhorita... — disse, com voz terna. — Eu irei cuidar de você agora.
Rin estava pálida, os olhos marejados, o corpo trêmulo.
— Anna... não quero estragar sua noite. — murmurou — Vá se divertir, por favor. Eu só preciso me deitar um pouco.
— Eu já aproveitei o bastante. — respondeu Anna, firme — Agora vou de cuidar da senhorita.
Ela ajudou Rin a se levantar, limpou-lhe o rosto com um pano úmido e começou a soltá-la do vestido, com gestos rápidos e delicados. Sesshoumaru, imóvel na porta, observava — o semblante entre preocupação e impotência.
— Vou deixá-la em suas mãos. – disse saindo para dar privacidade a jovem – Se precisar de algo, mande me chamar.
— Sim, milorde. — respondeu a criada sem tirar os olhos de Rin.
Ele assentiu e saiu do quarto em silêncio.
A noite foi longa. Rin mal dormiu — entre acessos de enjoo e tontura, nada ficava em seu estômago, nem o chá, nem a água que Anna insistia em lhe oferecer. Quando o sol enfim atravessou as cortinas, ela havia cochilado um pouco, a cabeça latejava, cada batida do coração pulsando nas têmporas. O corpo inteiro doía. Estava deitada, imóvel, quando ouviu a porta se abrir. Sesshoumaru entrou acompanhado de Kagome. Ele trazia o semblante tenso, e os olhos denunciavam preocupação genuína.
— Rin — disse, aproximando-se da cama, franziu levemente o cenho — Você bebeu ontem à noite? Acho que você está com uma bela ressaca.
Rin levou a mão à testa, tentando se sentar.
— Eu... só tomei água, suco e um pouco de ponche. — olhou-o com sinceridade aflita — Eu juro, Sesshoumaru... não saí do seu lado, nem do lado de Kagome. Eu nunca faria isso.
Sesshoumaru se abaixou ao lado da cama.
— Não precisa se justificar. — disse com calma — Eu acredito em você.
Ela fechou os olhos, aliviada por um instante.
— Assim que bebi o ponche... senti que algo estava diferente. O sabor era outro. Deveria ter recusado, mas não quis parecer grosseira na frente de todos.
Kagome trocou um olhar rápido com Sesshoumaru — um olhar preocupado, silencioso. Ela também havia bebido do ponche, mas não havia notado o álcool pois estava acostumada a tomar vinho as vezes. Ele apertou levemente a mão de Rin.
— Descanse. — disse, baixo — Eu vou descobrir o que aconteceu.
No andar de baixo a festa havia se dispersado há muito, restando apenas o eco distante da música e o perfume das flores que começavam a murchar. Havia um silêncio quase tranquilo de cansaço e de segredos. Sobre uma penteadeira, repousava novamente a pequena garrafa de vidro — o mesmo líquido rosado, quase vazio, que ela havia despejado discretamente no ponche da noite anterior.
O cheiro era doce. Enganador.
Não era para matar, mas para envergonhar, infelizmente pouco Reika não teve sucesso no seu plano. Por enquanto. Na próxima não iria falhar.
Notes:
Depois de Reika vem aí mais uma mulher pra infernizar a vida de Rin... acho que vocês já sabem.
Continuem interagindo e obrigada a todos.
Chapter 10: Capítulo 10
Notes:
(See the end of the chapter for notes.)
Chapter Text
As Duas Cartas
Dois dias passados desde a festa, o dia amanheceu frio, coberto por uma névoa suave que beijava o topo das árvores e se espalhava pelos campos. O vento carregava o cheiro distante da chuva. Foi nesse cenário que duas cartas chegaram ao Éden.
A mensagem surgiu no meio da tarde, o casaco úmido, as botas sujas de barro seco, como se tivesse atravessado estradas longas e difíceis. Nas mãos, carregava dois envelopes — tão diferentes entre si quanto aos destinos de quem os receberia.
O primeiro tinha o brasão real em dourado: um enorme dragão de gelo, símbolo do rei Haku. O lacre estava marcado por poeira e fuligem, como se tivesse sido fechado às pressas. O segundo era simples, leve, selado com cera branca — o símbolo discreto da Ordem das Rosas Brancas. Trazia o cheiro de papel recém-escrito e a quietude de paredes silenciosas.
Rin recebeu sua carta com as duas mãos, guardando-a contra o peito como quem segura algo frágil, prometendo a si mesma que a abriria mais tarde, quando a casa estivesse em silêncio e o coração também. Sesshoumaru rompeu o lacre real ainda no corredor, os olhos dourados percorrendo as primeiras linhas com uma tensão que apenas ele compreende. Dali caminhou até o escritório que estava como sempre: silencioso, com a lareira queimando lentamente e uma pilha de mapas e livros de contabilidade ocupando quase toda a mesa. Ele abriu a carta e pegou a caligrafia de Haku imediatamente: firme, ampla, apressada demais para um rei, mas típica de um amigo que tinha pouca personalidade para cerimônias assim como ele.
Taishou,
Sei que odeia cartas longas e quando começa com formalidades, então vou poupar o protocolo: volte para a capital.
Os ataques estão se multiplicando, e agora tenho provas de que não são simples monstruosidades desencadeadas por instinto. As criaturas — trolls, goblins, e sabe-se mais o que — estão se organizando, e isso não é natural. Alguém está guiando essas criaturas com propósito e tática. Algumas hordas surgem com disciplina, como se alguém as coordenasse em pontos estratégicos. composto estou de pode ser um plano de Ignis, estão atacando vilarejos, mas também estoques de comida, depois decretou o bloqueio dos rios talvez. E quando estivermos cansados, o ataque direto. O conselho militar está dividido e os comandantes andam mais preocupados com política e diplomacia do que com estratégia. Preciso de alguém que ainda saiba o que é guerra de verdade. Sei que você está apegado ao Éden, mas você é o único capaz de fazer ordem sem precisar levantar a voz.
Suas férias já duraram bastante e já é tempo de você ter programado o tal laço. Saiu daqui tão decidido que a moça não deve ter resistido. O lobo de ferro prateado amansado por uma donzela de véu... nunca pensei viver pra ver isso.
Estamos quase sem tempo. Logotipo Retorno.
O reino precisa de você — e eu também.
— Haku.
Sesshoumaru leu a carta uma, duas, três vezes, depois dobrou e o deixou sobre o monte de papeis que cobriram a mesa. Os ataques relatados nas últimas semanas já ultrapassaram as fronteiras de várias cidades. Haku então não desconfiou que tudo provavelmente estava acontecendo sob o seu nariz sob as influências da Igreja. Se Sesshoumaru estava certo, queria que o equilíbrio do reino estivesse lá.
Sesshoumaru manteve o olhar fixo no mapa à frente. Éden era um ponto frágil envenenado por manchas vermelhas — como sangue ressecado sobre o papel. Ele passou a mão pelo rosto, afastando o cansaço. Tinha passado a noite entre relatórios, contas e lembranças — e, em ambos, Rin Surgia como um esclarecimento inesperado. O nome dela era um rompimento e uma ferida. Em meio a toda a sujeira política e ao possível das batalhas, ela parecia representar algo que o mundo havia esquecido — fé, pureza, calma. Mas também era isso que o deixava inquieto.
“Já é o tempo de você ter programado o tal laço.”
As palavras do rei ecoaram como uma cobrança disfarçada de brincadeira — mas que, para ele, tinha o peso de uma ordem não dita. O rei o chamou de volta, o tom era amigável, mas também uma ordem direta do governante do reino. Sesshoumaru se recostou na cadeira, o olhar perdido no teto. Era a verdade: ainda não havia previsão do laço. Haku não compreendeu o que aquilo fez — nem a fragilidade, nem o risco. A ligação entre ele e Rin não podia ser forçada, não sem romper algo que talvez nunca mais pudesse ser consertado. E, no entanto, o tempo se tornou inimigo dele. Se fosse chamado de volta agora, o laço permaneceria incompleto. Sesshoumaru passou a mão pelos cabelos, frustrado. Nunca houve batalha alguma, mas aquela foi a primeira que não conseguiu vencer ainda. Rin parecia permanecer distante, ainda que nos últimos dias, depois do aniversário dele, o clima entre eles tenha mudado.
O fogo na lareira estalou, quebrando o silêncio.
O reino precisa de você — e eu também.
A frase de Haku voltou à mente, e ele sentiu, pela primeira vez em muito tempo, o peso real dessas palavras.
Três batidas leves ecoaram na madeira da porta. O som delicado o arranjo dos pensamentos.
– Entre. — disse, sem erguer o olhar.
A porta se abriu devagar. Como se comenta ser o tema da angústia do homem, Rin entrou com passos contidos, os olhos percorrendo o ambiente antes de entrar nele. Por um instante ela teve a impressão de que ele estava em outro lugar - longe dali.
— Espero não estar incomodando. — disse, mantendo o tom baixo.
— Não. — respondeu ele, levantando o olhar para encontrá-la, a presença dela dissipou momentaneamente sua tensão — O que deseja?
— Eu queria pedir sua permissão para ir até a cidade amanhã, com a Anna. – fez uma pausa — E… se não for incômodo, gostaria de conseguir um par de botas.
— Botas? – Sesshoumaru arqueou uma sobrancelha, quase distraído.
— É desconfortável caminhar pelos campos com essas sapatilhas do convento. — respondeu, suspendendo um pouco a barra do vestido negro e mostrando o calçado — São boas para rezar, mas tem machucado meus pés a um tempo.
Ele relaxou por um instante. O gesto era simples, mas havia algo reconfortante na naturalidade dela — uma leveza que contrastava com o peso da carta que ainda ecoava em sua mente.
— Eu mesmo desviei tê-la levada à cidade há tempos. Eu prometi isso, deveria ter me contado sobre seu desconforto antes. Amanhã, depois do café, sairemos. Você pode escolher o que quiser, vestidos, botas, livros, o que precisar.
— Não há necessidade de muito. — disse ela, sorrindo de leve — Só das botas.
— Sempre tão modesta. — murmurou ele, com algo que lembrava um sorriso cansado — Mas se aparecer em público com esse hábito, as pessoas vão achar que adotei um papai noel.
— Já estou habituado a me parecer estranho. — respondeu Rin, sem se abalar — Não é novidade.
Sesshoumaru suspirou, e o som pareceu mais profundo do que deveria.
— Você estava tão linda na festa, eu gosto de ver seu véu, mas está bem. — disse apenas — Amanhã.
Ela foi comprada, mas não se moveu. O olhar dela caiu sobre os mapas na mesa — e sobre a carta ainda aberta ao lado. O brasão a fez franzir o cenho.
— Veio do Rei? — Perguntei, sem disfarçar a curiosidade.
Sesshoumaru demorou alguns segundos para responder.
– Sim. — disse, por fim — Uma convocação. O reino precisa de mim. Precisarei retornar a Valência em alguns dias.
Rin o observou, o coração apertado pela revelação da partida dele, tentando decifrar o que não era aqui.
— Até lá, afundo-me nesses livros tentando impor ordem nas finanças do Éden. – Sesshoumaru contínuo.
Rin se mudou da mesa, curiosamente.
— Seu sistema contábil não é difícil de entender.
Ele a fitou, surpresa.
— Você viu?
Ela corou, um pouco constrangida.
—Sem querer. — confessou — Eu e Anna estavam na biblioteca quando encontraram alguns livros antigos. Quando percebi que eram registros financeiros, quis compreender. Juro que não alterei em nada só li.
Sesshoumaru recostou-se na cadeira, cruzando os braços. Rin desviou o olhar, envergonhado.
– Só quis entender. Não deveria ter feito sem sua permissão.
— Talvez não. — disse ele, e empurrou um dos livros na direção dela — Então mostre o que entendi.
Ela hesitou, depois se inclinou sobre a mesa. Durante os minutos seguintes, explicados as colunas, as anotações, as falhas nos meses anteriores. Falava com cuidado, mas o olhar ganhava brilho à medida que se soltava. Sesshoumaru observava em silêncio, intrigado.
— Também notei que alguns meses não fecham direito. — disse Rin — Imagine que os dados se percam antes de serem registrados.
– Exato. — ele respondeu, quase satisfeito — Jaken é um bom homem, mas odeia formalidades. Já tentei tentar usar recibos, mas ele prefere confiar na memória, e ela é péssima.
— Ele cuida de muita coisa sozinho, não?
— De quase tudo. A fazenda, os campos, as colheitas, as vendas. Também supervisiona as construções e a manutenção da nossa pequena vila. Com Inuyasha longe, Jaken é meu braço direito. Mas às vezes peço demais a ele.
Rin pensou por um instante antes de responder:
— Talvez não seja preciso pedir demais. Poderia dar a ele um assistente.
Sesshoumaru arqueou uma sobrancelha.
— Não é uma má ideia. Mas duvido que aceite alguém dizendo-lhe o que fazer. – retrucou Sesshoumaru.
Rin deu de ombros. Ele se inclinou para frente, analisando-a com interesse.
— Você está oferecendo para o cargo?
— Estou buscando uma solução. – Rin o encarou, série.
— Podemos testar sua teoria. – Sesshoumaru deixou escapar um riso baixo – Terminarei este mês, e você preencherá o próximo. Para funcionar, vamos levar sua sugestão a Jaken. Mas não espere que ele vá receber bem.
— Nada que um pouco de paciência não resolva. – ela pediu.
Sesshoumaru respondeu apenas com um olhar — e nele havia uma mistura de preocupação e aprovação silenciosa.
— Eu devo retornar a Valência com você? – ela falou devagar.
— De forma alguma. – ele respondeu rapidamente – Gostaria que você permanecesse aqui na minha ausência, onde sei que estará protegido. Você ainda deseja partir?
Ela pensou por um momento e negou com a cabeça. Ele suspirou aliviado, mas contínuo com uma sombra no olhar.
— Algo mais o incomoda. – ela insistiu.
Ele respirou fundo, desviando o olhar para a lareira. Seus olhos refletiram um conflito interno que ele nunca permitiria a ninguém ver.
— Tem sido muito bom ter você aqui no Éden. — começou, a voz baixa, quase hesitante — E eu gostaria que ficasse para sempre. Disso você já sabe.
Rin piscou, surpresa. Havia algo diferente no tom dele — uma doçura que raramente se permitiu. Sesshoumaru contínuo:
— Eu não quero pressioná-la, Rin. Mas preciso ser honesto: há coisas que não posso controlar. — ele se voltou para ela, o olhar mais direto agora — O rei me chamou de volta. Coisas estranhas aconteceram no reino e temo que talvez um grande conflito se aproxime. E o laço entre nós ainda não foi previsto.
Ele fez uma pausa, como se as palavras pesassem na garganta. Rin ou observava em silêncio, os dedos entrelaçados, como se tivesse medo de respirar.
— O laço não é um contrato, Rin. — disse ele, com uma sinceridade que quase parecia doer — É algo… antigo, raro, até mesmo uma benção. Um elo entre almas. Quando ele é formado, um sente o outro, mesmo à distância, mesmo em meio à guerra.
Ele hesitou, buscando as palavras.
— Eu estaria vulnerável e isso me assustaria mais do que qualquer campo de batalha, mas ao mesmo tempo isso me deixaria aliviado também, saber que você estaria protegido sob meu nome finalmente.
Rin baixou o olhar, o coração acelerado.
— Eu não quero ser um fardo para você. — murmurou.
— Hum, fardo? — ele riu de leve, sem alegria — Não. Você tem sido um pouco de alegria em meio a tudo isso.
Houve um instante de silêncio absoluto. Rin pediu o olhar — e os dois se encararam, presos num tempo que sem exceção ter parado de existir.
— Eu não quero que decida por obrigações. — contínuo Sesshoumaru, num tom mais contido — Quero que aceite se o sentir também. Mas não temos muito tempo, Rin. Partirei daqui a dois dias, o laço ficará incompleto e precisaremos mais uma vez lidar com isso, mas quando retornar quero uma resposta sua.
Rin desviou os olhos, sentindo algo apertando o peito.
— Definitivamente farei de você minha esposa. — ele concluiu sem rodeios, com firmeza.
— Sesshoumaru…
Foi nesse instante que o som das batidas à porta os fez voltar à realidade. Sesshoumaru desviou o olhar, recompondo-se.
— Milorde a senhorita Asano está aqui. – Mei disse, hesitante.
A serenidade que restava se partiu. Sesshoumaru franziu a testa e fechou os olhos por um instante, voltou a ficar tenso. A porta se abriu, e uma mulher entrou sem esperar autorização.
— Como você demorou muito a responder, você entende que posso entrar. — disse, cada palavra medida com precisão.
Rin voltou-se para uma presença inesperada. A mulher era alta, de beleza marcante, traços elegantes e refinados; os cabelos escuros caíram impecáveis sobre os ombros. O vestido, feito de tecidos finos, destacava ainda mais a postura perfeita com que ela atravessava o escritório e um corpo bem delineado. Ela andava com a confiança de um caçador de animais, com um meio sorriso discreto nos lábios tingidos de vermelho vivo.
Sesshoumaru franziu o cenho, uma sombra de esperança surgindo em seus olhos.
- Kagura. — disse ele, erguendo-se — O que está fazendo aqui? Deve ter sido algo muito importante para ter encarado essa “viagem entediante”, como você sempre diz.
Kagura sorriu, mas não era um sorriso amigável. Ela comentou a sala brevemente antes de olhar diretamente em Rin.
— Quer mesmo que eu responda? Sempre acreditei que fosse mais inteligente fazer isso, Sesshoumaru. — comentou, enquanto o olhar deslizava de Rin até ele, carregado de uma crítica que dispensava palavras.
Rin teve uma sensação nítida de que já estava no tempo demais. A mulher o chamara pelo primeiro nome — intimidada o suficiente para denunciar uma proximidade antiga, talvez mal resolvida, na qual ela não tinha nenhum direito de se envolver.
— Com licença, meu senhor. — disse, inclinando levemente a cabeça antes de se virar em direção à porta.
— Não há necessidade de se retirar só porque eu cheguei. — afirmou Kagura, com um conhecimento que soava ensaiada demais para ser genuíno — Tenho certeza de que podemos ter uma conversa encantadora… nós três.
— Pode se retirar, Rin. — disse Sesshoumaru, firme — Acertamos os detalhes sobre amanhã mais tarde.
Kagura atraiu Rin sair com um meio sorriso — o tipo de sorriso que não chega aos olhos.
Assim que a porta se fechou, ela soltou uma risada curta.
— Não preciso dizer o quanto isso é patético, não é? — comentou, sentando-se com graça calculada. — Tão jovem… e tão sem graça. Tão… freira. – ela riu, balançando a cabeça — Chega a ser embaraçoso.
Sesshoumaru se encarou com expressão impassível.
— Achei que seria chamado de patético você ter vindo aqui depois da nossa última conversa. Deixei bem claro que não havia volta entre nós. Aliás, Kagura, deixei isso claro desde a primeira vez: não teria nada sério entre nós.
Kagura suspirou dramaticamente.
— Eu preciso ver com meus próprios olhos esse negócio de laço. Mas visto pelo não tem funcionado muito bem, já que sua parceira ainda é de hábito. Estou errado?
— Isso não é da sua conta. — respondeu Sesshoumaru, frio.
Ela estava satisfeita, satisfeita em vê-lo incomodado.
— Meu Deus Sesshoumaru o que essa mulher pode lhe oferecer que seja tão atraente? Ela não tem classe, não tem vaidade, nem ambição. Ah é a pureza?! — Kagura riu com escárnio – Sabe, fico pensando quanto tempo isso vai durar. Você sempre foi assim: troca de namoradas constante, corações partidos… mas sempre voltava para mim. A freirinha aí sabe disso?
Sesshoumaru estreitou os olhos.
— Não ouse falar assim dela. Nem de mim. Não me trate como alguém dissimulado. – Sesshoumaru estreitou os olhos e cruzou as mãos sobre a mesa.
— Ah, então agora ficou sério. — Kagura riu, debochada — Quer dizer que vai pertencer a uma mulher só? Que lindo milagre.
- Kagura. — cortou ele, firme — O que realmente acabou. Não quero discutir isso de novo.
Ela pediu-se lentamente, aproximando-se um passo.
— Eu não acho justo, Sesshoumaru. — disse, a voz baixa, contribuições de orgulho ferido — Você nunca acreditou no compromisso até agora. – fez uma pausa, amarga — Não é fácil aceitar que, depois de tantos anos, foi justamente uma estranha que conseguiu aquilo que eu nunca tive.
Sesshoumaru permanece em silêncio, o olhar duro.
— Não estamos falando de um relacionamento comum Kagura, de um casamento arranjado ou coisa assim. Estamos falando de um laço de parceria. É algo muito maior do que o que tivemos. – ele disse vendo Kagura ficar vermelho de raiva – Eu não estou desprezando o que tivemos, só quero dizer que as coisas mudaram, mas não foi minha culpa.
— Que divertido, Sesshoumaru. Vá para o inferno com o seu laço! – falei ela e se alguém estava passando nos corredores naquele momento a escutaria – Agora eu não significa nada mais para você? Você, um homem renomado, acha isso justo? Não há no Éden alguém que não saiba sobre nós e que não acredite quem acabaria em casamento.
Percebendo que perdeu o controle Kagura respirou lenta e profundamente, clamou e foi até a janela olhando os campos ao longo, demorou uns minutos ali em silêncio.
— E eu entendo que você está chateada. – disse Sesshoumaru com um tom suave – Mas sua vinda aqui não facilita as coisas, só torna mais complicada.
— Bem. Acho que estou excedendo um pouco. – fez uma pausa longa recompondo a postura e olhando para ele – Mas não posso te dar as felicitações por isso.
Sesshoumaru acabou de chegar com a cabeça.
— Mas já que estou aqui não espero menos atenção de você depois de tanto tempo do que me mostrar a sua casa. Não vou perder minha viagem.
— Você nunca se interessou por Éden antes. — respondeu ele — Estou muito ocupado nesse momento.
— Bom, não vou embora sem ver nada. — disse ela, voltando a se sentar — Não seria muito… digno de mim.
Sesshoumaru bufou, exausto.
— Não me lembro de você ter sido tão insistente antes.
— Talvez se lembre de outras coisas mais relevantes, como sou boa na cama por exemplo. — retrucou ela, cruzando as pernas mais longas.
Mas então seu olhar se estreitou, curioso.
— Uma última pergunta… — murmurou, inclinando o corpo para frente e simulando um olhar de dúvida — Você está celibato desde que voltou?
Sesshoumaru respirou fundo, o temperamento quase escapando.
- Kagura. — disse apenas com uma nota profunda de advertência na voz.
Ela riu alto, satisfatório.
— Mas fazem meses Sesshoumaru! Talvez agora eu realmente acredite nesse laço.
Sesshoumaru abriu uma porta para ela, sem disfarçar o incômodo. Kagura passou por ele com elegância, lançando um último olhar provocador enquanto saía do escritório. Sesshoumaru transferiu Kagura pelos corredores com passos firmes, tentando manter a visita o mais breve possível. Ela, por outro lado, parecia saborear cada detalhe — os quadros nas paredes, as janelas largas, as tábuas do piso impecavelmente limpas. Quando chegou à cozinha, o ambiente estava movimentado. Kagome conversou com Kaede e algumas criadas, apresentando os últimos itens para o chá da tarde. Rin também estava ali, amassando uma massa para pão.
A presença de Sesshoumaru com Kagura fez com que ele mudasse imediatamente. As criadas trocaram olhares discretos — alguns de surpresa, outros de cumplicidade e alguns de pura especulação. Kaede relaxa as sobrancelhas. Kagome arregalou os olhos, mas recuperou a compostura num piscar.
E foi então que Reika — que arrumava xícaras sobre a mesa lateral — extravagância dos olhos. Ela paralisou. Por apenas alguns segundos. Segundos em que o rosto dela perdeu toda a cor. Reika reconheceu Kagura imediatamente. O olhar da criada deslizou de Kagura para Sesshoumaru… e então para Rin. " Então era essa a mulher. Aquela que, no passado, muitos acreditaram que Sesshoumaru acabaria escolha. Bela. Rica. Elegante." Uma rival mais a sua altura – concluiu Reika. Kagura, por sua vez, notou o olhar de Reika, mas apenas se concentrou com ironia e passos lentos, como se estivesse acostumada a ser reconhecida por onde estava passando.
Kagome tratou de intervir rapidamente, sua cortesia funcionando como um escudo.
— Senhorita Asano, é um prazer e também uma surpresa recebê-la em nossa casa. Espero que se lembre de mim.
Kagura ofereceu com a cordialidade de quem veste uma máscara perfeita.
— Senhora Taishou. Claro que lembro. — inclinado a cabeça com elegante — Sempre tão educado… e tão diplomático. Uma anfitriã a altura desse lugar tão magnifico.
Enquanto elas conversavam, Reika se movia sutilmente de Rin, sem tirar os olhos de Kagura.
— Você faz ideia de quem é ela? — sussurrou, baixo o suficiente para não ser ouvido além de Rin.
Rin virou o rosto, calma, mas atenta. Lembrava-se vagamente do nome Asano.
— Não. — respondeu simplesmente.
Reika felicidade com amargura — um sorriso pequeno, duro.
— Talvez devasse saber. — murmurou — Há pessoas que nunca deixam, de fato, a vida do senhor.
Rin franziu o cenho, mas não reagiu. Reika se atrasou antes que pudesse responder, voltando às suas tarefas com um ar de superioridade amarga, como se dissesse silenciosamente: Eu sempre soube quem realmente pertence ao lado dele.
— Gostaria de me acompanhar para um chá no terraço? A tarde está agradável. –disse Kagome.
Sesshoumaru soltou um suspiro discreto — rompimento puro. Kagome havia acabado de salvá-lo de um desastre social.
— Será um prazer. Sabia senhora Taishou que nossas famílias tiveram as mesmas tutoras? As melhores de Éden. Deve ser por isso que é tão bem educado. E a gravidez fez bem, continua elegante como sempre. — respondeu Kagura, mas antes de seguir, voltou-se para Rin com um projeto desinteresse — Creio que não foram apresentadas como se deve. Isso foi falta de cortesia por parte de Sesshoumaru. Sou Asano Kagura. – ela era sincera, mas o sorriso era frio.
Sesshoumaru se retesou, pronto para intervir caso fosse necessário. Rin inclinou-se para avançar a cabeça, mantendo a educação intacta.
— Eu sou Rin. É um prazer.
– Encantador. — murmurou Kagura, analisando-a mais uma vez com olhos que ponderam, pesar e julgar ao mesmo tempo – É criada aqui?
O ar na cozinha ficou suspenso por um momento, não havia nenhum barulho, somente o silêncio pesado e constrangedor. Sesshoumaru abriu a boca, mas Rin foi mais rápido respondendo com firmeza.
— Não, sou uma convidada de Lorde Taishou. Vim da capital.
Sesshoumaru arqueou uma sobrancelha surpresa, mas também satisfeito.
— Interessante. – respondeu Kagura com um olhar estreito.
— Vamos, senhorita Asano. — chamou Kagome, abrindo a porta que dava para o terraço — Nosso chá será servido lá fora. Não gostaria que esfriasse.
Kagura manteve o olhar em Rin por um segundo a mais do que o necessário — um silêncio suspenso de interesses não ditas. Por fim, voltei a sorrir, coloquei o leque fechado sobre o pulso e caminhou até Kagome.
— Conduza-me, senhora Taishou.
As duas desapareceram pela porta, acompanhadas pelas turmas que se apressaram a carregar a louça. Sesshoumaru dorme na cozinha por um instante, olhando em silêncio para o local onde Kagura estivera. Seus ombros relaxaram lentamente, como se o peso daquela presença finalmente tivesse deixado o ambiente.
Rin desviou o olhar para a mesa de trabalho, voltando à tarefa com a mesma calma de antes.
Mas Sesshoumaru viu uma mudança sutil no ar — algo que ele teria preferido que Rin nunca precisasse sentir. E o comentário de Reika ecoava na mente de Rin como pedra lançada em água:
Há pessoas que nunca deixam a vida do senhor.
Rin não comentou nada. Não demonstrou incômodo. Ainda assim, compreendeu perfeitamente.
A noite caiu silenciosa sobre o Éden, trazendo consigo um vento frio que descia das montanhas e fazia as janelas tremerem levemente. A casa, tão movimentada durante o dia, agora estava preocupada num sossego profundo — apenas passos distantes e o farfalhar das folhas quebravam o silêncio.
Depois do jantar Rin subiu as escadas lentamente, ainda sentindo na pele a sombra dos acontecimentos ocorridos naquela tarde: a presença imponente de Kagura, os olhares sutis das criadas, a expressão tensa de Sesshoumaru, as perguntas desconcertantes respondidas por Kagome depois.
Quando entrou em seu quarto e fechou a porta, o silêncio pareceu mais pesado do que o habitual. Foi então que viu, sobre a mesa, o envelope claro que tinha guardado pela manhã — a carta da Irmã Kaori, ainda fechada, aguardando seu momento. Rin acendeu a lamparina com as mãos suaves. A chama trêmula, lançando uma luz dourada sobre as paredes simples e sobre o selo branco da Ordem das Rosas Brancas. Sentiu saudades do lar que ela conhecia antes de Éden, antes do laço, antes de Sesshoumaru. Assim que os olhos dela percorreram as primeiras linhas, Rin soltou um pequeno riso — suave, quase incrédulo. Kaori escreveu como conversamos: rápida, sincera, afetuosa e, acima de tudo, impiedosamente honesta.
Rin
Se você não responder essa carta, eu mesmo vou até Éden puxar você pelo hábito. Sinto falta de você, das conversas nossas até tarde escondidas da madre superiora, das aulas na escola e das nossas idas a feira ouvir o velho contador de histórias.
A irmã Hanna tentou cantar seu hino favorito sozinha ontem e… bom, apesar do Senhor resolver nos testar com aquele som. Até a Madre Kirara abriu um olho no meio da oração.
Agora, vamos falar do assunto que eu sei que você está evitando desde o minuto em que saiu daqui: o laço.
Sim, Rin.
O laço!
Aquele que marcou você ao homem mais bonito e desejado do reino e também fez a mulher mais invejada de Verdânia.
Quero saber:
Lorde Taishou está cuidando de você como deve? Está tudo bem entre vocês? Você está apostando? Ele já conquistou seu coração? Você não se casou sem minha presença, não é?
Aqui na capital está tudo muito inquieto. Soldados entrando e saindo, gente correndo de um lado pro outro, muita fofaca, e sermões intermináveis sobre “ordem divina” e “proteção espiritual”. Há rumores de ataques em vilas próximas e estradas fechadas. Quando começa uma frase repetir assim, é porque ninguém sabe de nada e está com medo.
E, por último:
Você pretende voltar um dia para nos visitar?
Não é cobrança — é saudade mesmo.
Mas quero saber o que você sente no coração, longe daquelas paredes e perto… dele.
Escreva, Rin. Nem que seja só para dizer: “estou viva e estou bem”.
Todas mandam lembranças e abraços.
Com amor
Kaori.”
Rin leu devagar, cada linha, cada pergunta, cada preocupação — sentindo o peso de ser lembrada de quem era, de onde veio, e do que tinha ter um laço que talvez não compreendesse por inteiro. As palavras sobre o laço tocaram mais fundo. Rin fechou os olhos e trouxe uma carta contra o peito. O silêncio da noite pareceu responder, acolhendo-a. Rin não sabia qual era a resposta para Kaori. Não sabia nem qual era a resposta para si mesma. Mas, pela primeira vez, vemos que o mundo que carregava dentro dela — o medo, a fé, o laço, Sesshoumaru — havia se tornado grande demais para caber na antiga vida que deixara para trás. Ela se deitou devagar, colocando a carta sob o travesseiro.
O último pensamento antes de adormecer não foi sobre a guerra, nem sobre o convento, nem sobre Kagura. Foi uma lembrança suave da voz de Sesshoumaru naquele mesmo dia:
“Eu quero que você fique.”
Notes:
Olá pessoal!
Então chegou Kagura, "a mulher da vida de Sesshoumaru". Tadinha da Rin.
Estou pensando em traduzir essa história para o inglês, seria uma boa idéia?
Tentarei postar no final desse mês mas é provável que volte em janeiro. No próximo capítulo tem muita tensão!
Boas festas para todos! E obrigada por sempre acompanhar! Conto com vocês!

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